Quem inventou o domingo?
Por fundamentação bíblica e etimológica, o domingo é considerado o primeiro dia da semana.
Dia de oração e de descanso para a maioria dos cristãos e povos de todo o mundo.
Mas para mim domingo é só o dia de permissão sem grandes explicações; um dia que tem cara de domingo e ponto final.
Pode ter o mesmo sol, a mesma lua.
Pode ser na mesma cidade, no mesmo bairro, na mesma casa.
Mas, dá pra se perceber que é domingo porque tudo fica mais preguiçoso e a vida ganha ar de mormaço...
Pelas falas pausadas de todo mundo, pelos movimentos mais lentos...
Desde criança adoro domingos.
Domingos bem cedinho, quando o dia começa a clarear e todos ainda dormem.
Domingos matinais nos quais o café da manhã tem mais aroma e sabor e é sorvido mais lentamente, com biscoitos doces.
Com café que quase esfria na caneca por causa do displicente folhear da revista que chegou durante a semana, e que ainda estava no plástico à espera do domingo chegar.
É dia de atualizar blog, Facebook, Twitter, Orkut, Windows Live...
Ou dia de ficar até mais tarde de pijama com cabelo por pentear.
De deixar cama desfeita, louça na pia.
É dia de não se irritar com coisa alguma.
Único para tomar chimarrão acompanhado de biscoitinhos salgados.
É dia de cheiro de churrasco na vizinhança. Ou fila na porta de restaurante.
Dia pra comer pipoca, de ir ao cinema.
De passear demoradamente com o cachorro.
De curtir a família.
De se juntar aos amigos.
De sentar no parque.
De observar os outros.
De se deixar observar pelos outros...
Se pela Bíblia o domingo é considerado o primeiro dia da semana, pra mim é o último.
Aquele que põe um ponto final em uma semana de agenda esgarçada, de horas espremidas, de tráfego lento, de alimentação desleixada...
Domingo é dia de não se importar com coisas sérias, ou melhor, não pensar em coisas sérias.
Por isso, recebo o domingo com alma de criança.
Às vezes, já no sábado em sua derradeira despedida a menos de um minuto para a meia-noite.
Mas como tudo na vida - bom e o ruim - em um momento acaba, o domingo também se vai.
Pra mim logo após o almoço, quando então sou obrigada a pensar na semana que se inicia.
Talvez seja por isso que eu retarde ao máximo momento de almoçar.
E o faça quando todos já estão pensando no lanche do final de tarde.
Para os meus domingos, permito-me tudo.
Mas recuso-me ver tevê.
Crônica escrita pela editora Rosane Leiria Ávila
- E-mail: rosaneleiria@gmail.com
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