23 de dezembro de 2010

Sozinhos, NUNCA. Inscreva-se!


Homens e mulheres 

Participem da 4ª edição da série:
Solteiros sim, Sozinhos NUNCA


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** Próximas edições programadas para o meses 
de janeiro, fevereiro e março de 2011!

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Irmã Nair Mazzochin

50 anos um chamado 
e uma resposta


Apague toda aquela imagem conceitual que você tem de Irmã Nair. Apesar do senso comum sobre sua postura rígida e dos pulsos firmes que precisou para dirigir o Joana D’arc por  quase 27 anos, o Feliz Idade lhe convida a conhecer em sua edição especial de Natal, uma mulher não menos religiosa, não menos centrada, mas mais próxima da natureza e da extensão humana. 

Tímida, séria e avessa aos holofotes, aos 71 anos, Nair abre um pouco de sua intimidade e discorre sobre todos os erros, acertos e aprendizados dos seus 50 anos de Vida Consagrada na Congregação das Irmãs de São José.

Perdoa o mal feito e multiplica o bem”


Texto: Bruno Z. Kairalla – bruno.kairalla@gmail.com

- Há 50 anos, um chamado, uma resposta. Alegrias, certezas, bênçãos, como também dúvidas, dificuldades e muitos desafios... Quero agradecer de forma muita carinhosa, aos professores, aos funcionários, os pais e alunos que, juntos acreditamos em sonhos, superamos desafios e persistimos justificando nossa história de educadores de milhares de rio-grandinos, hoje espalhados pelos cinco continentes. Senhor, a Ti ofereço os frutos destes anos. Foste força, luz e paz. Tudo é obra tua e unicamente a Ti é devida a glória. Pai, perdoa o mal feito e multiplica o bem realizado. Obrigada - proferiu, por fim, Nair Mazzochin, chamada apenas por Irmã Nair, no discurso durante a missa de celebração dos seus 50 anos de vida consagrada na congregação das Irmãs de São José.


Sem jamais comemorar alguma data diante a ocasiões especiais, até mesmo pela timidez, Irmã Nair, desta vez, resolveu ouvir familiares e amigos. 


As homenagens do jubilado de ouro tiveram início com a missa celebrada na Catedral de São Pedro, no último sábado. No domingo, um almoço de confraternização na sala hoje ocupada pela Associação de Ex-alunas do colégio que dirigiu por quase 27 anos, reuniu pessoas importantes de sua trajetória. 



O clima de festa seguiu o estilo da reservada anfitriã: discreto, simples, bonito e também muito especial. Mas, na verdade, as homenagens dos 50 anos de sua religiosidade começaram uma semana antes, através de todo carinho que recebeu dos alunos da 8ª série do Ensino Fundamental e também do 3ª ano do Ensino Médio. - As homenagens dos alunos realmente me comoveram - acrescenta Nair. 

Natural da cidade Nova Pádua (RS), decretada município gaúcho desde março de 1992, e conhecida popularmente como “paraíso italiano” ou por apenas “pequeno paraíso”, Nair Mazzochin nasceu no dia 15 de julho de 1939, porém, só foi registrada em cartório dois dias depois, e desta forma ficou registrada a data de seu nascimento 17 de julho. 




De acordo com dados do IBGE de 2007, sua cidade natal não ultrapassa a margem dos 2,5 mil habitantes. Conhecida por um povo sério, acolhedor e também muito trabalhador, segundo o bispo diocesano dom José Mário Stroeher, de dentro do pequeno Município já saíram cinco bispos. “Sem falar nos padres e demais religiosos”, comenta dom José.

Nesta entrevista antológica concedida ao Feliz Idade, Irmã Nair fala sobre tudo. Começa de forma quieta, reservada, mas, aos poucos, vai permitindo ser questionado. Durante a conversa, ri, fala sobre o passado, toca em assuntos sérios e mostra-se menos inquieta e até mais brincalhona. 


