20 de agosto de 2011

O CUTUQUE PIONEIRO DE GRACE





Com trechos editados da reportagem 
em que Grace é entrevistada pelo 
jornalista Álvaro Machado 
para a revista Trópico.

Quem já a assistiu mesmo pelo Youtube, sabe: basta uma leve arqueada de suas sobrancelhas ou um rosto enrugado, para surgirem boas risadas. Sagitariana louca e muito determinada, ela sempre foi diferente do convencional e também dos demais

Avessa a rótulos, não é exagero, tão pouco rótulo, defini-la, em seus 47 anos, como um ícone da renovação do humor contemporâneo – aquele sem discriminação, em que o cérebro deve rir antes da boca, como já escreveu o crítico teatral, jornalista e dramaturgo Sérgio Roveri, referindo-se ao seu projeto autoral mais frutífero, o Terça Insana – que, em outubro, completa sua primeira década sem jamais sair de cena. Sua praia autoral? Monólogos e diálogos.


Ela é uma vencedora”, resume o supervisor cultural da SMEC, Luis Henrique Drevnovicz (abaixo). E continua:


"Como atriz e diretora, a Grace trilhou o caminho mais difícil e conseguiu uma coisa rara que é alcançar reconhecimento nacional através do teatro e não pelos grandes veículos de massa. Ela faz sucesso no país inteiro, sempre sendo fiel aos seus princípios”, frisa o supervisor que a conheceu na adolescência, dentro dos portões do colégio Santa Joana D’arc


“Eu estava na oitava série e ela no ensino médio”, pontua Luis Henrique, que, na época, perdeu para sua colega as eleições da presidência do grêmio estudantil. “Depois ela mesma me convidou para atuarmos juntos”, recorda.

E por maior que seja a força e a expressão que seu projeto tenha alcançado nacionalmente, jamais elas serão maiores do que a trajetória de sua fundadora, que assim o defende: “A Terça Insana cumpre o papel de fazer a gente relaxar em sociedade e rir de nós mesmos”.

TRAJETÓRIA


Formada em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul desde 1981, Grace não tardou a se mudar para São Paulo. Fez isso em 1984. Antes, porém, morou por um tempo na Inglaterra, retornou, aceitou trabalhos, como “O Acre Vai à Rússia”, uma série de textos surrealistas com figurinos malucos, que rendeu ao grupo vários prêmios em POA.


Numa destas apresentações foi vista pelo escritor Caio Fernando Abreu, de quem se tornaria uma fiel amiga e receberia valiosos conselhos para sua carreira. “Foi ele quem me incentivou a ir para São Paulo”, adiciona.

Na capital paulistana, começou a atuar como garçonete. Com saudades do palco, foi num dos bares malucos que a atriz voltou a brilhar. “Largava a bandeja e fazia uma ceninha, para depois continuar servindo”, lembra.



E assim, aos poucos, foi participando de espetáculos e criando os seus próprios. Montou o primeiro grupo e passou a retirar o melhor de suas apresentações nos bares.

Essa é minha formação de verdade, pois em bar você tem que ser rápido, impactante e objetivo. Tens de entrar e pá!, porque, na verdade, ninguém foi lá para te ver, mas para beber e conversar”, justifica.




Depois de criar e participar de outras peças, Grace atinge visibilidade ao levar para as grandes casas culturais o espetáculo “Não Quero Droga Nenhuma” – sucesso de público, que ficou cinco anos em cartaz.

Depois de uma entrevista para o programa de Jô Soares, ainda no SBT, Grace é sondada pela TV Globo para fazer uma minissérie com a Regina Duarte, em “Delegacia de Mulheres”. Antes, porém, ela foi convidada a atuar na “Escolinha do Professor Raimundo”.

“Cheguei apavorada e pedi para não falar mal de ninguém, essa coisa de bullying, depreciativa. Eles queriam me dar o papel de uma mulher que apanhava do marido e gostava. Eu respondi que não faria. 



Então, ofereceram-me outras duas personagens, que também recusei, até chegar a uma jornalista da imprensa marrom que eu curti. Mas tempos depois começou a vir no meu texto um bocado de piada pejorativa para chamar os outros de gay, etc. 




Fiquei muito infeliz”, salienta ela, que ficou no programa por um ano e meio, quando foi parar na “lista negra” da emissora.

Para gravar no Rio, Grace ia e voltava para São Paulo de ônibus. “Certa época fui ao Rio mais de dez vezes seguidas, mas Chico Anísio não andava bem e nunca podia gravar. Lá pela 12ª vez, a maquiadora comentou: “Ah, que pena, não vai gravar, ficou tão boa essa produção de hoje...”. 



