DESTAQUE NAS ÁGUAS PROFUNDAS
DO ANTÁRTICO
Marina do Valle, oceanóloga formada
pela Furg e mestranda do Programa de Pós-Graduação em Oceanografia Física,
Química e Geológica (PPGOFQG), também da mesma Universidade, obteve reconhecimento
ao apresentar seu trabalho na conferência do Programa Mundial da Unesco/ONU
para Estudos do Clima, em Denver, Colorado. A conferência contou com cerca de dois
mil participantes, oriundos de 86 países. O tema apresentado pela carioca foi
sobre as alterações nas águas profundas do oceano Antártico nos últimos 50
anos.
Por Bruno Z. Kairalla
Fotos: Arquivo Pessoal/Divulgação
Aos
23 anos, Marina do Valle Chagas Azaneu
obteve suas pesquisas e estudos premiados em um congresso promovido pela Unesco/ONU. Morando em Rio Grande há
seis anos, a carioca chegou aqui em busca da conceituada graduação oferecida
pela Universidade Federal do Rio Grande
(Furg).
Formada em Oceanologia no
ano passado, Marina decidiu ingressar neste ano no Mestrado do Programa de
Pós-Graduação em Oceanografia Física, Química e Geológica (PPGOFQG).
Ela também
atua junto ao Laboratório de Estudos dos Oceanos e Clima do Instituto de Oceanografia da FURG e ao INCT- Criosfera.
Sua participação na conferência do Programa Mundial da Unesco/ONU para Estudos do Clima (WCRP - World Climate Research Programme) em Denver, Colorado, ocorreu
na semana entre os dias 24 a 28 de outubro. O seu trabalho, "Antarctic Bottom Water Changes During the
Last Fifty Years", investiga as alterações das propriedades ocorridas
nos últimas 50 anos nas águas de fundo do oceano Antártico.
E, claro, como não
podia ser diferente, o trabalho foi premiado na conferência como "Outstanding
Poster Presentation" (apresentação excelente), na área de "Oceans & Climate". Nos
próximos parágrafos, ela nos conta como foi sua experiência.
Mulher Interativa - Como você avalia a
conferência e quais outros trabalhos que lhe chamaram sua atenção?
Marina
- Considero a conferência excelente,
muito bem organizada e bastante abrangente. Havia mais de 1,9 mil participantes,
oriundos de 86 países distintos, com grande participação de pesquisadores de
países em desenvolvimento. Foram abordados diversos temas, entre eles as formas
de entendimento, detecção e previsão de eventos climáticos extremos, como
chuvas intensas, vendavais e furacões, que causam tamanha destruição.
Outro importante tema abordado foi a
questão da pesquisa climática a serviço da sociedade, os meios de transmitir o
conhecimento e seus resultados científicos para a sociedade, questão muito
importante atualmente. Os trabalhos que mais me chamaram a atenção foram
aqueles que tinham como tema o impacto das mudanças climáticas nos eventos extremos
no Brasil e em países em desenvolvimento, assim como os trabalhos com enfoque
em questões práticas e imediatas, como mensuração do impacto dessas mudanças na
produção de importantes itens agrícolas.
Mulher
- Quais foram as principais conclusões
do seu trabalho e o que você acha que chamou atenção dos organizadores?
Marina
- Os resultados mostram que ao redor de
toda a Antártica as águas que são formadas na região, e que posteriormente
circulam pelos demais oceanos, estão sofrendo mudanças de temperatura,
salinidade e densidade. Essas mudanças podem ser causadas, por exemplo, pelo
derretimento do gelo presente no continente Antártico e pela intensificação dos
ventos da região.
Essas alterações no gelo e atmosfera,
são consequência do aquecimento atmosférico que vem sendo observado nas últimas
décadas. As mudanças nas propriedades dessas águas pode, em longo prazo,
alterar a circulação oceânica global - o que trará graves consequências
climáticas, afinal o oceano possui forte influência no clima de todo o globo.