Diz que apesar de usufruir do poder, jamais deixou que ele subisse a cabeça. Também discorre sobre as lições que obteve durante a sua trajetória, aponta as mudanças não só em seu temperamento, mas também em sua personalidade, e ainda ensina valiosos ensinamentos aos novos gestores da educação.


ENTREVISTA
Oportunidades não faltaram



Feliz Idade Analisando suas origens e trajetória, creio que a senhora pegou um pouco do espírito e da fibra de fibra de Nova Pádua...
Irmã Nair – Olha, eu saí de casa muito pequena, depois de brincar muito. Mas, apenas com nove anos e meio, fui estudar no colégio das irmãs que a recém tinham chegado em Nova Pádua. Íamos pela manhã e só voltávamos no final da tarde, como se diz, semi-internas. Um ano depois, eu fui interna. Então, eu pouco convivi com a minha família.

Feliz Idade – Sentiu falta desse convivência?
Irmã Nair – Senti sim, muita. Senti falta do pai e principalmente da mãe. Tenho outros dois irmãos, e uma irmã que nasceu quando eu tinha 13 anos. Pouco convivi com ela; só a via no período de férias. Meu irmão mais velho já faleceu, então, hoje somos três.

Feliz Idade – Conte-me mais sobre sua trajetória.
Irmã Nair – Fiquei em Nova Pádua até a conclusão da 5ª série, cursei o ginásio e o Magistério em Garibaldi; fiz dois anos de Noviciado, que era o mais indicado ao início do estudo religioso. Saí, fiz meus primeiros votos em dezembro de 1960. Trabalhei por sete anos no Colégio Sévigné, na capital gaúcha. Em Rio Grande, cheguei em fevereiro de 1968. Aqui cursei a faculdade de Estudos Sociais (Furg), com licenciatura plena em Geografia (UCPel). Após, cursei Pedagogia, com especialização em Supervisão Escolar. Durante todo este meu período de trabalho, de professora, de coordenadora de curso, de diretora, participei de muitos encontros, congressos, a nível nacional [cita lugares por onde passou, como Belém do Pará, Salvador, Fortaleza, Rio Grande do Norte...]. É uma atualização constante e sempre tem que ser assim. Depois fiz curso de especialização em Qualidade e Gestão, sem contar os cursos de especialização religiosa, em São Luis do Maranhão, outro de espiritualidade na Itália, depois França. Oportunidades não faltaram e não faltam para quem segue a vida religiosa.



Feliz Idade – Quais foram às lições que a senhora retira de sua trajetória como diretora de um dos mais conceituados colégios da cidade?
Irmã Nair – Em primeiro lugar: compreender mais as pessoas. Dar tempo para que o profissional cresça. Eu nunca decidi por uma demissão de um professor sem que ele antes trabalhasse dois anos comigo, a não ser que houvesse alguma falta maior. Isto porque este é o tempo para crescer. Muita gente aprendeu a dar aula conosco. 


Outra lição importante: saber escutar, ouvir, as pessoas. E nunca me posicionar frente a uma dificuldade ou a um desafio num primeiro momento, pois muitas vezes ele é bastante inconseqüente, pois se age menos com a razão e mais pelos sentimentos. Sempre tentei desempenhar muito mais o papel de conciliadora do que o de opressora.

Feliz Idade – Mas, talvez pela postura séria e rígida demais, a senhora sempre foi vista como uma pessoa muito exigente, de pulsos firmes na educação.
Irmã Nair – Ah, sim. Sempre fui exigente porque se os pais nos confiaram a educação de seus filhos, não foi em vão, pois eles optaram por uma escola católica, que tem uma tradição dentro da cidade.

Feliz Idade – Ao mesmo tempo, ao lado do irmão Jorge, diretor do Colégio Marista São Francisco, vocês, com o tempo, se tornaram uma referência da educação no Município, sendo, inclusive, admirados por isso...
Irmã Nair – Olhe, fiquei surpresa com todos esses elogios que recebi, achei até demais, mas se eles escreveram isso [referindo-se a todos homenagens que recebeu] é porque viram alguma coisa.

