Por André Zenobini
Fotos: Bruno Zanini Kairalla
Muitas pessoas nem percebem, outras começam a leitura por seus textos. O homem por trás dos editoriais do Agora começou sua carreira nos jornais como um entregador.
Nascido no dia 13 de março de 1942, Moacir Américo Santos Rodrigues é um ícone para os que com ele trabalham e trabalharam e para aqueles que são seus leitores assíduos e que por muitas vezes não lhe dão o devido crédito.
O editorial é o espaço mais nobre de um jornal impresso, que não é assinado por quem escreve, onde a opinião da empresa é apresentada. Mas nos bastidores dessa opinião existe um redator experiente e carismático que fala sobre jornalismo com amor e gratidão.
Nascido em Rio Grande, Moacir iniciou sua carreira no jornal Correio do Sul a convite de sua professora de educação física na Escola Agnela do Nascimento. Após dois meses, por convite do gerente do jornal passou a trabalhar na gráfica como tipógrafo.
Aos 14, deixou o Correio do Sul para fazer parte do jornal Rio Grande, onde seguiu na mesma função. Com a saída de um dos redatores de esporte, assumiu este desafio e passou a escrever sobre o Sport Clube São Paulo. Depois aos 15, acumulou também a editoria de polícia.
Hoje, o esporte ainda faz parte de sua vida, depois de vários anos na diretoria do Leão do Parque, pois ele faz parte do conselho deliberativo do clube, que considera como o seu time do coração.
No auge dos seus 68 anos, Moacir fala sobre a profissão: “É uma cachaça, a pessoa se vicia e não larga mais”, garante ele que teve este direito adquirido por tempo de serviço na reformulação da lei que regulamentava a carreira de jornalista.
Mesmo sem ter completado o antigo Ginásio, suas experiências lhe conferem o aprendizado necessário, e também, aquilo que nenhuma universidade ensina: a humildade. “No jornalismo não se pode haver individualidade, sempre tem que haver o espírito de equipe, se não, não funciona”, garante.
Em 1975, Moacir foi apresentado ao empresário Germano Toralles Leite, que preparava um novo jornal para a cidade. Mesmo sem vaga na redação do Agora, ele aceitou se juntar aquela equipe que iria por na rua um novo veículo de comunicação.
Sua entrada no Agora aconteceu antes mesmo da edição de número 1, já que participou dos três testes do jornal. Quando aceitou o convite do fundador do Jornal Agora, ele retornou a gráfica assumindo novamente a função de tipógrafo e operador de máquina de impressão.
Um ano depois, o Jornal Agora passou por uma reformulação e ele então voltou a fazer parte da equipe de redatores. Em 1986 assumiu a função de editor-chefe. A relação que manteve com os leitores nesses 35 anos ao lado deste diário sempre foi de respeito, e isso explica o que faz dele ser tão reconhecido pelas ruas e com a credibilidade junto as pessoas.
Enquanto fora editor-chefe, todas as criticas que recebia se transformavam em ‘Carta do Leitor’ nas edições seguintes. “Nunca me considerei o dono da verdade, sempre ouvi aqueles com opiniões diferentes”, salienta.
Em sua trajetória profissional, possui no currículo o departamento de comunicação do antigo Departamento Estadual de Portos, Rios e Canais (Deprec), chefe de comunicação da Prefeitura Municipal do Rio Grande e também trabalhou em jornais menores como o da Loja Maçônica, do São Paulo e do Grupo de Escoteiros Silva Paes. Também foram 10 anos como correspondente esportivo da Rádio Gaúcha e da Zero Hora.
Mesmo tendo passado por tantos lugares, nunca deixou o Jornal Agora. Enquanto estava no Deprec, que tinha a administração estadual no Porto do Rio Grande dividia as funções de editor-chefe com Rosane Ávila e Rosane Borges Leite.
No final da década de 80, o então responsável pelo editorial do Agora, jornalista Sérgio Marchese veio a falecer. Foi então que Moacir passou a dedicar seu tempo a esta coluna diária que trata sobre os mais diversos assuntos.
“Tem dias que não tem o que falar, tem que procurar algo”, garante, sobre a dificuldade por vezes de encontrar algum assunto para abordar. Mas, seja qualquer tema, a conduta é sempre única, “o editorial do Agora pensa na coletividade, é moderada e voltada aos anseios da comunidade”, defende o redator da opinião.
Menos romântica
Mesmo sem nunca ter passado por uma faculdade de comunicação, Moacir fala sobre a profissão com a mesma qualidade que um professor leciona a seus alunos, “hoje é mais fácil fazer comunicação, mas é menos romântico” afirma ele.
Com a tecnologia, a internet e o telefone têm sido um dos grandes parceiros do jornalista, que poupa tempo de ter que se deslocar até o local para uma entrevista ou levantamento de dados.
“Antigamente tínhamos que sair correndo atrás da pauta, pegar um ônibus para se deslocar até o local, não tínhamos essas facilidades”, conta. Ainda sobre a tecnologia ele confessa que foi um dos últimos da redação a aderir ao computador e que até hoje só sabe o básico sobre essa ferramenta.
Sobre os profissionais que entram no mercado ele desabafa: “O jornalismo era antigamente pessoal, hoje é profissional”. Ao contar sobre como as pessoas entravam nessa profissão, e onde sua história se encaixa nesse modelo, ele explica que as pessoas escreviam porque gostavam, e hoje, às vezes escolhem fazer essa faculdade por ser uma profissão e que acreditam ser relativamente fácil.
Entre as suas funções, Moacir acumula a editoria de São José do Norte. Ele explica que por vezes, em uma cidade pequena é mais difícil conseguir notícias, pois, às vezes, requer mais tempo para buscar uma boa pauta.
Sobre os 35 anos de atividades deste diário, para ele “é fácil falar” já que considera “que o Agora sempre se constituiu numa grande família, mesmo nos momentos de brigas e discussões, sempre houve a vontade de fazer o melhor, pois quem fiscaliza o resultado é o leitor”, explana.
Moacir Rodrigues explica como percebe o sucesso do Jornal Agora, “nós agradamos a população porque chegamos aos 35 anos em permanente transformação; o jornalista deve sempre ser atualizado com a história e o momento da cidade para levar a informação até o leitor”.
São mais de 50 anos de profissão, 48 anos de casado, quatro filhos e uma dica para aqueles que decidirem seguir a carreira de jornalista, “para ser bom, tem que ter leitura”, garante ele.
Para finalizar nossa entrevista, ele definiu em uma frase este diário que está a mais de três décadas ao lado dos rio-grandinos: “O Agora é um bom jornal por ser simples e sem alarde e que cumpre a sua função social”.
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