7 de março de 2011
"Domar o coração", por Sílvia Lúcia
Atitudes de fúria súbita fazem pensar no que faria um ser humano se despojar de toda sua humanidade e agir como o mais feroz dos animais.
Os crimes movidos por doentias paixões existem desde tempos remotos, inspirando o teatro e o cinema com enredos trágicos. Embora pairem no sombrio território da loucura, gozam de certa complacência. De algum modo, os amores loucos encantam, ainda que assustem.
Diferentes são os atos praticados sob violenta emoção motivados por pura raiva. Cada vez mais freqüentes e variados, esses crimes de ódio são um sinal do crescente desequilíbrio coletivo.
Uma sociedade calcada sobre valores equivocados, individualistas, materialistas, nem deveria se espantar de estar gerando – como subproduto - pessoas intolerantes, arrogantes, egoístas, prepotentes e tantos outros adjetivos negativos.
Pessoas narcisistas que amam menos outras pessoas, mas são apaixonadas por coisas e se comportam como birutas de aeroporto, seguindo os ventos ditados pela mídia, são seres vulneráveis, com limitada capacidade de pensar e baixa capacidade de resistir a frustrações.
Para piorar, popularizou-se que sadio e normal era dar vazão às emoções. Várias teorias científicas ratificaram a idéia de que não se devesse reprimir afetos.
Da era da repressão, da contenção, escorregou-se para o tempo dos imperativos do coração, do seguir cegamente os impulsos, do buscar satisfazer todos os desejos, independente do que isto custasse. O resultado está agora se tornando nítido para quem queira ver e refletir.
O coração é um músculo instável, sensível as sutilezas das emoções. O músculo cardíaco reage instantaneamente diante das emoções vividas e o cérebro tem dificuldade de pensar quando o coração está agitado demais.
A relação de mútua interferência cérebro-coração reverbera emoções, que se repetem em eco e levam a um colapso temporário por excesso de estímulos, restringindo a capacidade de raciocínio.
Se os batimentos aceleram e a pessoa não está correndo, o cérebro fica confuso, tem dificuldade de saber o que está aconte cendo e, por isto, acaba pensando errado, agindo errado.
Compreendendo este funcionamento é fácil entender que, assim como o exercício físico amplia a capacidade cardíaca e o coração passa a bater menos para fazer mais movimento, é possível “treinar” para desenvolver resistência cardíaca aos solavancos existenciais e suas freqüentes frustrações.
Quem desejar não ser refém dos imperativos emocionais precisa domar seu coração para ser capaz de pensar – sempre – antes de agir e até mesmo de falar.
Essa é a maior liberdade e o maior poder que alguém pode conquistar: domar o próprio coração.
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