No País em que provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) são fraudadas, a política não lida muito bem com a ética e mulatas seminuas desfilam no evento símbolo de uma nação, a hipocrisia e a falsa moralidade mostram ainda toda a intolerância de um povo em plena era moderna da informação.
Escrito por Bruno Zanini Kairalla - bruno.kairalla@gmail.com
Editora Rosane Leiria Ávila - rosane.jornalagora@gmail.com
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A polêmica que envolveu a jovem Geisy Arruda invadiu não só a casa do povo braisleiro, gerando em muitos o sentimento de indignação, mas mobilizou também a atenção da imprensa mundial.
Uma das melhores frases sobre o tema foi exposta por usuários do twitter: “No Brasil, a educação é tão importante que o debate do momento é a cor e o tamanho do vestido de uma estudante”.
Confira agora a opinião de algumas rio-grandinas que se colocam no lugar da protagonista central desta história.
ENQUETES - Fotos Bruno Kairalla/JA:
>> Recalque feminino
Estudante do segundo ano de Direito, Camila Feijó Rijo é uma linda e loira mulher de 18 anos que, assim como Geisy, gosta de se sentir bonita e de transmitir sensualidade. Vaidosa, nossa equipe de reportagem encontrou a estudante escolhendo uma roupa na loja Studio Max.
Quanto ao caso Geisy, ela declara que o fato está intimamente ligado ao comportamento feminino, grupo que começou o protesto contra a estudante, e que, por serem competitivas, as mulheres acabam tendo atitudes invejosas.
- Geisy é uma mulher bonita, que transmite sensualidade, e isso infelizmente gera um recalque nas mulheres -, evidencia Camila.
Quanto a sua teoria, ela admite:
- Quando estamos numa festa, as mulheres param de cuidar os homens para reparar na forma que as outras estão vestidas e se estão melhor. Se tu usas uma roupa diferente, elas já olham diferente. Ou seja, elas discriminam e julgam. Não sou hipócrita, pois também faço isso. Reparo no ambiente e nas outras mulheres. Já os homens, independente de uma mulher vestir uma roupa decotada ou toda fechada, se eles sentirem vontade, vão olhar da mesma forma.
Para Camila, ninguém que não pague as suas contas pode intervir no jeito de vestir. Quanto à postura conservadora da universidade, a jovem também opina: - Uma perda de tempo. Todas as instituições de ensino têm problemas maiores para se preocupar.
Apesar de afirmar que jamais iria para uma faculdade com aquele tipo de vestido, usado pela estudante paulista, a rio-grandina afirma que achou o modelo lindo e que até possui um modelo parecido.
Há nove meses namorando, Camila comenta que seu companheiro concorda com a avaliação de que tudo partiu do ciúme feminino. Entretanto: - Ele já disse que a namorada dele não vai vestida daquele jeito para a universidade (risos) -, dispara a jovem.
>> Quem pode julgar?
- Cada um tem o seu estilo. Geisy foi hostilizada pelo que vestia e não pela pessoa que é. Ninguém é perfeito o bastante para julgar os outros -, defende Francielen Borges, apesar de achar que a acadêmica de Turismo exagerou no tamanho de sua roupa.
Aos 19 anos, a estudante de cursinho pré-vestibular, que se prepara para ingressar na Furg, no curso de Pedagogia, define a polêmica como exagerada.
- A roupa não era a apropriada para uma universidade, mas não precisava de todo esse escândalo. Uma pessoa tem o direito de se vestir como quer e ninguém tem o direito de se meter -, comenta. Francielen expõe ainda que as mulheres sofrem muito preconceito e que ela mesmo por ser loira não escapa das tradicionais piadinhas que, segundo ela, incomodam qualquer mulher.
>> Agressão moral
A loira cozinheira Daniva Timm, 43 anos, também concorda com Francielen quanto ao curto vestido usado por Geisy, porém, salienta: “Acho que o comprimento de uma roupa não altera em nada a identidade ou personalidade de uma pessoa. Além de discriminá-la, essa menina sofreu uma violência moral por sua atitude”, comenta Daniva.
