18 de junho de 2010

O Som do Silêncio


- Você já esteve no centro de um dia no qual tudo o que queria era ficar quieto?

- Em silêncio?

- Em um dia no qual queria que o mundo fizesse silêncio?

- Que as buzinas não tocassem?

- Que as pessoas não falassem alto demais, que o som da tevê não fosse gritante e estridente?

- Um dia no qual tudo o que queria era escutar o som do silêncio?


O silêncio tem som. É verdade.

E seu som nos diz muitas coisas. É só ficarmos atentos.

De repente, fui invadida por uma enorme vontade de ampliar o horizonte do meu silêncio escutando a sonoridade mansa de Diane Krall, sua voz, suas músicas...



E foi assim, que ele - o silêncio -, se transformou num fundo musical na última quarta-feira, através da música "When I look in your eyes”.

Peguei no armário o CD dela, com certeza lançado há quase uma década.

O que fui buscar, se o que queria era o silêncio?


Lembranças?

Refúgio em sua melodia?

Seria esse um sintoma de saudosismo?

Quantas perguntas fiz a mim mesma depois que o relógio passou da meia-noite!

O silêncio aguçou meus questionamentos...


Ah, sempre ele - o silêncio que volta e meia me toma de assalto e ordena: “fica quieta!”

Ou que me dá ímpetos de sugerir aos outros: “baixem o tom, baixem o som, escutem o silêncio interior...!”

Lembro-me de mim como uma criança silenciosa.


Talhada assim talvez pela pouca psicologia - ou nenhuma -, da primeira professora na escola.

Alegre e tagarela, assim como as outras crianças eu aguardava sua chegada, depois da sineta bater.

Distraí-me ou me empolguei e não vi quando ela entrou, postando-se em sua mesa.

Todos calaram, mas eu continuava virada para trás conversando com a amiguinha.

Foi quando a escutei dizer meu nome em tom bastante alto, seguido pelas palavras: “Cale a boca. Sua voz é horrível!”.

Passei o resto daquele ano calada.


E nos muitos que se seguiram, economizei as palavras o máximo que pude.

Até compreender que, de nós duas, era ela quem tinha a voz horrível, pois era carregada de ressentimento com a vida.


Mas acho que escutar Diana não teve por um motivo especial.

Afinal, precisa mesmo de um para ouvi-la?

Ela, por si só, já se faz especial.

Sua voz sempre me pareceu preguiçosa, letárgica.


E, por isso mesmo, capaz de me arrastar por um fio condutor imperceptível a novos caminhos silenciosos toda vez que a escuto.

Como se o seu tom tivesse o dom me conectar ao silenciário.

Crônica escrita pela editora Rosane Leiria Ávila


Acesse o Blog de Rosane:

E-mail: rosaneleiria@gmail.com

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