Feliz Idade – A senhora concorda que, geralmente, os alunos reclamam muito quando estão dentro da escola, mas depois que eles saem, ficam agradecidos pela educação que receberam?
Irmã Nair – Concordo e eu me sinto muito procurada por estes alunos. Sempre digo que quando saio, tenho que sair a prestações, porque em cada ponto que vou, eu paro e converso com alguém que passou pela minha vida, o que é muito difícil, pois minha memória hoje já não é mais a mesma. Hoje, ando cada vez mais esquecida...


Feliz Idade – O que difere a Irmã Nair do começo do seu chamado para a atual?
Irmã Nair – O crescimento. Em primeiro lugar, na própria maneira de me considerar como pessoa. Superei em partes a timidez. Hoje me considero uma pessoa mais calma, mais madura e também mais equilibrada. Uma pessoa mais tolerante, levando muito mais a pessoa compreender um erro do que punir pelo erro.

Feliz Idade – O carinho dos alunos aumentou depois que a senhora deixou a direção?
Irmã Nair – Sem dúvida. Hoje eu tenho uma relação muito boa com todos os alunos, seja no pátio ou mesmo pelos corredores.

Feliz Idade – Enquanto diretora, a senhora teve algum medo?
Irmã Nair – Não. Graças a Deus, eu sempre tive muita força. No tempo em que atuava e que tinha que administrar vários problemas, uma Irmã chegou pra mim e falou: “eu não sei como é que tu aguenta tudo isso” [diz pausadamente]. E eu sempre disse que, em primeiro lugar, eu rezo, e tenho a força de Deus comigo. Em segundo, sempre tive o apoio de pessoas que me querem muito bem e que além da amizade me dão uma força muito grande e que eu sei que posso confiar.



Feliz Idade – Hoje a senhora carrega algum medo?
Irmã Nair Não, eu não tenho remorso por nada que eu fiz, então, acho que não preciso ter medo de nada.

Feliz Idade – Carrega alguma vaidade?
Irmã Nair – Não, nenhuma, mas sou uma pessoa que gosta de coisas boas, de ver tudo bem organizado. Sempre foi assim, tudo o que a mãe colocou em nós desde pequenos: a simplicidade e a verdade.

Feliz Idade – O que a senhora mais recorda de sua convivência familiar?
Irmã Nair – O irmão mais velho tinha que obedecer, porque, por ser mais velho, ele tinha o direto de mandar (risos). O pai era muito sério, não era de dar muito papo para nós, ele era fechado, tinha pulsos firmes. Foi carinhoso enquanto éramos pequenos. A mãe sempre foi muito alegre, muito disposta. O que eu carrego é coisa boa, embora eu tenha visto meus pais sofrerem bastante, com outros problemas, não de relacionamento. Meu avô morreu, os irmãos do meu pai foram incomodá-los, enfim, coisas que nos deixaram algumas marcas.


Feliz Idade – Quem é a Irmã Nair?
Irmã Nair – Eu sou o que sou, do meu jeito e a minha maneira de ser. De vez em quando eu fico brava. Mas, hoje é difícil me ver zangada. Sou bastante tímida também. Mas acho que superei tudo isso. Para me tirar do sério, a injustiça e a mentira. Quando descubro algo, fico louca. Mas não deixo me dominar de imediato.

Feliz Idade – Setenta e um...
Irmã Nair – Em relação a minha idade, só a memória! E único problema sério de saúde que tenho é a osteoporose. No meu tempo de descanso, gosto de ler muito também. Sou apaixonado pela leitura.

DEPOIMENTOS:



“Eu estou há 24 anos no Rio Grande, quando aqui cheguei, ela já estava há muitos anos. Irmã Nair tem diversas qualidades. Além de uma exímia educadora, administradora de uma grande escola das Irmãs de São José, com o carisma destas Irmãs, um carisma de simplicidade, de vida familiar, pois José é o pai adotivo de Jesus e é nele que as Irmãs de São José se inspiram, Irmã Nair é a mulher da Igreja Cristã. 