>> Povo hipócrita e preconceituoso
As amigas Amanda Martins Dutra, de 21 anos, e Keli Cristine Soares Vieira, também de 21, falam enfáticas:
- O fato só demonstra o quanto o povo brasileiro é preconceituoso e hipócrita -, afirmam elas, ao cruzarem o fato que aconteceu com Geisy com o País dos escândalos políticos e das mulatas nuas do Carnaval.
- É muito feio para um país vender para o mundo inteiro essa imagem de machista, logo nos dias atuais. Há problemas mais sérios neste País para serem discutidos -, explanam.
Amanda, funcionária de um restaurante, e Keli, acadêmica do segundo ano de Direito, afirmam que jamais usariam aquele tipo de vestido para ir à universidade, porém, cada um deve ter o direito de se vestir como quer. “É um direito natural de uma pessoa”, observa Keli.
Para as amigas, a atitude só não foi mais machista, porque quem começou foram as próprias mulheres da universidade. "Tudo começou pela inveja das estudantes”, aponta Amanda. Elas discorrem ainda que, se pudessem, participariam de um protesto em defesa da estudante paulista.
GEISEY ARRUDA:
- Entenda o caso:
Vítima de um dos mais insanos atos coletivos nos últimos tempos, Geisy Vila Nova Arruda, 20 anos, 1,70 metro, loira, olhos verdes, é a terceira dos quatros filhos de um casal de classe média baixa de Diadema, cidade do ABC paulista. Ela dstuda no primeiro ano de Turismo da Universidade Bandeirante, campus São Bernardo do Campo, também no ABC.
No dia 22 de outubro, a estudante de turismo foi hostilizada por mais de 700 alunos da Universidade Bandeirante (Uniban) de São Paulo por usar um minivestido rosa. Para sair segura do local, além de ser coberta por um jaleco, ela foi escoltada pela Polícia Militar até a sua casa. Os alunos a atacaram com palavrões, termos chulos e ameaças de agressão e de estupro.
- Enquanto eu andava escoltada pelos policiais, o pessoal gritava feito louco. Um detalhe curioso: os homens ficaram mais descontrolados e as ofensas verbais aumentaram quando as mulheres se aproximaram e fizeram críticas. Acho inveja de mulher, quando quer competir ou criticar outra mulher, a pior coisa do mundo. Nada é mais terrível. Muitas das que gritaram pareciam estar colocando para fora uma inveja pelo meu jeito livre e alegre de ser. Uma das mais enlouquecidas era uma menina que, inclusive, pega ônibus comigo. Berrava de forma descontrolada. O mais curioso é que, no ônibus, ela sempre fica quietinha -, declarou Geisy, após o ocorrido.
Outra declaração:
- Tive medo e muita vergonha. Era como se eu fosse um bicho, uma criminosa. Fiquei em estado de choque. Não acreditava que aquilo estava acontecendo comigo. Ainda estou assustada. Diga-me uma coisa: se eu fosse prostituta, existiria uma justificativa para me agredirem? Então está correto sair pelas ruas identificando prostitutas para bater ou cometer estupro só pelo fato de elas serem prostitutas? Claro que não. Isso é preconceito, retrocesso, burrice, estupidez. Uma falta total de civilidade -, reflete ela.
Repercussão:
No último domingo, 8, a Uniban anunciou que tinha decidido expulsar Geisy devido à sua "flagrante falta de respeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade". A onda de protestos propalados, inclusive, pela imprensa mundial, levou a instituição de ensino a readmitir a estudante dois dias depois de expulsá-la.
Na madrugada do dia 9, novos protestos com a inscrição “Faculdade do preconceito. Quem deveria educar é o primeiro a criticar”. Essa foi a segunda pichação no muro da Uniban.
Repercussão mundial: Geisy foi o segundo assunto mais acessado por internautas de todo o mundo na última terça-feira, de acordo com informações do site da CNN. Na página, o "caso " ainda aparecia na quinta-feira entre os 15 vídeos mais acessados.
Na quarta, dia 11, cerca de 150 alunos da Universidade de Brasília (UnB) ficaram nus e seminus numa manifestação de apoio a Geisy Arruda. "Pela liberdade de expressão e o fim da opressão machista. O corpo é meu", diziam alguns cartazes usados no protesto dos estudantes. Na capital gaúcha, alunos da UFRGS também realizaram uma manifestação na última segunda-feira.
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