A trajetória:
- Texto: Liége Barbosa
De 1978, quando se tornou uma casa aberta, até hoje, o Centro Espírita Oxum e Xangô construiu uma forte história pelas mãos de Mãe Graça D’Oxum. Junto a seus filhos, ela guia até hoje com pulso firme os passos da Casa, orientando e decidindo os caminhos a serem tomados.
Crédito Liége Barbosa
Porém, são muitas histórias a serem contadas. Passagens felizes, tristes, momentos desafiantes, casos de intolerância religiosa e de superação. Abaixo, alguns dos acontecimentos mais marcantes na história da Casa:
- A primeira sede do Centro foi na rua Dr. Nascimento, antiga residência da família de Iyá Graça. Lá foi o começo da trajetória da Casa, que em 1978 abriu suas portas para prestar assistência espiritual a quem precisasse.
- Desde o início, Iyá Graça sempre teve como prioridade preservar seu Iylê, permitindo a entrada de novas pessoas que fossem apresentadas por filhos, amigos ou conhecidos. Com isso, ela garante a sintonia de uma família, ou, um grupo unido e sólido. Além das cerimônias religiosas, Iyá Graça também realizou batizados e casamentos na sede da Dr. Nascimento, onde permaneceu por 21 anos.
- Graça realizou por muitos anos um trabalho com crianças carentes, auxiliando também suas famílias no que fosse possível, com roupas, alimentos, moradia, entre outros. Em 1996, esse trabalho se expandiu de tal maneira, que para ajudar essas e outras pessoas de forma mais adequada e esperando poder contar com recursos públicos, os filhos da Casa criaram a associação “Entidade Cultural Beneficente Capitão Antônio Bento dos Santos”, em homenagem ao pai de Iyá Graça.
- Mas, os desafios não foram poucos. Devido à presidente da associação ser considerada Mãe de Santo, houve muita resistência pela maioria das pessoas em aceitar e entender a proposta da entidade, que era a de ser uma família substituta para as crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. A entidade acolhia a 45 jovens, que passavam a morar no abrigo, sendo totalmente mantidas pela casa.
- Os preconceitos foram vários, os quais fizeram com que Graça parasse com a religião e se dedicasse somente às crianças e adolescentes. Mas isso não foi o suficiente. A pressão continuou e no final de 1999, já sem condições ideais, as crianças foram encaminhadas para outros abrigos, terminando assim a história da instituição, marcando a vida de todos que se envolveram com o projeto.
- No período em que se dedicou exclusivamente à instituição e com o objetivo de melhor abrigar as crianças, Iyá Graça optou por mudar-se da Dr. Nascimento para a rua Vitorino. Com o fechamento da instituição em 1999, a partir do ano 2000, iniciava uma nova fase de sua vida religiosa, que foi por ela retomada. Esta segunda e atual sede tem sido cenário de muitas lutas e realizações.
Mirian Fichtner
- Intolerância: De 2001 a 2003, o Centro viveu um caso inédito de intolerância religiosa no Brasil quando um vizinho, sentindo-se prejudicado pelo barulho nas festas realizadas à noite, fez uma denúncia à Brigada Militar, o que gerou um processo no Ministério Público por “perturbação de sossego”.
Na ocasião, o Centro já era regularizado, possuía projeto acústico, Estatuto Social, Alvará de Funcionamento da Prefeitura Municipal, Alvará de Prevenção Contra Incêndio, dos Bombeiros. Intimada pela Justiça a fazer conciliação, a presidente da Casa, Gissele Silva, não quis acordar, tendo em vista que entre outras medidas, tal acordo previa limite de horário de funcionamento do Centro.
O juiz responsável pelo caso condenou a presidente da Casa a 30 dias de prisão em regime aberto. Por não possuir antecedentes criminais, transformou a pena de Gissele Silva em quatro anos em regime condicional, devendo apresentar-se bimestralmente no cartório para justificar a atividade profissional e manter atualizado o seu endereço. Na condenação, o juiz também limitou as atividades do Centro, proibindo a imolação de animais, costume dos rituais afro.
A partir da condenação, que ganhou notoriedade nos veículos de comunicação, iniciou-se uma mobilização contra a intolerância religiosa. A luta ganhou grandes dimensões, e o caso foi assumido pelo advogado de São Paulo, Hédio da Silva Júnior da ONG Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades. Acostumado a causas semelhantes, Hédio, entrou com o pedido de habeas corpus, que foi julgado em segunda instância no dia 31 de outubro de 2003, no Fórum Central de Porto Alegre.
Naquele dia, religiosos vestindo trajes usados durante os cultos e carregando atabaques presenciaram o julgamento, em defesa da liberdade religiosa. A pena foi convertida em uma multa, cuja quantia foi destinada a entidades assistenciais. “Como conseqüência dessa grande vitória, o movimento afro-religioso no Brasil saiu fortalecido, pois o que se viu foi a defesa de uma religião toda, e não somente os interesses de uma casa de religião. O Centro ganhou ainda mais credibilidade e respeito em dimensões nacionais”, garante a Iyá.
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