Com o mercado aos pés de suas habilidades, as mulheres não só despontam nos cargos de chefia, como também já representam boa parte do empresariado brasileiro.
Como?
Atualização, ousadia e dedicação ao trabalho, sem esquecer de todo o contexto da vida.
Bons observadores, eles, os maridões, aliam-se a elas. Mas, nem sempre a união faz a força. O segredo está na cumplicidade e no jogo de cintura.
Sociedades entre casais:
a base da cumplicidade!
Por Bruno Zanini Kairalla
- Colaboração: Fernanda Miki
- Dados: Ana Cristina Dib [PEGN On line]
- Fotos: Bruno Kairall / Divulgação
Da cama para a mesa ou para o local de trabalho.
Duas rotinas, uma mesma realidade que se alterna todo dia.
Para alguns, a solução para uma nova vida, repleta de desafios.
Para outros, a necessidade arma o espetáculo, sem promessas de uma boa expectativa.
Especialistas apontam que a sociedade entre casais, quando planejada e estruturada, dá certo e se tornam duradouras.
União de habilidades que em comunhão geram sintonia e rentabilidade.
A intensidade da relação, entretanto, fica a prova, testa os limites e pode levar mais rápido ao caminho de uma irreversível separação.
>> Assim dá certo:
- Comunicação constante;
- Confiança/Respeito;
- Jogo de cintura;
- Bom humor é fundamental;
- Reconhecer o potencial de cada um
- Estimular o parceiro sempre que for necessário;
- Superar crises, sem gerar novas crises;
- Demarcar as responsabilidades e compromissos diários;
- Diferenças de opiniões: respeite-as, debatendo-as até ir ao encontro de alternativas;
- Em casa, criem a “Hora do Trabalho”. Somente nela, discutam a correria e o dia;
- Em lazer, saía por absoluto da rotina; crie programas ousados e diferentes;
- Dividam as funções domésticas, sem que o parceiro se sinta sobrecarregado;
- Cumplicidade: colaboração mútua, comunhão de ideias;
- Respeito a individualidade que desperta o interesse pelo o outro;
Pesquisa divulgada pelo International Stress Management do Brasil (ISMA-BR), casais que trabalham juntos entendem melhor as angústias e a carga horária do parceiro.
Entretanto, a produtividade também é elevada. Em geral, eles ficam cerca de 12 horas diárias no emprego, enquanto a média nacional é de 9 horas.
Porém, não raro a proximidade excessiva faz com que a relação caia na monotonia e o casamento entre em crise.
Viviane Scarpelo, psicóloga especialista em terapia de casais, afirma que relacionamentos afetivos entre sócios correm o risco de se desgastar mais facilmente porque limites não são respeitados.
Problemas da empresa são discutidos no café da manhã, no almoço, no jantar e em outros momentos em que o casal poderia descontrair, namorar ou conversar amenidades.
Neste clima, surgem as indiferenças e os problemas ficam ainda mais visíveis e agudos.
A falta de limite e a rotina voltada só para o trabalho pôs em xeque a união de Cláudia e Ronaldo (abaixo).
- Os momentos a dois eram raros. Não tinha mais sedução e nem conquista. Tudo o que eu fazia, ele estava junto. Além disso, como somos geniosos, era difícil um ceder diante de discórdia. Os conflitos ficam constantes e a situação insustentável, - conta Cláudia.
A empreendedora diz que no auge da crise ela e o marido chegaram a ficar dois meses separados. A separação serviu para perceberem o quanto se gostavam e dar novo rumo à vida a dois.
Depois de procurarem um terapeuta, passaram a respeitar mais a opinião do outro, a não levar trabalho para casa e a programar passeios. Eles também começaram a dividir e planejar melhor as funções de cada um na empresa. As mudanças solidificaram o casamento, que hoje já dura dez anos.
>> Erros comuns:
- Respeitar ao máximo o limite que há entre os laços afetivos do caráter profissional;
- Mas, quando uma área interferir na outra, discutam até exterminar o problema, sem que haja um retorno a mesma discussão provocada;
- Não se omita diante das divergências, “deixando para depois”
- Passar por cima das decisões do parceiro;
- Disputa de ego, de capacidade e competência profissional;
- Acreditar no “dono da verdade”;
- Confundir a intimidade com falta de respeito e liberdade de expressão, dando espaço para rispidez, ironias ou ainda piadinhas;
- Equilíbrio diante as situações estressantes é fundamental;
Quando o maridão vira “o sócio”!
