Por JU Blasina**
Beleza...
Basta estampá-la no rótulo de um produto qualquer para atrair o olhar - e consequentemente -, o bolso feminino.
A beleza nos é oferecida como uma promessa milagrosa, de repente tirada do seu patamar inalcançável e posta logo ali, na prateleira mais baixa, ao alcance das mãos afoitas ou sobre a bandeja, como um brigadeiro de zero caloria que ilusoriamente sacia sem culpa, a mulheres famintas.
O absurdo que uma mulher é capaz de fazer para adquirir tal produto, não tem limites e nem é novidade: ocorre desde os remotos espartilhos asfixiantes as modernas cirurgias removedoras de costelas flutuantes...
O tempo passa e os valores que nos desvalorizam continuam os mesmos, pesando sobre nós na cintura de peão, na pele de porcelana, de pêssego, de seda...
Como se a beleza fosse algo alheio a nós, um desafio a ser conquistado, um produto a ser adquirido...
Como se a beleza fosse uma capa que pudesse ser vestida, nos tapando, nos cobrindo, nos oprimindo.
Quando falamos de beleza, estamos falando de um conceito estabelecido por uma sociedade idealista, mas estamos falando também de um estado de espírito, um sentimento necessário para a manutenção da autoestima - e que esta última é uma necessidade básica para a felicidade feminina, não restam dúvidas.
Verdade tão indiscutível é esta que pode ser usada como argumento para a obtenção de próteses mamárias (os famosos silicones) gratuitamente via sistema público de saúde.
Se é justo ou não, se é correto ou não, não cabe aqui tal discussão – deixemos os julgamentos àqueles que foram eleitos para fazê-los.
A questão em foco aqui é: a que ponto nós, mulheres, chegamos?
Até quando vamos nos submeter, torturar e espremer, encolhendo nosso amor próprio e muitas vezes arriscando nossas vidas, apenas para caber num molde que faz de nós tão pequenas, tão artificiais?
Quando vamos perceber que este conceito de beleza, culturalmente propagado e estampado na vitrine da vaidade, costura sobre nossos rostos uma máscara, uma mesma e inexpressiva máscara, apagando aquilo que faz de nós únicas e nos transformando em réplicas indistinguíveis, construídas em lote.
É triste saber que enquanto no oriente, as mulheres formam filas em hospitais para ocidentalizar os olhos e, com eles, sua identidade, sua expressão perante o mundo, no Brasil, muitas das nossas famosas mulatas se sentem mais belas quando loiras, lisas e languidas, do que quando cacheadas e curvilíneas.
Uma coisa é buscar ser o melhor que podemos ser, outra é achar que o melhor é algo que só pode ser adquirido via importação.
Quando crianças, idolatramos bonecas que moldam nosso pensar a adorar um estilo de beleza distante, muito distante daquilo que nossos hábitos e genéticas nos permitirão alcançar.
E crescemos arrancando nossos próprios cabelos e costelas, na tentativa fútil de ser uma pequena boneca quando, ao invés disso, poderíamos simplesmente nos tornar grandes mulheres...
Nenhuma de nós pode ou precisa adquirir a beleza – até porque, aquela que tem uma visão negativa de sua imagem continuará encontrando defeitos, mesmo depois de ter sido redesenhada por zilhões de competentes bisturis.
Tudo o que precisamos é parar de buscar modelos nos lugares errados, e passar a reconhecer o valor daquilo que temos, bem aqui!
** Crônica escrita por JU Blasina
E-mail: jrblasina@yahoo.com.br
meu comentario sumiu, provavelmente era ruin, fiquei desanimado....
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