Penso que o trabalho chamou a atenção dos organizadores, pois o tema é
extremamente importante de ser debatido. São resultados claros, que apontam
para mudanças em fatores oceânicos com possíveis e futuras consequências
globais.
Mulher
- Como a notícia de que a apresentação
foi considerada excelente foi recebida por seus colegas e professores?
Marina
- Acho que a notícia foi boa, principalmente
para divulgar a pesquisa brasileira em um congresso internacional. Foi recebida
com muito entusiasmo e alegria por todos. Infelizmente meu coorientador, que me
ajudou bastante durante todo o trabalho, ainda não sabe, pois está numa viagem
desde a minha chegada.
Mulher
- O que te deixou mais ansiosa, nervosa
e até insegura para apresentar o trabalho?
Marina
- O laboratório do qual faço parte
possui ótimos pesquisadores na área de pesquisa Antártica, assim como grandes
projetos que incluem participação de outras universidades e coletas de dado na
região. Infelizmente ninguém mais do grupo de pesquisa pode ir à conferência,
então estava bastante preocupada em representar adequadamente a instituição e
meus orientadores.
Além disso, recebi auxílio da FURG e do
INCT da Criosfera para a viagem, então a responsabilidade de trazer resultados
positivos era maior ainda. Mas acho que o que me deixou mais apreensiva foi
apresentar os resultados e discuti-los com excelentes pesquisadores brasileiros
e estrangeiros, que até então eram apenas nomes que eu admirava.
Mulher
- Como você resumiria as alterações na
água da Antártica nos últimos cinquenta anos?
Marina
- Acredito que devido a diversos
fatores, como o aquecimento atmosférico, a intensificação dos ventos e dos
giros oceânicos na região antártica, as águas de fundo produzidas na região tem
se tornado mais quentes nos últimos 50 anos. Além disso, o derretimento do gelo
continental e a menor espessura do gelo marinho levaram a diminuição da
salinidade dessas águas. Todos esses fatores levam a águas menos densas, que
podem ter como consequência a modificação do padrão de circulação.
Mulher
- Como surgiu a ideia de investigar as
águas do Antártico e o que mais te impressionou durante o período de pesquisa e
coleta de informações?
Marina
- O laboratório de estudos dos Oceanos e
Clima, do qual faço parte, já possui tradição na pesquisa Antártica. É uma
região de grande importância para o clima global que afeta diretamente as
nossas condições climáticas regionais.
A formação dos ciclones na América do
Sul e a intensidade das chuvas, por exemplo, muitas vezes estão relacionadas as
massas de água e ar vindas dessa região.
Dessa forma, a variabilidade dessa
região é uma questão muito importante e que vem sendo amplamente estudada.
Porém ainda necessitamos de muita pesquisa e muita coleta de dados para
compreender melhor esses processos.
Todo o ano há cruzeiros oceanográficos para
o Oceano Austral, em cooperação com a Marinha do Brasil, para a coleta dessas
informações, mas ainda há muito a ser feito.
O embarque é maravilhoso porque não há
como não se impressionar com a grandiosidade do lugar, é realmente fantástico e
inóspito, com geleiras impressionantes e ventos muito fortes. Porém o trabalho
durante o embarque é muito intenso, temos apenas aquela oportunidade de coletar
os dados e tudo tem funcionar, apesar das condições climáticas.
Mulher
- Quais seus planos e projetos?
Marina
- Primeiramente preciso terminar o
mestrado, pois estou ainda no meu primeiro ano de curso. Após seu término,
pretendo seguir no doutorado, ainda no tema da oceanografia Antártica, que acho
fascinante. Porém pretendo fazer o doutorado fora do país. Esse é meu sexto ano
aqui na Furg, que foram ótimos para meu crescimento, mas é necessário ampliar
os conhecimentos, assimilar a visão de outros cientistas e trazer ideias novas para
quando eu voltar.
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