EM RIO GRANDE
Convivência “massiva”
Há treze anos, eles são responsáveis por fazer um dos pastéis mais saborosos da cidade. Na movimentada rua Cristovão Colombo estão há oito anos e na região que abrange o bairro Cidade Nova, poucos são os que não conhecem a massa caprichada dos pastéis crocantes e fritos na hora pelo japonês, Yoshihiro Miyamoto, 60 anos, sob a supervisão da esposa, Dulce Mare Miyamoto, de 50.
Para trabalhar e ajudar o irmão numa tradicional pastelaria da Silva Paes, Yoshihiro se mudou com a esposa e o casal de filhos para Rio Grande há 25 anos.
Depois que decidiu trabalhar por conta própria, Yoshihiro convidou Dulce, que até então, tinha atuado só no comércio, para atuarem juntos no novo empreendimento, que seguiria no mesmo ramo.
Por cinco anos, o primeiro local de trabalho foi na rua Andradas. Na Colombo, a casa onde moram divide espaço com a pastelaria. Antigos moradores da capital gaúcha, dos 35 anos que eles contam do início do namoro, casados estão há 32.
Mas foi na rotina árdua de trabalho que eles conheceram melhor a personalidade, os limites e as habilidades de cada um. Ele é mais seguro, com dom único de conferir o ponto à massa. Ela, que como boa sagitariana se define mais organizada, cuida de todo o resto.
“Por um lado é bom, por outro é ruim”, responde Yoshihiro sobre trabalhar ao lado de sua mulher. Dulce acrescenta dizendo que o lado ruim se sobressai ao lado bom quando existe a dificuldade de separar a convivência familiar da profissional.
“Já aconteceu de brigarmos no trabalho. Em muitos casos, os problemas são pequenos, bobos, mas como a convivência é grande, eles ganham maior dimensão”, garante ela, que além do negócio administra o lar e a família. “A mulher sempre trabalha mais e com isso o estresse é dobrado”, justifica.
A função de cada uma nas atividades foi estabelecida desde o início. Enquanto ele põe a mão na massa e prepara os pastéis, é ela quem organiza o material de trabalho, cuida do caixa, frita e enrola os pastéis e atende a freguesia.
“O lado bom é que nós não temos patrões e também estipulamos os horários e condições”, fala Dulce, que também reconhece o outro lado da moeda, como não ter direitos trabalhistas, tipo o 13º salário, e tão pouco sabe o que é tirar férias nos seus 13 anos de atendimento.
“Aqui estamos de segunda à segunda, sem folga. É cansativo, mas como sempre trabalhei com público estou acostumada com essa rotina”, declara.
Quando as inevitáveis brigas surgem e o nível de estresse aumenta, Dulce conta como soluciona o problema: “Pego o meu cachorro, o meu filhote, e vou passear na rua”.
E se essa conturbada relação afeta a intimidade do casal? “Com certeza. Em muitos casos me sento na rua e nem entro em casa. Tomo um ar para respirar. Volto quando fico calma”, admite ela.
Dulce afirma ser a mais tranquila. “Ele não tem muita paciência e diz que eu sou chata, insistente e brigona. Mas o que mais me irrita é a desorganização. Como boa sagitariana, eu sou muito organizada e gosto de ver cada coisa guardada em seu lugar”, diz.
Mas, também destaca o que mais admira no seu marido: “A paciência que ele tem de fazer a massa do pastel. Um trabalho que eu canso só de ver. Se dependesse de mim, acho que já estávamos falidos”, diverte-se a simpática senhora.
Amizade é possível!
Trabalhar junto e administrar o casamento pode nem sempre dar certo, correto?! Mas, conforme Silvia Caetano de Azevedo, nada impede que um ex marido continue sócio e amigo.
Dos seus 44 anos, ela segue há 15 no comando da Street Locadora de Filmes e Livros. Durante a entrevista, Silvia garante que o trabalho em nada influenciou para o rompimento.
- Aqui, a nossa relação permanece a mesma de sempre -, salienta.
