Crônica: JU Blasina
“As pessoas não são boas umas com as outras”, já dizia o meu querido Hank*.
E nem é preciso acompanhar o noticiário ou as páginas policiais para constatar a verdade de tal afirmação.
Basta ser uma pessoa e, inevitavelmente, ser também vítima e malfeitor.
Ser um idiota completo faz parte de nossa natureza, por mais lamentável que isso seja, por mais que possamos travar uma luta diária, e por vezes vencer, e em muitas delas abafar, jogar ao longe, trancar num lugar secreto e obscuro a parte maligna que mora em nós, ela ainda continuará lá, a morar em nós.
A dualidade faz parte da vida, da sociedade e, em menor escala, do ser.
Um mesmo momento especial, repleto de boas sensações, acaba sendo marcado – e, infelizmente, de forma até mais profunda – por atitudes de pessoas que, simplesmente, não conseguem ser boas umas com as outras por umas poucas horas consecutivas.
São mesquinhas, invejosas, grosseiras, egoístas, pisoteiam outros na tentativa de ganhar algum destaque, ainda que por más razões, já que não possuem méritos que os elevem por si.
Vemos isso em todo lugar: em festas de família, em eventos culturais, dentro de nossos relacionamentos mais seletos, dentro de todas as páginas, das sociais às policiais:
“As pessoas não são boas umas com as outras”
Não é que elas não queiram ser...
Elas simplesmente não conseguem.
E muitas vezes nem percebem o quão más estão sendo.
E muitas vezes desconhecem o quão más podem ser, até que a ocasião lhes oferte uma oportunidade.
E o pior não é saber que elas estão em nós, e que nós, estamos nelas, o pior é que nos esqueçamos disso!
Aquele que se julga melhor anda como se fosse mais alto, senta como se a ele pertencessem todas as cabeceiras, fala como se de tudo soubesse mais, julga – aos outros – sem dar margem a qualquer defesa e, assim, deita a cabeça no mais confortável dos travesseiros: o da ignorância!
“As pessoas não são boas umas com as outras”
Mulheres agridem crianças, crianças agridem umas as outras, homens agridem mulheres – nem sempre necessitando de força física – e eu, me pergunto: onde foram parar os instintos? O maternal, o fraternal, o protetor...
Todos parecem subjugados pela besta que ocupa cada meio-ser. E por que a outra metade, tão forte quanto, se deixa apagar? Difícil saber...
Talvez por ser de preservação o instinto primordial, talvez por ser mais cômodo dar a vitória do que comprar luta, talvez por sua natureza ser tão boa que não conceba lutar, agredir a outrem, ainda que para se defender...
Talvez porque, assim como a vaca que pasta no campo, presa por uma corda fina, sua principal amarra seja a psicológica – não lhe faltam forças, o que lhe falta é vontade de lutar!
Falta a ciência de que há outro mundo além daquele ao qual está amarrada.
Como a mulher que se sujeita a brutalidade de um homem, quer ele atenda por marido ou não. O que lhe impede de revidar, não é uma aliança, não é um sobrenome, não é amor...
É a falta de forças de alguém que teve a autoestima esmagada de tal forma, e por tanto tempo, que já nem consegue enxergar o absurdo que é qualquer mulher ser tratada como uma mulher qualquer, justo por aquele que deveria ver nela – e dar a ela – só a melhor parte do seu ser.
Justo? Não, nem um pouco!
“As pessoas não são boas umas com as outras, talvez se elas fossem suas mortes não seriam tão tristes”.
E suas vidas, já não são?
Os versos citados foram extraídos de “O estouro”, um poema de Charles Bukowski - diga-se de passagem, o preferido da autora desta crônica.
E-mail: jrblasina@yahoo.com.br
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