12 de março de 2010

Sobre focinhos e afetos...


Uma tia querida, casada e sem filhos, durante anos a fio viveu mantendo distância de animais domésticos - apenas criava galinhas para ter sempre ovos fresquinhos para os quitutes que tanto gostava de fazer para tropa de sobrinhos e afilhados que tinha.


Crônica escrita pela editora Rosane Leiria Ávila
- E-mail: rosaneleiria@gmail.com

Pois bem. Poucos anos antes de seu falecimento adotou - e eu nem sei contar aqui como esse fato histórico se deu -, uma cachorrinha a quem deu o nome de Brigite.

Seria uma homenagem a Bardot? Àquela atriz francesa linda que abandonou a carreira no auge da fama nos anos 70 para se tornar uma ativista dos direitos dos animais?


Também não sei.

A realidade é que vi o coração de minha tia se derreter dia a dia até ser tomado totalmente de amor por Brigite.

As conversas durante as visitas passaram a se valer das peripécias dela.


Minha tia já não sabia viver sem sua cadela.

E desta o que lembro?

Da paciência e sabedoria para conquistar um humano, não digo insensível a animais, mas desabituado a demonstrações puras e inesperadas de afeto.

Um dia, Brigite morreu.


Ao desconsolo de minha tia se seguiu a ideia fixa dela encontrar uma outra Brigite, igual na aparência física e no jeito.

Eu achava isso praticamente impossível e qual não foi minha surpresa ao receber a notícia, meses depois, de que ela havia encontrado outro animal igual à sua amada Brigite.

E que havia batizado a nova cachorrinha de “Brigite II”.

Assim mesmo, como descendente de uma dinastia.


Do que lembro e soube, a troca entre as duas se tornou tão igual à anterior.

Lembrei disso tudo porque hoje, durante o almoço e tendo por companhia inseparável um focinho, quatro patas, um coração maior que o mundo e uma inteligência excepcional, pensei nefastamente no dia da sua partida!


Quem já passou por isso, leu o livro “Marley & Eu” ou assistiu ao filme tem uma noção de como esse momento de separação é extremamente difícil e doloroso.


Ao descer com há alguns dias para um dos seus três passeios diários, diverti-me com a cena cômica protagonizada por ela: burlando minha vigilância ela, que está extremamente proibida de roer ossos, achou um como se fosse um tesouro escondido num lugar secreto da rua.

À minha ordem para largá-lo, obedeceu prontamente.

Mas logo se arrependeu e o pegou de novo.

Olhou para mim, viu minha desaprovação e o soltou novamente.

Depois disso, repetiu a cena quase uma dezena de vezes.



E eu, já aos risos escancarados, não tinha mais autoridade alguma para lhe impor nada.

Faceira, subiu os dois andares de um fôlego só, ansiosa para entrar e começar a degustá-lo.

Passou o resto da tarde e entrou a noite roendo-o, num estado total de felicidade.

Quando terminou, sua cara era de quem tinha alcançado o céu por um minuto.


Como não sentir saudades quando ela partir?!



Está bem, assumo: sou um caso perdido, pois sofro tudo por antecipação.


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