A voluntária do ano
Por Fernanda Miki
- Fotos: Arquivo Pessoal/Divulgação
Mais uma vez destacando as conquistas de ilustres rio-grandinas, o caderno Mulher Interativa desta semana foi buscar no remoto condado de Kissimmee, Orlando, nos Estados Unidos, uma papareia de coração que está deixando a nossa marca em terras norte-americanas.
Natali Carvalho de Moraes, 31 anos, nasceu em Porto Alegre, mas veio para Rio Grande quando nem mesmo havia completado um ano de vida. Teve a sua formação em escolas tradicionais da cidade até a quinta série, quando voltou para a Capital.
Entretanto, nunca deixou de visitar as terras papareias, pois sua família reside aqui, e ainda o faz. Sempre foi uma mulher comunicativa, decidida e bastante curiosa por conhecer a cultura de novos lugares. Além disso, desde muito jovem, demonstrou interesse por trabalhos sociais e voluntários. E foi por eles que se atingiu merecido destaque.
Foto no dia do lancamento do foguete na NASA
Há onze anos foi para os Estados Unidos, pois queria aperfeiçoar seus conhecimentos na língua inglesa e ter contato com a cultura norte-americana. Lá conheceu o amor da sua vida, o marido Gilson, ironicamente, também brasileiro. Ele, residia nos EUA há bastante tempo, o que somou para ser a força que faltava à adaptação de Natali.
Natali é mãe de dois filhos, Bryan, de 10 anos, e Erick, de 8. “Existe um lado positivo e negativo de morar fora do seu país. Por um lado, você está em contato com diferentes culturas e pessoas, por outro, sinto muita falta da família, amigos, tradições e culinária”, aponta.
Foto de um dos filhos no escritório
Porém, Natali observa que como vive em uma região plenamente turística e composta por muitos imigrantes, sente-se em casa. “Aqui em Kissimmee/Orlando tem épocas que me sinto no Brasil, pois são tantos brasileiros passeando que se escuta mais o português do que o próprio inglês!”, evidencia.
Talento papareia nas terras de Obama
Com o diretor da escola, Gary Bressler
A mulher que desde muito jovem sempre foi solidária, não poderia deixar de exercer a sua cidadania mesmo que esta deixasse de ser verde e amarela, para ser colorida em vermelho, azul e branco.
Quando seu filho mais velho, Bryan, passou a freqüentar a Escola Pleasant Hill, Natali resolveu tornar-se voluntária, uma atitude que é muito incentivada nos Estados Unidos. Mais tarde foi convidada a participar do programa Junior Achievement na aula de seu filho. Apaixonou-se pela proposta.
“Após ter finalizado o que eles chamam de "kits", que são cinco lições, fiquei encantada com o objetivo que o programa tem. Ele preparara as crianças e jovens para o mercado de trabalho”, ressalta ela.
Com um dos diretores do programa Junior Achievement na central Florida
O projeto inicia as crianças e jovens para a vida profissional, aguça o senso de empreendedorismo e os preparara, dentro de cada etapa da vida deles, para o mundo dos negócios, ensinando como economizar moedas até como conseguir ser um empresário de sucesso.
Um ano após ter participado várias vezes do projeto, Natali foi convidada pela diretora geral da cidade, Nancy Hubbard, a ser a coordenadora do Junior Achievement na escola Pleasant Hill.
Passados três anos de dedicação e compromisso, o reconhecimento. Natali foi indicada a receber um prêmio como destaque pelo trabalho realizado: se tornou a funcionária do ano do programa Junior Achievement.
Ao longo dos anos, agregou muitas crianças ao projeto que unidas ao seu carisma e ao fato de acreditar na proposta do programa, superou as expectativas de seus superiores.
Com os filhos na Disney
“Aqui em Orlando o programa reúne gente muito importante. Trabalhar numa ONG tão grande, famosa e respeitada, é algo muito gratificante e entusiasmaste, mas ao mesmo tempo é de muita responsabilidade e dedicação”, afirma ela.
Apesar de o programa ser um projeto de nível global, ela nunca teve a oportunidade de trabalhar com ele aqui no Brasil. Mas admite que é uma vontade que possui e ainda pretende realizar.
Prazer de ser voluntária
Apoio total da família: Natali com Bryan, Erick, e Gilson no dia da homenagem do Junior Achievement
Sua felicidade e realização foi potencializada por um segundo reconhecimento este ano. Entre 25 mil pessoas, Natali foi a escolhida como a voluntária do ano no condado de Osceola, cidade de Kissimme e arredores.
Ela dedica em média 20 horas semanais ao trabalho voluntário, sendo assim, prêmio mais que merecido. “Tenho certeza que se cada um de nós der um pouco de si para o próximo, tudo pode melhorar e a felicidade e satisfação de poder ajudar não tem palavras para se definir!”, admite.
Além dos trabalhos voluntários, Natali ainda é empresária. Junto ao marido tem uma empresa de vendas pela internet que atende ao mercado mundial de sapatos e roupas esportivas. A loja é voltada para produtos de marcas como Nike, Addidas, Abercrombie, Coach, entre outras.
Eles começaram em casa há pouco mais de cinco anos e, há três, já têm um escritório que representa a empresa. São reconhecidos pelo sucesso de vendas e a satisfação dos clientes.
Entrevista
A ENTREVISTA
Mulher Interativa – Qual foi a satisfação de receber o prêmio de funcionária do ano em um programa de tamanha abrangência?
Natali Moraes - A satisfação pra mim se deu de uma maneira muito especial. Consegui realizar um sonho e concretizar um projeto. Tenho a oportunidade de participar de um programa tão especial para o futuro das crianças e jovens, mas também estar perto dos meus filhos. Eu consegui conquistar meu primeiro passo, algo muito positivo em minha vida.