Então eu disse:Pois eu acho isso um saco! Viajei sete horas de ônibus para estar aqui, acho uma falta de respeito com as pessoas que vieram”.

Aí chegou um ator e disse:Não, mas a TV Globo é ótima, dá 13º salário, dá cesta de Natal, a 'Escolinha' dá férias...”. Eu respondi: “Eu não quero cesta de Natal, eu vim para trabalhar, não para entrar em férias”. Eu tava puta! Todo mundo foi saindo, meio assim, e quando me virei estava à irmã do Chico Anísio atrás de mim, com aquela cara...

Ao mesmo tempo circulava uma lista de pessoas que iam sair, porque a 'Escolinha' tinha mais de 80 contratados que quase nunca eram chamados, que não gravavam. Também tinha um lobby de empresários que privilegiava com gravações os atores que representavam. Tinha tudo isso.

Até que me colocaram na lista negra. Saí da Globo, mas todo mundo achava que eu ainda trabalhava lá e não me chamavam, pensando que meu cachê devia ser muito alto. Fiquei sem trabalho. Eu estava com um filho pequeno e tinha acabado de me separar”, relata Grace, que aos poucos, foi retornando aos palcos.


Depois de oito meses em cartaz, fez o programa “Rá-tim-bum” (TV Cultura), mas não queria mais ser atriz, se sentia cansada e queria qualquer coisa que lhe trouxesse estabilidade. 





Parou de atuar por quase sete anos, principalmente, depois de ser infectada por uma bactéria em sua corrente sanguínea, por conta de um tratamento dentário que fazia na época.

“A bactéria acabou se alojando no meu coração. Voltei com endocardite e fiquei três meses internada no Hospital das Clínicas, em São Paulo. Mas foi a melhor coisa que podia ter acontecido, porque parei tudo e dei um tempo para mim. Ser atriz é um exercício de doação, ser mãe é exercício de doação, toda essa luta, toda essa batalha e, de repente, passaram a cuidar de mim. Isso foi muito bom!”.

Incomodada com a pouca criatividade e expressão do humor no Brasil, começou a escrever os primeiros textos do Terça Insana. 





“Chamei atores que já tinham trabalhado comigo para poder falar alguma coisa diferente, novas linguagens de humor, desde que não houvesse bullying. As pessoas traziam textos, suas idéias, e eu dirigia. No primeiro ano, tive 150 atores convidados. Alguns passaram a integrar o elenco fixo. Passamos a viajar todos os fins de semana, desde 2005. Fizemos praticamente o Brasil inteiro e também Portugal”, ilustra a brilhante papareia.

Críticos do teatro no Brasil, já compararam o formato da Terça Insana com o americano humor “stand up” e muitos consideram Grace como a mãe da popularização deste gênero no país – algo que ela protesta: “O que fazemos é bem brasileiro”, frisa.

E formula sua ideia: “Essa cutucação que eu tenho nos meus textos, uma coisa que sempre fiz, lá na época em que atuei nos bares, eu soube recentemente que se aproxima do que chama de "stand up". 



Na “Terça Insana”, geralmente, a gente pega o motivo da chacota e inverte o esquema, não é o que acontece hoje por aí, com quem diz fazer stand up, pois não é simplesmente contar uma piada, tem de existir toda uma construção. 


Também não é só falar o que vem na telha, como nos blogs. Tem, coisas que perpetuam os preconceitos, e isso não é "stand up". Essa comédia não é só ficar em pé, falando sem refletir, mas é um humor de opinião, não tem nada que ver com autopromoção e humilhação alheia. 




Então tu assiste a muita prepotência no palco. Pessoas que declaram coisas assim: “Gente de Rondônia tinha que ser morta, que gente feia!”. Isso é lá engraçado?!”, questiona ela. 

“Admiro-a pela sua irreverência, por nunca ter aceitado se enquadrar nas convenções e por ter conquistado sucesso e popularidade de uma forma que vai à contramão da grande mídia. Sem dúvida, ela representa a grande renovação do humor no teatro brasileiro”, conclui Drevnovicz.



INSANA IDEIA
Criado e dirigido por Grace Gianoukas, Terça Insana é um projeto teatral nascido em outubro de 2001, em São Paulo (SP), dedicado ao:

- Estudo da comédia brasileira

- À formação e transformação de atores em autores de seus próprios personagens e textos

- Ao fomento das produções originais de humor adulto contemporâneo, visando colaborar com a comediografia nacional.