Empenhada na diocese desde a sua fundação, em 1971, depois ao apoio de diocese no que dependia dela, como, por exemplo, nas assembléias diocesanas, com quase 200 pessoas, aceitou secretariar a diocese, mesmo sendo diretora de uma grande escola e fez isso com muito capricho. 


Sua unica, digamos, falha, é algo que agora ela tem que recuperar: o não pensar em si. Até da saúde ela não cuida, tudo para dar conta de suas escolhas, pois mesmo doando-se para outras atividades, ela sempre sabia de tudo o que acontecia na escola. Além de uma diretora exigente, tanto com professores, como com os alunos, ela sempre reuniu duas grandes qualidades: a firmeza e a compreensão. 




Uma pessoa que sempre fez questão de carregar consigo durante sua jornada, a empatia e a compaixão. Irmã Nair é um exemplo daquilo que o mundo hoje chama de humanidade, mas que nós Cristãos, chamamos de amor ao próximo. Ela merece essa celebração não só por parte das Irmãs de São José, que é uma congregação que mais presença tem em nossa diocese [com uma comunidade em Mostardas, outra em São José do Norte, além das duas em RG], como também por parte de nossa diocese. 


Uma pessoa que marcou com a sua vida, o seu trabalho e a sua dedicação, a diocese do Rio Grande, que em 2011 completará os seus 40 anos” - Dom José Mário Stroeher, bispo diocesano.


“Celebrar 50 anos de vida religiosa consagrada é uma graça e é também um momento de comunhão com todas as pessoas que nós entramos em contato durante nossa jornada. Irmã Nair é uma pessoa que doou a sua vida todos estes anos para a educação, tornado-se uma referência na área. Embora ela seja uma pessoa humilde, que não desejasse este momento de celebração, ele é muito importante para quem faz ou fez parte de sua vida”, Irmã Alirce Paulina F. Zanella, há dois anos superiora provincial das Irmãs de São José, há 42 anos seguindo a vida religiosa, sendo 27 destes voltados à educação.


“Eu me emociono. Irmã Nair é uma conselheira, uma grande amiga e antes de qualquer coisa ela é um exemplo de dedicação à educação e eu como toda equipe do Bom Jesus temos muito carinho e orgulho de continuar essa parceria, convivendo aqui no Colégio. Lembro que durante a fase de transição de gestão, em 2008, enquanto muitos criavam rumores de que as Irmãs não iriam permanecer na escola, eu fiz questão de confirmar a Irmã Nair que sua sala continuaria do jeito que hoje ainda está. 




E a Irmã é uma mulher tão humilde que cada vez que decidia usar a sua própria sala, pedia. E eu dizia: Imagine Irmã! Nós é que temos que pedir para que a senhora fique aqui conosco. E hoje a nossa ligação é tão forte que se eu tiver que ser transferida para outro lugar, só vou se ela for comigo” - Rosicler Schuster, atual gestora do colégio Bom Jesus Santa Joana d’Arc.


“Em 1968, quando a senhora aqui chegou, eu já trabalhava no Joana d’Arc e então teve início uma amizade que se consolidou através de todos esses anos. Passamos por várias experiências dentro desta Escola, sempre trabalhando muito e sempre acreditando que poderíamos melhorar o mundo. Irmã Nair, lamento lhe confessar, mas nós somos muito antigas. Ainda bem que ninguém percebe! São muitos anos de convivência e de muitas alegrias. 


Hoje, temos a sua agradável presença nas reuniões semanais da Associação de Ex-alunas, da qual a senhora é presidente de honra há quase 30 anos, sempre oferecendo seu valioso apoio. Seu exemplo de perseverança, generosidade e tolerância é importante para nós, reforçamos o que os alunos já lhe disseram: “Aqui é a sua casa”. 




