Lar doce lar...
Quem não gosta de chegar em casa, depois de um longo dia de trabalho, e encontrar tudo cheiroso, na mais perfeita harmonia, brilhando de limpo?
Se tiver um cheirinho apetitoso, vindo da cozinha, então, hm... Delícia!
Agora, quem é que realmente gosta de passar horas com a mão na água fria, os joelhos no chão duro, pondo esporadicamente o nariz no vento gelado, dando uma de Amélia para manter tudo em ordem?
Hmmm... Difícil...
Você percebe que está ficando relaxada com os afazeres domésticos, quando passa culpar o tempo pela bagunça acumulada:
“Nem adianta mais guardar as cobertas, pois todo o tempo que temos livre, nós passamos sob elas” (literalmente, um ninho de amor);
“Não tenho lavado roupa, porque nada seca!” (nada seca, mas tudo fede);
"Passar um pano no chão: com essa umidade?" (já ouviu falar em pano seco depois?)
E por aí vai...
Postergando as tarefas do dia-a-dia para um final de semana que precisará ser infinito para comportá-las - como se "no futuro" o tempo cronológico esticasse e o metereológico cooperasse.
E quando tal futuro se torna presente, chove.
E lá fica ela, irritada e aprisionada, em meio à armadilha de caos que ela mesma criou.
Agora, se você consegue ser uma dona de casa exemplar, mãe dedicada, esposa atenciosa e funcionária competente: nós, mulheres normais, lhe damos os mais sinceros parabéns! (pode voltar para o conto de fadas de onde você fugiu e nem ouse aparecer para uma visita!).
Tão ruim quanto ser relapsa é ser neurótica - ninguém suporta viver na companhia de uma fanática por limpeza.
E ninguém gosta de ser chamada de "Maria Faxina" ou "Dona Clorofina", não tem nada de carinhoso nisso!
E por que, então, não desgrudar do espanador?
A solução não é tão clara quanto parece...
A compulsão chega tão sorrateiramente quanto poeira por debaixo da porta!
Você só admite que está ficando neurótica quando, ao chegar em casa e perceber a porta destrancada, as gavetas reviradas e a falta de seus pertences favoritos, tudo que lhe vem a mente é: "Que horror... Bagunçaram as almofadas"
Ou pior: "Que vergonha... Hoje eu nem tive tempo de arrumar a cama" — como se um lençol impecavelmente esticado, coberto por almofadas perfeitamente afofadas e disposta em um dégradé de cores e tamanhos, fosse sensibilizar o coração do assaltante.
Ele olharia para aquela cama encantada e, com os olhos mareados de emoção, suspiraria dizendo: "Não! Eu não posso fazer isso com alguém que mantém uma cama assim".
Engana-se quem pensa ter tudo sob controle, acreditando secretamente que uma boa organização pode ser a solução dos problemas do mundo.
E quando a vida, destino ou acaso, resolve dar um tapa numa pessoa assim, ele dói ainda mais, pois além da dor provocada pelo tapa em si, vem a turbulenta sacudida que tal lição provoca em seus princípios — naquela realidade segura, de faz-de-conta, onde tudo parece ocupar um lugar exato e imutável.
Quem, por outro lado, se habitua a dormir na cama-de-gato, bem sabe que o mundo não acaba ao lascar de uma rara peça de porcelana ou na visita surpresa de um amigo, que nos pega de "pijamas na mão" em plena tarde de domingo.
É claro que não devemos permitir que nossas vidas sejam tragadas por um mar de meias ou louças sujas, mas podemos aprender que o controle do mundo que nos cerca, não está ao alcance das mãos.
Quanto antes aceitarmos que seremos esporadicamente enredados por uma trama de acontecimentos imprevistos, antes saberemos como sair ilesos.
Quem, quando criança, nunca enovelou os dedos brincando de "cama-de-gato"?
Quanto mais se tensiona os fios, mais apertado fica.
O jeito é relaxar...
Entender a relação de causa e efeito, e deixar-se escorregar lentamente:
Para fora do caos.
** Crônica escrita por JU Blasina
E-mail: jrblasina@yahoo.com.br
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