Agora mais do que nunca sei que quando aceitei ser a coordenadora, que não seria fácil, mas que com persistência eu conseguiria alcançar as expectativas e metas. Foi um premio não esperado, mas muito satisfatório e gratificante. Agradeço muito a ajuda da minha família que sempre me apoiou nesses meus desafios, e também a Nancy, por sempre ter me dado o suporte necessário para que eu pudesse conseguir atingir as expectativas do projeto.
Mulher Interativa– Quais os traços de sua personalidade que garantiram o destaque?
Natali - Acho que foi um conjunto de iniciativas, persistência e muito carisma. Aqui nos EUA, os trabalhos voluntários são muito incentivados e o Junior Achievement é, digamos que, uma grande ONG que une trabalho voluntário e doações. Eles trabalham em parcerias e recebem também doações de grandes empresas como Disney, Universal Studios, Bank of America, etc.
Mesmo atuando como coordenadora, não deixo de ser também uma voluntaria quando participo do projeto nas salas de aula. Eu sou uma pessoa muito decidida, comunicativa, alegre e extrovertida. Sei que as crianças e jovens são nossos futuros, e acredito que se conseguirmos prepará-los para esse mundo tão competitivo de uma maneira saudável, alegre e divertida, teremos um grande retorno.
Mulher Interativa – Qual a contribuição que o lugar onde vives deu a tua formação?
Natali - Minha formação se deu ao fato de ser uma imigrante, alguém que veio para lutar e vencer. Eu vim pra cá, não somente com objetivos de aprender uma língua, uma cultura, mas também ensinar um pouco do que somos. Estando aqui aprendi algo que eu não pensei que existisse: a luta pela sobrevivência.
Se ressaltam nem sempre os melhores, mas os que possuem mais capacidade, e acho que estar aqui me ensinou isso, não preciso ser a melhor, mas arrumar meios para vencer, e sinto que hoje sou uma vencedora. Orlando/Kissimmee tem uma comunidade muito aberta a novas culturas, e acho que por isso tive a chance de me adaptar com mais facilidade.
Mulher Interativa - Como defines os hábitos, os costumes e a cultura de Kissimmee?
Natali - A estrutura dos EUA é, em geral, diferente do Brasil. Ocorre que cada país tem seu sistema político, climático e geográfico, e isso contribui para que a sua cultura, hábitos e costumes sejam diferenciados de outros países. O sistema deles é diferente do Brasil, algumas coisas boas e outras ruins, mas que no final é quase tudo igual.
Mulher Interativa - Como é sua vida aí? Quais os seus programas prediletos, o que mais estranha ou acha diferente daqui? Já passou por alguma situação difícil?
Natali - Minha vida aqui é muito corrida, pois diferente do Brasil, não temos "ajudantes do lar", então meu dia é praticamente 100% preenchido. Divido-me entre meu trabalho, voluntariado e a coordenação do Junior Achievement, alem de, claro, todas as lidas da casa e responsabilidades com as crianças em relação a tarefas, provas, etc. Tenho a Globo internacional, então sempre que posso assisto o Jornal Nacional e as novelas, mas, programas americanos não há nenhum em particular que assista.
O que acho mais estranho ou diferente é o fato de as pessoas não visitarem muito as outras; acho que isso é a única coisa que ainda não consegui me acostumar muito. Situação difícil? Acho que no inicio foi o inglês, pois o resto nada que o nosso jeitinho brasileiro não ajude a superar.
Mulher Interativa - Seus filhos conhecem o Brasil e a cultura de nosso país?
Natali - Meus filhos adoram o Brasil! Nós tentamos manter o máximo da nossa cultura para eles. Aqui temos supermercados com produtos brasileiros, o que nos facilita muito. A comunidade brasileira aqui nos Estados Unidos é grande, então festejamos muitos dos nossos feriados, festas. Para se ter alguma referência de cultura, mesmo longe tem como manter muita coisa, ainda que não seja o mesmo, é muito parecido...
Mulher Interativa – Rio Grande: o que mais gosta e do que mais sente saudade?
Natali - Seria difícil eu conceituar o que mais gosto, porem é ver o meu Rio Grande crescer na cultura, nas obras, nas indústrias, na política. E, paralelo, a isso seu povo hospitaleiro e amigo do qual sinto muitas saudades.
Indiscutivelmente é de minha família, a qual amo muito, não poderia deixar de citar meus queridos pais, meus irmãos e demais parentes e amigos que muito preservo. Quero citar também, meus queridos avos já falecidos, Ozires e Ilza Carvalho, dos quais tenho belas lembranças e de minha avó Terezinha Moraes que muito me ajudou.
"Ao Jornal Agora", as minhas congratulações pelo conceituado jornal, circulando com seriedade e mantendo seu povo atualizado e bem informado. Eu, mesmo de longe e muito ocupada com meus compromissos pessoais, consigo sempre um tempo para ler as noticias através da internet.
Mulher Interativa - Pretende um dia retornar a terrinha?
Natali - Essa pergunta no momento que eu estou vivendo é difícil de responder, pois o Brasil é minha paixão, quem sabe um dia eu volto?! Deixo isso nas mãos de Deus. Eu amo o Brasil, mas amo também os EUA.
O Brasil é nossa terra natal, mas hoje meu marido Gilson e eu conseguimos nos estabelecer aqui para proporcionar a nossos filhos uma vida saudável, segura e muito tranqüila. No momento estamos focados em projetos que estão aqui, mas se em um futuro nós tivermos alguma boa oportunidade ai, quem sabe?
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