Agradecemos à senhora e às estimadas Irmãs de São José por tudo que têm nos proporcionado neste ambiente escolar, desde a nossa infância até os dias de hoje, na maturidade, quando nos é permitido permanecer aqui, colocando em prática a formação cristã que recebemos” – Vera Hiltl, 64 anos, presidente há sete anos da Associação de Ex-alunas.


"Irmã Nair é uma pessoa que ouviu o chamado de Deus, acreditou, deixou-se trabalhar e, com fidelidade, doa-se há 50 anos, sobretudo na missão educativa. Uma mulher forte e generosa, capaz de superar as dificuldades, alegrar-se com as conquistas e impulsionar todos os que lhe são próximos" - Andréia Pires, 30 anos, irmã há nove anos e membro da Comissão Internacional de Comunicação da Congregação das Irmãs de São José.


“Querida Irmã Nair, amiga de longa data, ex-colega de faculdade, e minha eficiente diretora, quando trabalhei no Joana d’Arc: celebrar o jubileu de ouro de sua vocação religiosa é para nós da comunidade da Catedral de São Pedro motivo de muita alegria, pois convivemos com a senhora, no serviço à Jesus, durante todos estes anos. 


Na vida do Cristão, há três vocações específicas: a vocação sacerdotal, a qual são chamados os homens cuja a missão é pastoriar as ovelhas da Igreja, consagrar o corpo de Cristo e representar Jesus no meio da humanidade; a vocação leiga, a nossa, a qual, são chamados os homens e mulheres cuja missão é formar suas famílias e criar novos homens e novas mulheres, guiando com suave firmeza seus filhos no caminho rumo a Deus, e a vocação religiosa, onde são chamados os homens e as mulheres cuja a missão é servir a Deus e aos irmãos, vivendo uma vida de oração e trabalho em prol de toda a humanidade. 


Trata-se de sua consagração a Deus, assumindo os votos de pobreza, castidade e obediência, ingressando numa congregação ou ordem religiosa.

Os religiosos são sinais visíveis do amor de Jesus Cristo pela sua igreja. Pertencente a congregação das Irmãs de São José, a Irmã Nair inserida no setor educacional pelo seu carisma, muito fez e deixou muitas marcas como diretora por longos anos a frente do colégio Santa Joana d’Arc, hoje Bom Jesus. 


Em seus 50 anos de serviço e doação, muitos problemas surgiram, muitas noites mal dormidas, muitas marcas e tristezas marcaram sua caminhada, mas tudo isso faz parte daqueles que lutam por um ideal. Tem pensamento que diz: Não se preocupe com as maldades de hoje, lembra-te que amanhã um novo sol brilhará e receberás a recompensa da luz. 




Por isso, hoje, irmã Nair, por mérito seu, aqui estamos para homenageá-la e agradecer por todas as maravilhas do seu trabalho em prol da educação. Valeu os momentos difícieis porque tudo foi revertido em benção e graça. Muito obrigada pelo sua dedicação e exemplo de trabalho incansável, a senhora é sem duvida a referência maior quando se fala em colégio Santa Joana d’Arc. 


Querida Irmã, numa sociedade de grande apelo as coisas materiais, onde as pessoas valem por aquilo que tem e não por aquilo que são, as religiosas como a senhora, que optam pela pobreza, são um sinal profético para o mundo. E a senhora fez a melhor escolha, dedicar-se à Cristo. Parabéns e que Deus seja Louvado” - Marlene Arruda, na Catedral de São Pedro, durante a missa de celebração dos 50 anos de vida religiosa de Irmã Nair.


18 de dezembro de 2010

Vizinhos: Tão perto e tão longe...

