Quando pequena, achava que ia ver Deus nas nuvens. Cresci e continuei me encantando com elas. E, no fundo, infantilmente, sempre procurando nelas imagens à semelhança da figura de um velho e bonachão senhor que nos acostumamos a ter Dele.
Tanto, que um dos meus passatempos prediletos, ou melhor, ócio religioso, é me perder na contemplação do azul do céu, admirando as nuvens que mudam rapidamente formando figuras desenhadas por minha imaginação.
Na espreguiçadeira, herança precoce pela morte de meu pai, muitas tardes de verão me espalhei admirando as nuvens. Da infância à adolescência, colecionei figuras e sensações com as cores do céu e das nuvens. Nas mais variadas nuances – com a luminosidade de dias claros e alegres, ou no acinzentado sinistro dos prenúncios de temporais.
Cheguei até mesmo ao ápice da infantilidade de acreditar que elas eram macias, e que ao toque dos meus dedos me proporcionariam a sensação de leveza que advém de uma bola de algodão.
Até hoje reservo um momento do meu dia ou da noite para olhar para o céu, não importando se estou indo para a cama, caminhando pela rua, espichando os olhos pela janela do carro ou daquela pequenininha de avião. Mas nesse último posto observatório, uma pontinha de grandeza toma conta de mim no sonho realizado: afinal, lá estou eu finalmente sentada nas nuvens!
Ou então, quando já no portão do prédio subo correndo os dois lances de escadas para enfiar na bolsa, às pressas, a câmera digital. Sei que pela rua encontrarei ‘muitos céus e muitas nuvens’. E que vou querer guardá-las para quase todo o sempre no meu momento nada eterno. Com flash ou sem, tipo portrait ou não, vou captando imagens de todo o jeito, de toda cor, em qualquer lugar, em qualquer céu.
O Aurélio me indica mais de meia dúzia delas (alta, ardente, atômica, baixa, estelar, média, noctilucente, derramadeira). Ou ainda as nuvens de estrelas e a Nuvem de Magalhães (duas nuvens estelares visíveis a olho nu e próximas ao Pólo Sul, descobertas pelo navegador português Fernão de Magalhães, 1480-1521), enquanto a canção “Sky blue Sky” (Céu, azul Céu), da banda Wilco (country alternativo) vai embalando o emaranhado de palavras desta crônica tão simplesinha e sem um final aparentemente conclusivo.
Mas, como muitas coisas que aparentam ser algo que não são, fica a suspeita de que talvez eu já tenha pulado do útero de minha mãe olhando as nuvens pela janela de uma maternidade, em noite estrelada de um quase verão.
Rosane Leiria Ávila
http://palavras-versus-palavras.blogspot.com/
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