17 de novembro de 2011

ANTÁRTICAS DESCOBERTAS



DESTAQUE NAS ÁGUAS PROFUNDAS
DO ANTÁRTICO

Marina do Valle, oceanóloga formada pela Furg e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Oceanografia Física, Química e Geológica (PPGOFQG), também da mesma Universidade, obteve reconhecimento ao apresentar seu trabalho na conferência do Programa Mundial da Unesco/ONU para Estudos do Clima, em Denver, Colorado. A conferência contou com cerca de dois mil participantes, oriundos de 86 países. O tema apresentado pela carioca foi sobre as alterações nas águas profundas do oceano Antártico nos últimos 50 anos.



Por Bruno Z. Kairalla
Fotos: Arquivo Pessoal/Divulgação

Aos 23 anos, Marina do Valle Chagas Azaneu obteve suas pesquisas e estudos premiados em um congresso promovido pela Unesco/ONU. Morando em Rio Grande há seis anos, a carioca chegou aqui em busca da conceituada graduação oferecida pela Universidade Federal do Rio Grande (Furg). 

Formada em Oceanologia no ano passado, Marina decidiu ingressar neste ano no Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Oceanografia Física, Química e Geológica (PPGOFQG). 

Ela também atua junto ao Laboratório de Estudos dos Oceanos e Clima do Instituto de Oceanografia da FURG e ao INCT- Criosfera.


Sua participação na conferência do Programa Mundial da Unesco/ONU para Estudos do Clima (WCRP - World Climate Research Programme) em Denver, Colorado, ocorreu na semana entre os dias 24 a 28 de outubro. O seu trabalho, "Antarctic Bottom Water Changes During the Last Fifty Years", investiga as alterações das propriedades ocorridas nos últimas 50 anos nas águas de fundo do oceano Antártico. 

E, claro, como não podia ser diferente, o trabalho foi premiado na conferência como "Outstanding Poster Presentation" (apresentação excelente), na área de "Oceans & Climate". Nos próximos parágrafos, ela nos conta como foi sua experiência.


Mulher Interativa - Como você avalia a conferência e quais outros trabalhos que lhe chamaram sua atenção?

Marina - Considero a conferência excelente, muito bem organizada e bastante abrangente. Havia mais de 1,9 mil participantes, oriundos de 86 países distintos, com grande participação de pesquisadores de países em desenvolvimento. Foram abordados diversos temas, entre eles as formas de entendimento, detecção e previsão de eventos climáticos extremos, como chuvas intensas, vendavais e furacões, que causam tamanha destruição.


Outro importante tema abordado foi a questão da pesquisa climática a serviço da sociedade, os meios de transmitir o conhecimento e seus resultados científicos para a sociedade, questão muito importante atualmente. Os trabalhos que mais me chamaram a atenção foram aqueles que tinham como tema o impacto das mudanças climáticas nos eventos extremos no Brasil e em países em desenvolvimento, assim como os trabalhos com enfoque em questões práticas e imediatas, como mensuração do impacto dessas mudanças na produção de importantes itens agrícolas.

Mulher - Quais foram as principais conclusões do seu trabalho e o que você acha que chamou atenção dos organizadores?

Marina - Os resultados mostram que ao redor de toda a Antártica as águas que são formadas na região, e que posteriormente circulam pelos demais oceanos, estão sofrendo mudanças de temperatura, salinidade e densidade. Essas mudanças podem ser causadas, por exemplo, pelo derretimento do gelo presente no continente Antártico e pela intensificação dos ventos da região.

Essas alterações no gelo e atmosfera, são consequência do aquecimento atmosférico que vem sendo observado nas últimas décadas. As mudanças nas propriedades dessas águas pode, em longo prazo, alterar a circulação oceânica global - o que trará graves consequências climáticas, afinal o oceano possui forte influência no clima de todo o globo. 


Penso que o trabalho chamou a atenção dos organizadores, pois o tema é extremamente importante de ser debatido. São resultados claros, que apontam para mudanças em fatores oceânicos com possíveis e futuras consequências globais.

Mulher - Como a notícia de que a apresentação foi considerada excelente foi recebida por seus colegas e professores?

Marina - Acho que a notícia foi boa, principalmente para divulgar a pesquisa brasileira em um congresso internacional. Foi recebida com muito entusiasmo e alegria por todos. Infelizmente meu coorientador, que me ajudou bastante durante todo o trabalho, ainda não sabe, pois está numa viagem desde a minha chegada.

Mulher - O que te deixou mais ansiosa, nervosa e até insegura para apresentar o trabalho?

Marina - O laboratório do qual faço parte possui ótimos pesquisadores na área de pesquisa Antártica, assim como grandes projetos que incluem participação de outras universidades e coletas de dado na região. Infelizmente ninguém mais do grupo de pesquisa pode ir à conferência, então estava bastante preocupada em representar adequadamente a instituição e meus orientadores.
Além disso, recebi auxílio da FURG e do INCT da Criosfera para a viagem, então a responsabilidade de trazer resultados positivos era maior ainda. Mas acho que o que me deixou mais apreensiva foi apresentar os resultados e discuti-los com excelentes pesquisadores brasileiros e estrangeiros, que até então eram apenas nomes que eu admirava.


Mulher - Como você resumiria as alterações na água da Antártica nos últimos cinquenta anos?

Marina - Acredito que devido a diversos fatores, como o aquecimento atmosférico, a intensificação dos ventos e dos giros oceânicos na região antártica, as águas de fundo produzidas na região tem se tornado mais quentes nos últimos 50 anos. Além disso, o derretimento do gelo continental e a menor espessura do gelo marinho levaram a diminuição da salinidade dessas águas. Todos esses fatores levam a águas menos densas, que podem ter como consequência a modificação do padrão de circulação.

Mulher - Como surgiu a ideia de investigar as águas do Antártico e o que mais te impressionou durante o período de pesquisa e coleta de informações?

Marina - O laboratório de estudos dos Oceanos e Clima, do qual faço parte, já possui tradição na pesquisa Antártica. É uma região de grande importância para o clima global que afeta diretamente as nossas condições climáticas regionais.

A formação dos ciclones na América do Sul e a intensidade das chuvas, por exemplo, muitas vezes estão relacionadas as massas de água e ar vindas dessa região.

Dessa forma, a variabilidade dessa região é uma questão muito importante e que vem sendo amplamente estudada. Porém ainda necessitamos de muita pesquisa e muita coleta de dados para compreender melhor esses processos.


Todo o ano há cruzeiros oceanográficos para o Oceano Austral, em cooperação com a Marinha do Brasil, para a coleta dessas informações, mas ainda há muito a ser feito.

O embarque é maravilhoso porque não há como não se impressionar com a grandiosidade do lugar, é realmente fantástico e inóspito, com geleiras impressionantes e ventos muito fortes. Porém o trabalho durante o embarque é muito intenso, temos apenas aquela oportunidade de coletar os dados e tudo tem funcionar, apesar das condições climáticas.


Mulher - Quais seus planos e projetos?

Marina - Primeiramente preciso terminar o mestrado, pois estou ainda no meu primeiro ano de curso. Após seu término, pretendo seguir no doutorado, ainda no tema da oceanografia Antártica, que acho fascinante. Porém pretendo fazer o doutorado fora do país. Esse é meu sexto ano aqui na Furg, que foram ótimos para meu crescimento, mas é necessário ampliar os conhecimentos, assimilar a visão de outros cientistas e trazer ideias novas para quando eu voltar.

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