Contato: bruno.kairalla@gmail.com
- Fotos: Deyver Dias- Acesse: www.deyverdias.com
Na próxima quinta-feira, 23 de dezembro, celebra-se o Dia do Vizinho. Devido aos dias corridos e a supervalorização do individualismo nos dias de hoje, e antes de começar este texto, cabe a pergunta:  você conhece seu vizinho? Como é a sua relação com ele? A resposta mais simples pode até ser indiferente, mas dificilmente não estará acompanhada a expressões ou adjetivos que envolvam sentimentos de amor e ódio. 

Deste último, por experiência própria, os mais comuns são: chato, barulhento, invasivo. Têm também os encrenqueiros, os problemáticos, os maníacos e, claro, os fofoqueiros. Alguns com menos, outros com mais intensidade. No caso dos edifícios essa relação fica ainda mais complicada, visto a quantidade de relações coexistentes num mesmo espaço, cenário propício a conflitos. 

No meu caso, por exemplo, que moro num dos condomínios ouvidos por esta reportagem, entendo que não deve ser fácil ser meu vizinho. Meus hábitos de vida, de trabalho, são totalmente diferentes dos padrões. Minha criatividade e até minha disposição funcionam melhor na madrugada, faço eu o quê? Não sou casado, não tenho filhos pequenos, moro só e mantenho um círculo social grande e rotativo de amigos. Cenário altamente propício a conflitos!

Confesso também que de todos os adjetivos o que menos me identifico é com o “fofoqueiro”. Não gosto de saber da vida alheia e pouco me importo com o que os outros vão achar disso ou daquilo. Meus vizinhos? Conheço apenas os que dividem o mesmo corredor. Não me pergunte nomes e nem os do próximo andar. Mas, claro, existem sempre os notáveis, pode ser da frente ou lá do outro lado, você vai saber quem é. Sãos os simpáticos, os educados, os engraçados, os interessantes, os estranhos e os curiosos.

Têm também os caricatos, aqueles que habitam em quase todos os lugares: o vizinho que está sempre a postos para servir, tipo o “Exército da Salvação”; o que bate à porta pedindo ovo, farinha, arroz, daqui a pouco te leva até um troquinho... O que reclama de tudo e o se julga acima da lei; o desligado, que sempre deixa o carro atravessado ou com os faróis ligados na vaga; a vizinha gostosa que deixa as outras mulheres enciumadas; o vizinho metido a sedutor... Uma infinidade!

No entanto, a importância e a função social dos vizinhos são maiores do que tudo isso. Não se trata só de manter “a política da boa vizinhança”, mas de preservá-la pois ela faz parte de todas as esferas e etapas da vida. O individualismo nos levou ao egoísmo de sempre servir os próprios interesses. Aquele velho conceito de se colocar no lugar do outro, dever de cada um diante a qualquer impasse, é algo que quase inexiste.

Mas como você pode ler à seguir, vizinhos podem virar grandes amigos, compadres, podem ajudar quando falta algo urgente e são vigilantes quando percebem algo de estranho conosco. Além da identificação, da cumplicidade, o notável dessas relações próximas que dão certo é que elas estão calcadas na primeira grande regra da convivência humana: o respeito – uma lição que deve ser por todos nós diariamente aprendida.

Flores

Há quase 15 anos, quando trocou a Santa Tereza pela nova residência no bairro Navegantes, Milca Gisleine Xavier, 54 anos, chorou e também viu muitos vizinhos chorarem. - Eles falaram que iam sentir minha falta, afinal foram 22 anos no mesmo bairro -, comenta ela. 

No entanto, não demorou muito para dona Milca fazer novas amizades. Para ela que atuava como confeiteira e “salgadeira” do bairro, conhecer e conquistar as pessoas no lugar em que vive faz parte de sua rotina e também de sua comunicativa personalidade. Conhecedora de várias histórias, Milca encontra nos vizinhos uma extensão do seu universo e também da própria família.

Entretanto, nem tudo são flores. Ao lado de sua residência, vive um vizinho problema, do tipo individualista, difícil de se relacionar. “Se coloco um tapete para secar no muro, ele derruba e ainda reclama. Diz que o muro é dele, que estamos invadindo”, aponta. Outro problema surgiu quando o encrenqueiro morador ao lado construiu um sobrado próximo da chaminé onde está a churrasqueira de dona Milca. 

