Diariamente elas lidam com os números que garantem a saúde financeira de empresas da cidade. Acompanhe nesta reportagem, a trajetória de vida de duas riograndinas que da vida simples e bastante humilde na juventude, souberam através da seriedade e da dedicação total a uma rotina árdua de trabalho, somar, multiplicar e dividir com os seus clientes e funcionários, o conhecimento necessário para se firmar no mercado.
Assim como os vocalistas Humberto Gessinger e Duca Leindecker, que pelos seus distintos sobrenomes colocaram o nome da dupla que formaram de Pouca Vogal, as nossas entrevistadas de hoje também compartilham dessa mesma característica. Só não cantam. Mas, operam os números como ninguém. Além das consoantes do sobrenome e também da prática com os números, Elisa Kaoru Chim Miki e Denise Freitas Mackmillan são naturalmente rio-grandinas e possuem em comum a mesma idade: 37 anos.
Escrito por Bruno Zanini Kairalla - bruno.kairalla@gmail.com
Editora Rosane Leiria Ávila - rosane.jornalagora@gmail.com
Fotos: Bruno Kairalla/Jornal Agora
Ambas exercem o ofício de contadoras e são graduadas no curso de Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg). Além dessas pequenas similaridades, a trajetória de vida delas possui uma singela semelhança, numa história de garra e muita determinação. Trajetória essa que você começa a acompanhar nos parágrafos abaixo. Boa leitura!
O início
Elisa morou na Quitéria, bairro presente na zona rural do Rio Grande, próximo à Ilha dos Marinheiros, até os seus 6 anos. “Minha mãe era professora e lecionava no bairro. Morávamos junto à escola. Meu pai, nascido no Japão e naturalizado brasileiro, aos 24 anos, era um agricultor. Quando a minha irmã mais velha completou idade para cursar a 5ª série, viemos morar na cidade porque na Quitéria só tinha até a 4ª”, recorda ela. Já na cidade e apesar das diversas dificuldades encontradas pela família, Elisa afirma que os pais sempre priorizaram os estudos na vida de suas filhas. E com esse conceito, Elisa foi amadurecendo.
“Tendo uma mãe professora e um pai japonês, sempre fomos muito exigidos. O muito bom para meu pai não era o suficiente. Cursei o 2º grau técnico porque queria muito trabalhar. A escolha pelo curso técnico que estava ao meu alcance foi fácil, visto a minha afinidade com as ciências exatas”, aponta Elisa. Ela ressalta que desde o início sabia que queria ser uma contadora. Mesmo quando estava cursando o técnico. Com a sua notória aptidão com os números, desde jovem, ela continua em suas recordações:
“Trabalhei como estagiária na CEEE nos primeiros dois anos do curso técnico. No último ano, estagiei em um escritório de contabilidade, já buscando meu aprimoramento para abrir o meu próprio escritório”, lembra Elisa, que, enquanto estagiava, já juntava suas remunerações para a aquisição de tudo aquilo que precisaria para abrir o seu escritório.
A cada final de mês, o seu objetivo de vida se tornava ainda mais forte. Pouco tempo depois, ela começou a colheita de suas metas: “Comprei mesa, cadeira, máquina de escrever, enfim, o mínimo necessário. Logo que me formei já comecei a exercer a profissão. Abri o meu próprio escritório, em 1991, na sobreloja de confecção que minha mãe e minha irmã mais velha mantinham em sociedade na Galeria Conde”, detalha.
Elisa comenta que no início contava apenas com três clientes, sendo eles: “O comércio da minha mãe, do meu pai e de um amigo da minha irmã. Mas logo vieram os outros. Na verdade, um cliente trazia o outro e, assim, o trabalho ia se multiplicando. Sempre por uma indicação”, evidencia ela.
Para Elisa, as indicações, bem como o seu crescimento profissional, estavam diretamente ligadas à seriedade com que executava o seu trabalho. “E, assim, fui seguindo. Troquei de escritório, fui melhorando, contratando funcionários, até chegar na Denise, que ingressou como minha funcionária, conquistou o seu espaço e foi por mim convidada para se tornar a minha sócia”, complementa ela.
Denise
Filha de pescador artesanal e mãe do lar, Denise foi criada no bairro São Miguel. Assim como sua amiga e sócia, ela também decidiu desde muito nova a contribuir com a sua família. “Desde muito cedo, comecei a trabalhar ajudando minha mãe na limpeza do pescado. Meu pai trazia do mar siri e camarão e isso me ensinou a valorizar o trabalho, ser responsável e dedicada a tudo o que sempre faço e desempenho”, avalia.
Denise revela que quando concluiu o seu primeiro grau, o primeiro pensamento que lhe ocorreu foi fazer um curso técnico para tentar se colocar o mais rápido possível no mercado de trabalho. Entretanto: “Confesso que não sabia direito de que se tratava o curso de técnico em contabilidade, mas aos poucos fui me apaixonando por tudo o que aprendia. Quando estava cursando o 3º ano consegui um estágio no escritório de uma forte loja de calçados que tínhamos na cidade”, recorda ela.
Dentro das extintas Lojas Graciela, Denise exerceu a função de auxiliar de contadora. Passado o contrato de estágio, ela foi efetivada e na loja ficou por mais três anos. Antes de se encontrar pela primeira vez com Elisa, ela ainda trabalhou em outros dois escritórios de contabilidade, locais em que admite que adquiriu experiência profissional. Em 1998, Denise conheceu Elisa através de uma amiga em comum e, em agosto desse mesmo ano, Denise passou a integrar a equipe de funcionários de Elisa. “Ao lado dela, tive a oportunidade de aprimorar meus conhecimentos. Em 2002, fui convidada por ela a ser sócia do escritório, e cá estamos juntas até hoje”, resume ela.
