- Você já esteve no centro de um dia no qual tudo o que queria era ficar quieto?
- Em silêncio?
- Em um dia no qual queria que o mundo fizesse silêncio?
- Que as buzinas não tocassem?
- Que as pessoas não falassem alto demais, que o som da tevê não fosse gritante e estridente?
- Um dia no qual tudo o que queria era escutar o som do silêncio?
O silêncio tem som. É verdade.
E seu som nos diz muitas coisas. É só ficarmos atentos.
De repente, fui invadida por uma enorme vontade de ampliar o horizonte do meu silêncio escutando a sonoridade mansa de Diane Krall, sua voz, suas músicas...
E foi assim, que ele - o silêncio -, se transformou num fundo musical na última quarta-feira, através da música "When I look in your eyes”.
Peguei no armário o CD dela, com certeza lançado há quase uma década.
O que fui buscar, se o que queria era o silêncio?
Lembranças?
Refúgio em sua melodia?
Seria esse um sintoma de saudosismo?
Quantas perguntas fiz a mim mesma depois que o relógio passou da meia-noite!
O silêncio aguçou meus questionamentos...
Ah, sempre ele - o silêncio que volta e meia me toma de assalto e ordena: “fica quieta!”
Ou que me dá ímpetos de sugerir aos outros: “baixem o tom, baixem o som, escutem o silêncio interior...!”
Lembro-me de mim como uma criança silenciosa.
Talhada assim talvez pela pouca psicologia - ou nenhuma -, da primeira professora na escola.
Alegre e tagarela, assim como as outras crianças eu aguardava sua chegada, depois da sineta bater.
Distraí-me ou me empolguei e não vi quando ela entrou, postando-se em sua mesa.
Todos calaram, mas eu continuava virada para trás conversando com a amiguinha.
Foi quando a escutei dizer meu nome em tom bastante alto, seguido pelas palavras: “Cale a boca. Sua voz é horrível!”.
Passei o resto daquele ano calada.
E nos muitos que se seguiram, economizei as palavras o máximo que pude.
Até compreender que, de nós duas, era ela quem tinha a voz horrível, pois era carregada de ressentimento com a vida.
Mas acho que escutar Diana não teve por um motivo especial.
Afinal, precisa mesmo de um para ouvi-la?
Ela, por si só, já se faz especial.
Sua voz sempre me pareceu preguiçosa, letárgica.
E, por isso mesmo, capaz de me arrastar por um fio condutor imperceptível a novos caminhos silenciosos toda vez que a escuto.
Como se o seu tom tivesse o dom me conectar ao silenciário.
Crônica escrita pela editora Rosane Leiria Ávila
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