16 de abril de 2010

A geração Jeans e a obediência


Disciplina e obediência parecem ter se retirado da condição infantil juntamente com os laços azuis e os engomados aventais brancos dos antigos uniformes escolares. Aposentou-se a palmatória – o que foi ótimo.  Depois foram sumindo os cadernos de caligrafia, que domavam a letra; a memorização da tabuada, que facilitava pela vida afora as operações de cálculo. Junto foram sendo banidas práticas de formação de hábitos de estudo e as normas que regulavam comportamentos. Com o jeans e tênis de marca, veio uma geração protegida das exigências e cobranças. 
 
Surgiu há muito tempo e se instituiu como sagrada a idéia de que o diálogo é a chave mestra da educação: conversar sempre, impor jamais. É proibido proibir. Antes de largar fraldas e bicos, nenês de dedo em riste apontam desejos prontamente atendidos, às vezes retardando o desenvolvimento da fala – que só se desenvolve bem com o esforço de treinamento. Desde a mais primitiva infância, é preciso explicar, justificar, convencer as crianças a cada situação em que se precise contrariar sua vontade, independente da natural limitação infantil de entendimento.  Dar ordem, impor limites, exigir tarefas e hábitos? Não, nunca: isto é autoritarismo.  A palavra “não” precisa andar acompanhada dos “porquês”, passou a ser insuficiente por si mesma.
Na sempre e cada vez mais difíceis negociações entre adultos e crianças, passaram a ser feitas traduções simplificadas do mundo adulto para conseguir a custo de muita paciência que aceitassem o que deva ser feito. Assim foi se fertilizando a tirania infantil, que depois evoluiu para a tirania juvenil, deixando negligenciado o desenvolvimento do caráter através da obediência, da capacidade de domar os impulsos, de suportar privações, de moderar a linguagem.  A liberdade dos pequenos e jovens passou a ser imperativa, respeitada com a prioridade de direito que foi adquirido. 
 
O mundo aos jovens mostrado é o universo das facilidades, dos desejos e dos gozos. Esse equívoco educacional, chancelado em épocas passadas pelas teorias pedagógicas e psicológicas de que toda restrição gerava trauma, descambou na formação de pessoas pouco resistentes à frustração.  Isto não deve gerar surpresas. O caráter, a personalidade de um ser humano vai sendo forjado a partir de suas vivências, lapidado pelas experiências e ensinamentos fornecidos na infância. Se nada ou pouco é ensinado e tudo é ofertado fartamente, como esperar que tenham vocação para o esforço? Como pretender que tenham sonhos e ideais, se sua vida é movida por vontades instantâneas prontamente atendidas?
                É tempo de perceber o resultado de tamanhos equívocos. Trocar a ilusão de dar aos filhos o mundo pronto, pela sensata e difícil missão de lhes oferecer ensinamentos necessários para que se estruturem internamente, para que se tornem fortes, equilibrados, que sintam prazer no esforço; que compreendam o valor das renúncias. Ai está a vacina contra o mundo das ilusões que tem empurrado gerações para o vazio de ideais e para o abismo das drogas.


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