encurralado [Bukowski]
não dispa o meu amor
você pode encontrar um manequim;
não dispa um manequim
você pode encontrar
o meu amor.
ela há muito tempo
me esqueceu.
ela experimenta um novo
chapéu
e parece mais
coquete
do que nunca.
ela é uma
criança
e um manequim
e
é a morte.
não tenho como odiar
isso.
ela não faz
nada fora do
comum.
queria apenas que ela
fizesse.
- Charles Bukowski [1920-1994]. Poema publicado no Brasil pela primeira vez em 2007, no livro "O amor é um cão dos diabos" [Love is a dog from hell], L&PM Editores, Porto Alegre.
Charles Bukowski nasceu em Andernach (Alemanha) em 16 de agosto de 1920. Mudou-se para os Estados Unidos, aos três anos, com os pais. Cresceu em Los Angeles [onde morou por cinquenta anos] em um ambiente pobre e conturbado. A falta de carinho familiar e a humilhação de ter um rosto deformado levaram-o a fugir e a descobrir dois esconderijos para os seus problemas: o álcool e os livros. O primeiro, como já era de se esperar, lhe trouxe inúmeros problemas, enquanto o segundo lhe imortalizou.
Durante grande parte de sua vida adulta, viveu de empregos temporários em várias cidades americanas, como carteiro, frentista e motorista de caminhão apesar de ter estudado jornalismo sem nunca se formar. Começou a escrever poesias aos 15 anos, mas teve seu primeiro livro publicado somente 20 anos depois, em 1955. A descrição de sua vida pessoal é marca registrada em toda a sua obra - sua falta de discrição era tamanha que durante toda a vida teve de lidar com a quebra de laços de amizade, pois citava nomes e, quando muito inspirado, fazia duras críticas aos personagens "nada fictícios" que o cercavam.
Capa de uma das versões em inglês do "Mulheres" |
Levou uma vida errante, bebendo em excesso e escrevendo alucinadamente - publicou mais de 45 livros, entre eles "Mulheres", "Hollywood" e "Cartas na Rua". "Mulheres" começa com a seguinte frase:
"Muito cara legal foi parar debaixo da ponte por causa de uma mulher."
Neste livro pode-se desfrutar do olhar e do pensamento inconfundível de Bukowski sobre as mulheres. E pra quem não dispensa um bom erótico - aquele sem delongas nem metáforas cafonas - ele pode ser considerado como o pai de todos. Apesar de ser tachado de machista por muitos - hipócritas, em sua grande maioria.
A verdade é que o "velho safado" viveu amando, sofrendo e escrevendo sobre elas, as suas mulheres.
Sua obra surtiu tanto efeito que alguns de seus contos e romances acabaram sendo adaptados para o cinema. Ele próprio recebeu diversos convites para escrever roteiros, apesar de assumir que nunca gostou muito de filmes. Com o tempo, apareceram muitos adeptos do seu estilo, violento e despudorado, na literatura, mas poucos são aqueles que, como ele, vivenciaram e permaneceram na sarjeta - a forma underground de se viver- fazendo dela, sua fonte de inspiração.
Morreu de uma pneumonia decorrente de um tratamento para a leucemia, no dia 9 de março de 1994 em San pedro, Califórnia, aos 73 anos de idade. Deixou uma filha, algumas ex-mulheres e milhares de leitores desolados. Foi um dos maiores e mais polêmicos poetas de todos os tempos. Em seu túmulo está escrito "Don't Try" - em português: "Não Tente". E, embora muitos ignorem a sugestão, raros são os que de fato conseguem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário