5 de setembro de 2011

O fiel perfil da traição


Para irromper o vazio, para voltar a ter emoção. 

As justificativas soam tolas para quem ouve e não concorda com a prática da traição. Mas, para quem a tem incutida em sua personalidade, a infidelidade pode também representar uma necessidade – física e emocional. 

Pode parecer absurdo para quem foi criado em tempos que caráter era sinônimo de lealdade, entretanto, na era da superficialidade das relações humanas, trair, além de pop e justificável, agora também é um estimulável e lucrativo mercado. Confira! 


Texto e pesquisa:
Bruno Zanini Kairalla
bruno.jornalagora@gmail.com
www.twitter.com/bzkairalla

“O verdadeiro segredo para um matrimônio duradouro”. 

“A vida é curta tenha uma Second Life”. 

“Uma maneira discreta de ter um caso”. 

“Quebre a rotina e seja audaciosa” (para elas).

“Presenteie-se com um romance” (para elas). 

“... acha que a monogamia é monótona?” (para eles). 

“Entre em ação aqui” (para eles). 

“Gente como você: discreta e com a mesma cabeça”. 

Aventure-se”. 

Estes são os curiosos convites originados pelas três redes sociais estrangeiras, direcionados a homens e mulheres infiéis, que já em versões brasileiras, operam com força no País. 

Além dos recém-chegados, Second Life e Ashley Madison, desde julho último, a The Ohhtel entrou na disputa do cadastro de quem curte dar suas ‘escapadinhas’ de forma anônima e com discrição. 

Juntas as três redes já reúnem cerca de 12 milhões de usuários ao redor do mundo. Só aqui já são mais de 800 mil usuários.

No Brasil, 66% dos inscritos são homens e 34% são mulheres. A média de idade para eles é de 39 anos, enquanto elas têm em média 33. O funcionamento é o mesmo de sites de encontros, com uma diferença: nestes, os usuários não temem marcar a opção “casado
” no perfil.


A migração dos serviços para o mercado brasileiro é fruto de uma pesquisa sobre sexualidade na América Latina que excitou os executivos estrangeiros. 

Segundo o levantamento realizado pelo Instituto Tendências Digitales, o Brasil contabiliza o maior índice de infidelidade do subcontinente. 

Cerca de 60% das mulheres revelaram ter sido infiéis a namorados ou maridos. Entre os homens, o valor é ainda maior: 70%. 

“Há cerca de 14 milhões de homens e mulheres brasileiras vivendo sem sexo no casamento. Assim, vimos que era um mercado viável", conta Lais Ranna, VP de Operações da The Ohhtel aqui no Brasil, que tirou os dados de uma pesquisa desenvolvida em 2010, com 2,5 mil brasileiros casados

Entre os entrevistados, 19,2% vivem em casamento sem sexo, com menos de uma relação sexual por mês, enquanto 51% estão insatisfeitos com a vida sexual.

REDES DA TRAIÇÃO


Discrição é o pilar dos serviços de relacionamento extraconjugais. Os serviços garantem que os movimentos de seus usuários jamais deixem rastros. 

Os três sites gostam de indicar os veículos de comunicação no País (e também fora dele) em que já foram notícias. Mulheres são isentas de pagamento. Já os homens... 


Ashley Madison: De origem canadense, foi o primeiro a oferecer este tipo de serviço no mundo. Por aqui, o site começou a operar no dia 15 de agosto. E a ideia de criar ambientes virtuais dessa natureza é mais antiga do que a mais popular rede social do planeta, o Facebook. 

Ela surgiu há dez anos, na cabeça do fundador Noel Biderman, até então empresário esportivo. Ele justifica a criação do serviço após constatar que 30% das pessoas que procuram sites de relacionamentos, feitos em teoria para solteiros, eram casadas.

Ele também percebeu que os casos extraconjugais na era da internet obedeciam a um padrão: sempre vinham à tona devido alguns escorregões digitais – mensagens de texto esquecidas em celulares ou em sites de relacionamento. Nascia, então, o Ashley Madison, que deve faturar 60 milhões de dólares em 2011.

Total de usuários (no mundo): 10 milhões. No Brasil: 500 mil. Cadastro: gratuito – porém, homens pagam 49 reais para enviar dez mensagens de texto.


Second Life: Criado em 2008, o portal holandês foi o primeiro a chegar ao Brasil (em maio último). “Neste site de relacionamentos pode criar o seu perfil com fotos e buscar pessoas que se adéquem a si. Também pode enviar mensagens para encontros on-line e chat através do site”, estimula a mensagem na página principal do site. 

Também é estimulado o respeito e a gentileza entre os demais membros do site e, se caso marcar algum encontro, indica-se que este aconteça em um local público por questões de segurança. A rede aceita pessoas com idade mínima de 25 anos. 

Uma declaração da fundadora, que identifica-se apenas como Charlie, é que “em certa altura da minha vida tive uma grande satisfação com uma aventura fugaz. Eu estava e continuo casada, e não tenho nenhum desejo de colocar em perigo o meu casamento, mas, agora é melhor do que antes”. 

E afirma que criou o site, pois “o único problema é que às vezes temos uma aventura com alguém do nosso trabalho ou no nosso círculo de amigos. E isso é um grande inconveniente, pois cerca de 40% dos casamentos terminam por este motivo”.

Total de usuários: 200 mil. No Brasil: 90 mil. Cadastro: gratuito – porém, os homens devem assinar planos mensais (R$ 139, 80), trimestrais (179,80) ou semestrais (270 reais). 


The Ohhtel: Lançado por aqui em julho, o site é americano. O interesse foi gerado depois que o portal recebeu cerca de três mil e-mails daqui, em 2010, perguntando quando lançariam o site no país. Para a vice-presidente, Lais Ranna, o site é feito para pessoas que querem continuar seu casamento e procurar satisfação sexual em outro lugar. 

O Ohhtel não incentiva ninguém a ter um caso. Por outro lado, nós não acreditamos que a falta de satisfação sexual do parceiro é motivo suficiente para acabar com seu casamento”, declara.

“O casamento é mais do que apenas sexo: é sobre a família, finanças e, em muitos casos, é sobre amor. Entendemos que você quer ficar com o seu par para o resto de sua vida, mas ao mesmo tempo você não pode viver uma vida sem satisfação sexual. Não é justo, não é natural, não é algo que fazia parte dos seus planos". 

"No Ohhtel.com você pode ser honesto(a) sobre o que você está procurando, porque todo mundo está na mesma situação”. Para seus usuários, seu sucesso está em sua “política de privacidade”.

Total de usuários: 1,6 milhão. No Brasil: 280 mil. Cadastro: gratuito – porém, homens pagam 60 reais para enviar mensagens a 20 pessoas.


CURIOSIDADES



- Uso e privacidade: Nome, fotos e dados de contato são, por padrão, considerados secretos e só se tornam visíveis a outro cadastrado com consentimento do proprietário do perfil. Para evitar fraudes, os sites costumam verificar o cadastro de seus usuários para checarem se as suas informações são compatíveis e verídicas.

- O botão do pânico: Esse é o nome da ferramenta do Ashley Madison, usada só em situações emergenciais, ou seja, quando o usuário comprometido está prestes a ser apanhado. Em tese, ele representa o fim da marca de batom no colarinho. O recurso apaga, de forma definitiva, os registros relativos a uma conta que possam comprovar a passagem de uma pessoa pela rede. Faz uma varredura nas caixas de mensagens de pessoas que foram alvo do assédio eletrônico do usuário acossado, apagando textos, fotos e vídeos enviados por esse cadastrado.

- Números: Em apenas sete dias, o Ohhtel Brasil garante ter atingido 63.317 usuários. Durante a semana de estréia nos Estados Unidos - país com maior população e mais internautas - foram 10.993 cadastrados. Na Argentina, 30.114 se cadastraram nos primeiros sete dias. No Chile, foram 17.017. O primeiro recorde do Ohhtel foi de 6.200 brasileiras inscritas um dia após o lançamento oficial, no dia 12 de julho. O segundo recorde foi na segunda-feira após o “Dia dos Pais”, quando foi registrado o maior índice de mulheres num dia: 11.707. Atualmente, a média diária de brasileiras que procuram o Ohhtel é de 1,7 mil. A cada 17 segundos uma brasileira se associa ao site em busca de um caso discreto. Ainda conforme a Ohhtel, 37% dos cerca de 42 mil homens cadastrados no site já pagaram pelo menos uma vez a taxa de R$ 60 que dá direito a interagir com até 20 mulheres na rede. O que dá um total mínimo de aproximadamente R$ 940 mil em apenas uma semana.