- E tu acredita que um dia ele puxou uma mangueira e colocou água por dentro da chaminé? Molhou todo o churrasco, tivemos que parar tudo. Com ele não adianta conversar. Ele não aceita e acha que está sempre certo de tudo. Eles não são amigos de ninguém por aqui -, conta ela. Para evitar divergências em pleno domingo de reunião da família, o jeito foi comprar uma churrasqueira móvel.

Mas, se de um lado de sua casa vive a família encrenca do outro está quem já lhe salvou a vida. Marlen Lima (foto), 62, e seu marido, Nelci Rodrigues Henrique (foto), 63, moram no bairro Navegantes desde 1972, portanto, há quase 40 anos. Foi com o Del Rey de Nelci que Milca chegou a tempo no hospital. “Sempre que preciso também eles me carregam para tudo que é lado”, fala Milca. 

- Os vizinhos são muito importantes. Com eles a gente se aconselha, pede opinião, desabafa, divide os problemas dos filhos e também encontra forças para seguir adiante -, enfatiza dona Marlen. 

E no final da tarde é sagrado. Os velhos vizinhos pegam suas cadeirinhas de praia e se posicionam na frente de casa para conversar sobre a vida, fofocar e tomar um bom chimarrão. Quem fofoca mais no grupo? “Os homens”, antecipa-se dona Marlen. - Principalmente o meu marido que já foi dono de uma fruteira. Sabe da vida de todo mundo -, brinca ela. 

- As pessoas é que chegam e me contam as coisas, mas hoje já perdi os meus contatos”, defende-se Nelci. “Mesmo sem fruteira ele sabe de tudo -, rebate aos risos dona Marlen. - Essa convivência é saudável e faz muito bem para todos -, finaliza dona Milca.

Regines


Dividido pelo lado A e o lado B, o condomínio Regines é um dos edifícios mais populares do centro da cidade. No total são 128 apartamentos, ou, 16 apartamentos em cada um dos oito blocos. Os moradores predominantes são os estudantes, boa parte do curso de Medicina da Furg, conforme o vigilante Jorge José Monteiro Lopes (abaixo), 56 anos. 

Então, já viu a confusão! “Que nada! Aqui é tranqüilo, pelo menos durante o dia”, frisa seu Jorge, há cinco anos trabalhando no condomínio. O também vigilante da noite, Diego Debiasi Pinho, 23 anos, concorda e diz que os principais transtornos da convivência ocorrem em seu período.

Enquanto Jorge enumera que durante o dia os problemas são relacionados ao estacionamento e a motoboys que nem sempre respeitam a instrução da portaria, Diego enfatiza que na noite o que perturba os moradores são os constantes e variados barulhos. - Som, conversas, risadas altas, discussões, brigas, alarmes e até mesmo os gemidos das relações sexuais -, aponta Diego (abaixo). “Aqui sabemos de tudo e ao mesmo tempo não sabemos de nada”, complementa Jorge José.

Com blocos dispostos de frente um para o outro, com um intervalo muito curto entre eles, não é difícil escutar e se incomodar com os barulhos alheios. Ou acostuma-se com essa intromissão desconfortável para quem deseja paz e sossego ou viva queixando-se. “Acho que morar aqui é um privilégio”, assegura seu Luiz Gustavo Gonçalves (foto acima), 45 anos, morador do Regines há 11 anos. 

Interessante é observar que no condomínio as constantes queixas também dão lugar a boas e velhas amizades, como as pessoas que se visitam, aquelas que vão de um bloco ao outro, que se encontram para conversar, botar o papo em dia e tomar um chimarrão na portaria. Cadeiras de praia posicionadas entre os blocos, na portaria. - Aqui a gente conversa de tudo, futebol, mulher, filme... -, enumera Diego.