Uma sociedade que começou antes mesmo da entrada de Silvia no ramo quando a Street ainda era uma locadora de Video Games, dentro de uma modesta garagem em 1993, quando a locadora disponibilizava espaço para que os clientes jogassem no próprio local. Antes, porém, Silvia atuou por 12 anos como auxiliar administrativa da extinta rede de móveis, Lousadas.
Com a entrada da administradora na sociedade, seu instinto feminino e suas habilidades técnicas logo foram aguçadas. “Comecei a dar alguns palpites”, comenta. O primeiro filme em VHS foi levado por ela, que temeu não ter entrada de dinheiro suficiente para pagá-lo.
O sucesso da empreitada, porém, diria o contrário.
Ocorreu, então, a mudança para a rua General Abreu, esquina Caramuru.
Em 99, a Street mudou-se definitivamente para a Aquidaban, onde foram empregadas três amplas reformas na estrutura do prédio. As marcas que demarcam as duas antigas bancadas de atendimento no piso, ela mostra com um notável orgulho.
Orgulho que sente também pela iniciativa de adicionar em março do ano passado a venda e locação de livros.
Segundo Silvia, “os dois públicos combinam e possuem tudo a ver”. Filmes e livros que podem ser apreciados em meio ao espaço aconchegante do café, criado pelos sócios em 2008.
Quando questionada sobre a vida de casada e a profissional, ela é catedrática: "Hoje não estamos mais casados, mas de maneira alguma o trabalho influenciou na separação, até porque a sociedade continua absolutamente como antes".
Silvia tem dois filhos e ainda é amiga do ex marido. "Continuo ajudando ele, porque para os homens algumas coisas são mais complicadas, né", brinca ela.
Em se tratando dos filhos, a vida é a mesma de toda a mãe que trabalha, leva pra escola, busca, dá almoço, leva o menor e corre pro trabalho. No fim do turno a história se repete.
Na visão dela, é natural as mulheres terem mais garra do que os homens. "Conseguimos desempenhar várias coisas ao mesmo tempo".
As folgas de trabalho vieram depois de muitos anos de dedicação. Hoje, ela se policia para trabalhar um domingo sim e outro não. Férias, no entanto, em 11 anos, tirou apenas uma semana. "Se fossem duas, enlouqueço" diz, sorrindo.
Quando pode, aproveita ao máximo a sua folga. Gosta de sair com os amigos ou ficar em casa vendo um bom filme ou lendo um livro, com calma. No final de semana que celebra o Dia do Trabalhador, porém, o plantão é todo dela.
Em dose dupla
O gosto em comum por viajar levou Carla e Renan Lopes a dividir não só a casa como também a mesma área de trabalho.
Nove anos depois do casamento em 1986, criaram a Universal Turismo. A princípio focaram no turismo estudantil e no transporte executivo, mas, desde 2000, a empresa foi dividida.
Divulgação
Renan gerencia a parte de transportes e Carla o turismo, porém as decisões de ambas empresas são tomadas pelos dois.
"Acredito que por termos as mesmas decisões a tomar relacionadas ao nosso negocio, torna-se mais fácil de chegar à solução. Nos ajudamos mutuamente", indica.
Mas nem tudo é perfeito, quando estão em casa, não há escapatória e o assunto se volta ao trabalho.
Quanto a desgastes na relação, ela declara: "Pelo contrário. Estamos sempre com planos para a empresa e para a nossa vida familiar. As nossas filhas (foto abaixo) participam de tudo. O apoio delas é fundamental. Outra coisa que contribuiu é o fato de que qualquer resolução parte e está de acordo com os dois", garante ela.
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Em casa, a rotina, bem como as tarefas são divididas. Ela cuida da casa, enquanto ele da louça. Compartilham essa sintonia também nos piores momentos de crise que já tiveram, quando um se torna a base do outro.
“Ele completa ela e vice versa”, já dizia Renato Russo.
"Somos pessoas completamente diferentes. O Renan é calmo, analisa demais as situações e demora a tomar decisões. Eu sou mais prática, resolvo tudo com muita pressa e jamais termino meu dia com coisas por fazer. Sou muito ansiosa e não gosto de deixar nada para amanhã. Quando atuamos procuramos o equilíbrio", corrobora.
Apaixonados um pelo outro, bem como por aquilo que fazem, o casal finaliza: "Todo sonho carrega consigo energia suficiente para realizá-lo".
Acreditam nisso e fariam tudo novamente, sempre com amor.
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