- Solteiros: Os três sites alegam forte adesão de solteiros que não querem se comprometer em relações duradouras e monogâmicas. Como identificá-los? Retratos em close, dados pessoais à vista, depoimentos expostos. Eis um solteiro em busca também de uma aventura.

- Em alta: Nos últimos anos, a insatisfação sexual entre casais tem se mostrado crescente, junto ao aumento de número de divórcios. Somente em 2010, os cartórios de notas do estado de São Paulo realizaram 9.317 separações, um aumento de 109% em relação a 2009, quando ocorreram 4.459. Por sua vez, nos Estados Unidos, foi publicada uma pesquisa, há três anos, que apontou o número expressivo de 40 milhões de americanos que vivem em um casamento sem sexo (entende-se com menos de uma relação sexual por mês).

- Mesmo com sexo: Quando perguntado por que acha que o Brasil é tão diferente, Shields, da The Ohhtel, explica que, ao contrário de outros países, onde a grande parte das pessoas que usa os serviços do site está em um casamento sem sexo, homens e mulheres brasileiros, inscritos no Ohhtel, não estão em relacionamento sem relação sexual. Segundo recente pesquisa realizada pelo Ohhtel, só 18% das brasileiras inscritas não tinham mais intimidade com seu parceiro, em casa.

AS JUSTIFICATIVAS

- Preencher um vazio: o usuário se sente infeliz, não se sente amado pelo conjugue

- Insatisfação com a rotina (monotonia) e a falta de sexo

- Incompatibilidade sexual com o parceiro, ou do parceiro

- Para redescobrir a paixão que aos poucos foi sumindo no casamento

- A pessoa sabe que é traída e resolve revidar procurando a rede

- Argumenta não querer se separar por causa dos filhos, dos bens e do carinho que ainda sente pelo conjugue

- Gosto involuntário por aventuras sexuais

- Atração pelo desconhecido e pela adrenalina que isso gera

- Facilidade de se comprometer até o ponto em que deseja

- Liberdade para expressar o que realmente pensa

- Colocar em prática fantasias sexuais que seriam estranhadas ou condenadas pelo parceiro(a)

- Preferem trair pela internet para evitar uma traição próxima do parceiro

- Ao serem perguntados "por que você tem casos", a razão mais citada por homens é a busca e a necessidade por ter “variedade”. Já mulheres afirmam que desejam ter “mais romance” para se sentirem valorizadas.

- Segundo o site The Ohhtel, justificativa muito comum entre as mulheres, é: “Eu amo meu marido e meus filhos. Mas sou uma pessoa muito apaixonada e a paixão do meu marido é o trabalho. Sou muito feliz com o tipo de vida que temos e com tudo o que o trabalho dele nos proporciona, mas preciso de algo a mais na minha vida e de alguém que preencha meu vazio”.


O CENÁRIO EM RIO GRANDE


Sexo fácil, bem como adultérios on-line nunca foi uma novidade na cidade, que conta como principal ponto de encontro às salas de bate papo (chat) da UOL – que podem até não disporem de inúmeras ferramentas como os sites aqui citados, porém apresentam um serviço instantâneo, direto e o que é melhor: totalmente gratuito (para ambos os sexos). 

Em horários de pico (das 20h às 23h) ou mesmo aos finais de semana, as salas chegam a receber uma média de 150 usuários por hora

E foram nelas que a equipe do Mulher foi em busca de seus entrevistados. Foram três dias, conversando, colhendo opiniões diversas e até mesmo hilárias. Confira:

- Aos 41 anos, ela afirma que conheceu o seu segundo marido pelas comunidades do Orkut. Os dois estão juntos há seis anos, já possuem um filho pequeno, e o que ele nem desconfia é que enquanto cumpre suas rotineiras viagens para a capital gaúcha, ou mesmo para São Paulo, ela está marcando seus encontros nas salas de bate papo. 