AS FRENTES DO PROJETO



Terça Insana Produções Artísticas - Empresa cultural dedicada à produção, captação de recursos e montagem de espetáculos de teatro, música, dança, shows multimídia, vídeos, DVDs e a realização de eventos ligados à literatura, artes plásticas, quadrinhos, grafiti e outras diversas manifestações artísticas.

Núcleo de criação teatral - Formação de autores e preparação de atores para comédia, em constante atividade

Temporada paulistana de shows inéditos - O elenco cria, a cada mês, diferentes shows temáticos para as apresentações que acontecem em São Paulo, às terças-feiras.

Turnês nacionais - A cada ano, a Terça Insana reúne suas criações mais recentes e monta um novo espetáculo para ser apresentado pelo país durante turnê anual.

Criação, produção e apresentação de shows para o mercado corporativo.



A TERÇA EM NÚMEROS...

+ 30 milhões de acessos no Youtube (somando os vídeos oficiais e não oficiais)

+ DOIS milhões e 100 mil espectadores

+ de 400 artistas convidados

+ de 500 personagens CRIADOS

+ de 410 diferentes shows


DECLARAÇÕES DE GIANOUKAS

- “Deixa eu te dizer uma coisa: antes que riam de mim, eu não preciso... Eu rio de mim antes que qualquer um o faça, sempre fui assim”.

- “Parece haver um elo perdido entre a Leila Diniz e a Mulher Melancia”;

- “É importante oferecer para as novas gerações um ambiente que elas possam criar, refletir e oferecer sua opinião”;


- "... eu penso muito antes de escrever, aliás, não sobre a minha vida pessoal, mas sobre coisas que me incomodam na sociedade, fatos que me irritam profundamente e que acho de uma incoerência muito... engraçada. Aquilo fica martelando na minha cabeça, até que crio um personagem para dar voz ao que penso".


DAMA DO TEATRO

- “Dias Felizes” de Samuel Beckett (1985)


- “Nas Gôndolas do Tietê” (1985)

- “Tonturas de Verão” (1987)

- “SP em Surto” (1988)

- “Carroça Sem Rumo” (1989)

- “Troféu Creme de la Creme” (1986 à 1992)

Espetáculos criados e produzidos coletivamente pela A Cia Harpias e Mansfield, trio formado por Grace Gianoukas, Ângela Dip e Marcelo Mansfield:

- “O Amigo da Onça”, direção de Paulo Betti (1987)

- “O Pequeno Mago”, com o Grupo XPTO (1996-1997)

- “Além do Abismo”, com o Grupo XPTO (1999)

- “Sobre o Amor e a Amizade”, de Caio Fernando Abreu (2002)

Como autora e diretora Grace criou e atuou nos seguintes espetáculos

- “O Pequeno Grande Pônei” – de 1987 a 1989

- “Não Quero Droga Nenhuma - A Comédia” – de 1990 a 1995

- “Paraíso”, direção de Luciene Adami – de 1998 a 2000

- Terça Insana - Show de humor, semanalmente renovado – desde 2001.



NA TEVÊ

- “Chapadão do Bugre”, minissérie TV Bandeirantes – Direção de Walter Avancini (1986)

- TV MIX - programa diário de variedades – TV Gazeta- Direção de Fernando Meirelles (1987)

- O Grande Pai - seriado no SBT - Direção de Walter Avancini (1988)

- “Rá-Tim-Bum” - série educativa TV Cultura - Direção de Fernando Meirelles (1989)

- Escolinha do Professor Raimundo - TV Globo - Direção de Cininha de Paula (1993,1994)

- “Sex Appeal” - minissérie TV Globo - Direção de Ricardo Waddington (1994)

- “Castelo Rá-Tim-Bum” - série educativa da TV Cultura - Direção de Cao Hamburguer (1995)



TAMBÉM NO CINEMA

- A Festa – Direção de Ugo Georgetti (LM)
- Flores Impares - Direção de Sung Fai (CM)
- Eu não conhecia Tururú – Direção de Florinda Bolkan (LM)



PRÊMIOS

- Troféu Açorianos pelo espetáculo “O Acre vai à Rússia
- Mambembe de Melhor Atriz pelo espetáculo “O Pequeno Mago
- Prêmio APETESP de Melhor Atriz pelo espetáculo “O Pequeno Mago



VISITE

- www.tercainsana.com.br
- Canal no Youtube: tercainsanaoficial

- Blog de Grace, “Pronto: Tô bem ridícula, já posso sair”: www.tobemridicula.blogspot.com

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