Um dos primeiros moradores do Regines, o jornalista José Rodrigues (acima), 60, sabe quem mora e quem já foi embora. Também já atuou como subsíndico do condomínio, por isso, afirma saber bem sobre as regras de convívio. 

“O vizinho de casa é diferente de um vizinho de apartamento, pois neste último tens que aprender a conviver com horários e centenas de hábitos diferentes dos teus; cada família tem uma maneira de pensar e agir que não é a mesma tua. Querendo ou não, todos estão juntos, vivendo em comunidade, mesmo que isolados pelas paredes”, aponta Rodrigues. 

“Isso aqui é como se fosse uma mini-cidade e o síndico é o prefeito”, compara. Da época de subsíndico ele não gosta muito de lembrar. “É muito incômodo. Se todos seguissem o que está no regulamento não existiriam tantas divergências, mas ninguém gosta. Se existisse um rodízio entre condôminos para atuarem como síndicos, as pessoas dariam mais valor ao que é feito para se manter a ordem”, sugere.

Sobre essa relação próxima e ao mesmo tempo distante, Rodrigues diz que dela já nasceram grandes amizades. “Vizinho que vira compadre”, brinca ele, padrinho do filho de um vizinho. Vizinhos também na emergência. Rodrigues salienta que já chamou inúmeras vezes o carro dos bombeiros ou mesmo a ambulância. Relata que houve uma situação que foi preciso socorrer um vizinho desmaiado dentro do apartamento ou mesmo crianças deixadas sozinhas, encerradas dentro de casa. Ainda sobre essas relações ele analisa: 

- Tem gente que mora aqui há dez anos, por exemplo, e não conhece seus vizinhos e nem os porteiros que trabalham aqui, muitas vezes pela incompatibilidade de horários. Aos domingos o salão de festas fica a disposição de todos, mas são poucos que ali se reúnem. Nas assembléias são poucos os que comparecem, mas se for aprovado algo que alguém seja contra, começam as discussões -  discorre.

Topázio
Alzira Kvitko Miola, 50 anos, é professora de educação física e atua como diretora da Escola Estadual de Ensino Fundamental Revocata Heloisa de Mello. Há sete anos, ela mudou-se para o Topázio, um edifício de dez andares, quatro apartamentos por andar, localizado ao centro da cidade, próximo ao condomínio Regines. Casada há 27 anos e mãe de duas meninas, Alzira se tornou há cinco anos síndica do Topázio. Uma missão nada fácil para quem já administra uma escola com cerca de 400 alunos.

Comparando as atividades que exerce, Alzira num primeiro momento não percebe que as duas funções possuem uma certa relação. Após explanar o que pensa, constata que nos dois ofícios ela acaba lidando com a falta de limites e de respeito das pessoas. Mas também pondera que os problemas escolares são maiores. - Nos dois casos, os problemas ocorrem quando falta o  respeito pelo espaço e a individualidade do próximo -, argumenta. 

A única diferença entre ser diretora e síndica é que nesta última a professora acaba desempenhando o papel nos sete dias da semana e a qualquer hora do dia, em alguns casos até no meio ou durante a madrugada. Entretanto, síndica ou diretora, ela sabe que tem o compromisso de lidar como um bombeiro: sempre apagando, contornando, as chamas.

- Todos estão mais estressados e isso faz com que num momento difícil eles não só desabafem como também extravasem suas emoções -, salienta. Além das relações pessoais, Alzira lembra que também tem toda a preocupação com a manutenção e os gastos do edifício que soma 40 apartamentos. Administrando tantos pepinos, a professora – que não se queixa - sempre que pode recorre as suas terapias particulares para desopilar. “Faço ginástica, jogo, fico com a família”, cita ela. 

AH! E uma regra básica para não esquentar muito a cabeça é lembrar sempre: - Nunca vamos conseguir agradar a todos. A gente faz o que pode para que todos tenham uma boa convivência -, reforça Alzira.