“Já me cadastrei no Second Life, mais é muito parado. Quando entro aqui não faço questão de pensar muito (para não me arrepender) e quero que seja tudo muito rápido. Já caí na asneira de ter um namorado virtual, mas é muita dor de cabeça para administrar duas relações. Além disso, tu passa a conviver com cobranças dos dois lados. O que me atraí é o cheiro diferente de cada um. E por mais que seja parecido, um sexo nunca será igual o outro. O meu prazer é essa particularidade”, observa a advogada que para preservar sua imagem e família, troca de apelido constantemente.


- Homem36 acaba de se divorciar. A decisão foi dele, mas revela que sua esposa já desconfiava de suas relações proibidas. Solteiro há três semanas, ele confessa que nunca conseguiu ser fiel. Mas também revela que não consegue ficar só. 

“Minhas últimas relações partiram desta sala e também por redes sociais. O problema é que depois de certo tempo, por mais que no início ela se revele uma mulher quente, sexual, fica tudo igual. Eu me canso fácil da rotina”, observa ele, pai de duas meninas. 

O administrador ainda defende o sexo virtual (como mais seguro), gosta de se exibir nu em frente às câmeras e de ver suas parceiras excitadas pela webcam. “Hoje só faço questão de encontrar a pessoa depois que já tiver visto ela pela câmera e conversado por MSN”, frisa.


- Amiga entra nas salas da UOL há no mínimo cinco anos. Casada, a comerciante de 29 anos, afirma que nunca se sente só. Garante que sabe de cor os mesmos que entram diariamente no canal – alguns, confessa já ter experimentado - e sente de longe quando tem algum novato – conforme ela, seu alvo predileto. As conversas virtuais ocorrem após as 23 horas, quando seu marido já está dormindo. 

Os encontros ocorrem no calor do dia. Se for durante a semana, no horário do almoço. Aos domingos, pela manhã ou mesmo a tarde – quando o titular saí para o trabalho. Arrependimento, diz não ter nenhum. “Eu não sei o que ele [o marido] faz durante o dia e sou adepta da filosofia o que os olhos não vêem o coração não sente. A monogamia foi algo imposto”, protesta ela.


- Militar31 afirma que está casado há 15 anos. Não é da cidade, chegou recentemente e o Nick é apenas uma fantasia. Pai de três filhos, sua família está longe. A mulher vem – ou ele vai a cada 30 dias. Mas a distância não é desculpa para quem confessa trair mesmo estando ao lado dela. E ele garante: embora ela não admita, sua esposa sabe de sua necessidade e aceita. 

“Ela tem noção que meu objetivo não é deixá-los. O que eu gosto de buscar nestas salas é apenas aventuras”. Sem a mínima vergonha, ele diz que seria contra se ela fizesse o mesmo. “Minhas parceiras virtuais são melhores do que ela na cama. Faço coisa com elas que minha esposa jamais permitiria. Mas ninguém cuida de mim melhor do que ela”.


Cigana tem 34 anos. Vive seu terceiro relacionamento, mas nada muito sério. O motivo? Não consegue mais “ser de um homem só”. 

“Eu era uma mulher fiel. Tinha horror de traição. Mas isso acabou quando fui traída no primeiro casamento. Foi quando tudo parou e me vi ao lado de um homem infiel e com uma criança no colo. Decidi que jamais vou passar por isso de novo. Sofri muito. Tive na família mãe e irmãs que foram traídas. Hoje penso: antes deles pensarem em fazer, eu já fiz. Não tenho mais piedade de ninguém”, indica a empresária. 



Não podemos fechar este material sem contar uma curiosidade das entrevistas. Os apelidos escolhidos pelos usuários das salas de bate papo, por si só, rendem a diversão a parte. Vai do mais chulo aos mais criativos. No entanto, um em especial, chamou atenção: HquerinversãoM [Homem quer inversão com mulher]. Sim, pode parecer bizarro, mas é exatamente o que você está imaginando.

“Gosto de ser dominado por elas. Não gosto de homens. Não sinto o mínimo tesão. Nem por travestis. Até já tentei mais não deu certo. E elas também gostam de estarem no controle da situação”, explica ele, que informa ao repórter que a prática não é nenhuma novidade. 

“Existem encontros e casas pelo país inteiro em que elas é que tomam as rédeas da situação”. O sexo possui mesmo impressionantes variações.

Fontes de pesquisa: 
- Jornal O Globo
- Revista VEJA

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