A sociedade
Da sociedade firmada há sete anos, nasceu a empresa Miki & Mackmillan Associados. Localizado no centro da cidade, o escritório atende micros, pequenas e médias empresas, oferecendo os serviços de escrituração contábil, fiscal e outros ligados à área de departamento pessoal. Entre o comércio, a indústria e demais serviços, a Miki & Mackmillan presta atendimento para 115 clientes, que são atendidos por cerca de 30 funcionários. Fazem parte da equipe da empresa técnicos em contabilidade, contadores, administradores e economistas.
A alma da empresa
Um dos conceitos adotados tanto para Elisa quanto para Denise e que mantém fortificada a base da empresa é que dentro do escritório delas os funcionários devem ser tratados como a alma da organização. “Assim como um professor se realiza ensinando um aluno, nós nos realizamos ensinando a cada dia os nossos funcionários. Ensinando o trabalho, principalmente através do exemplo. Ensinando a serem colaboradores de fato. Tratamos todos com muito respeito, pois admiramos o crescimento deles, ficamos felizes quando evoluem de todas as maneiras”, pontua a dupla.
Mas nem só de trabalho é feito os ensinamentos e contatos diários. Um dos segredos do bom convívio, do sucesso na prática das tarefas realizadas, bem como o da harmonia na empresa, é investir e apostar fortemente nos momentos de integração e confraternização entre todos. A partir desse ideal, de buscar a satisfação e o bem estar da equipe, é que nascem as festas temáticas, como a de Dia das Bruxas realizada recentemente, ou até mesmo uma viagem de lazer para Camboriú no estado de Santa Catarina, transcorrida no último final de semana.
“É comum confraternizamos as nossas alegrias alcançadas”, comentam as sócias, que além do lazer e da diversão, apostam também no crescimento profissional de cada um, ao oferecer cursos de capacitação, informação e aprimoramento das funções de trabalho. Com isso, os resultados positivos, na visão delas, são mais do que garantidos.
Quanto aos clientes, dizem fazer parte da vida deles com a satisfação de poder ajudar em seus crescimentos evolutivos. Se pudessem traduzir de forma sucinta o que torna uma empresa uma sobrevivente do mercado, elas apontam: “Seriedade, disciplina, organização, muito trabalho e atualização constante tanto da diretoria quanto da própria equipe, como um todo”, salientam.
O que Elisa ou Denise buscam para uma empresa que já possui o seu devido espaço nos próximos dez anos? “Aprimorar e capacitar cada vez mais os nossos colaboradores para que eles permaneçam conosco e para que, assim, possamos crescer e evoluir todos juntos. Queremos a Miki e Mackmillan, ou seja, nossos funcionários e nossos clientes cada vez mais fortes e satisfeitos com o desenvolvimento de nosso trabalho”, argumentam.
Poder feminino
Admiradas pelos funcionários, as duas definem de forma taxativa a extensa e pesada carga de trabalho como dinâmica e empolgante. Uma rotina ditada pelo atendimento das 115 empresas, das diversas reuniões executadas durante o dia, além dos cursos, das assessorias e também das viagens de trabalho. Tudo quase que ao mesmo tempo. “A organização é tudo. Atendemos todos os clientes que solicitam ser atendidos por nós, sem distinção alguma”, acrescentam elas, que acreditam ser este um dos diferenciais da consultoria prestada.
Fora isso, ainda tem o exercício permanente do papel de mãe, donas de casa e esposas. Elisa é casada e tem dois filhos: Karoline, com 13 anos, e Gabriel, de 6. Denise também é casada e é mãe do jovem Henrique, de 8 anos. Com isso, perguntamos à dupla se é difícil conciliar a vida de empresária, administradora, esposa e mãe. A resposta vem de forma direta, sem rodeio: “Dá para conciliar tudo, basta organizar o tempo. Dizer que não se tem tempo para isso ou aquilo é uma desculpa. As pessoas usam este termo para evitarem o esforço”, expõem.
E fora do ambiente de trabalho, o que elas costumam fazer nos momentos de lazer? Elisa pratica diariamente a yôga do método De Rose. “É o meu momento”, declara ela. Já Denise, prefere concentrar o seu tempo na família. “O tempo é muito corrido, mas tem horário para tudo sim. Somos donas de casa, temos que ir ao mercado, organizar o cardápio da semana, levar os filhos à escola, ao médico, mas os finais de semana são dedicados exclusivamente para a casa e a toda família”, garante ela.
Um poder de síntese das multitarefas, que realmente só pode ser desempenhado por mulheres. E por falar no gênero, elas comentam que até uma época específica, a equipe de funcionários da empresa estava composta unicamente por elas. Com isso, cabe a nós fazer duas últimas perguntas: “Muita mulher junto, não dá confusão?”. Como quem não gostou muito da pergunta, a resposta vem apenas em forma de não e ponto final.
“Não permitimos climas. Sempre que percebemos algo, tentamos criar rotinas para eliminar. Mas o grupo todo é muito coeso, todos são amigos, quando entra alguém que não se enquadra no perfil e na proposta de trabalho, automaticamente, afastamos essa pessoa da equipe”, afirmam. E o que para elas diferenciam as mulheres dos homens no ambiente de trabalho: “Mais competentes não seria correto dizer, mas elas são mais organizadas”, finalizam.
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