9 de maio de 2010
Às filhas da mãe
Alguém tem dúvidas de que maio é um mês dedicado às mulheres? Mês das noivas, mês das mães. Logo, nada mais justo que dedicar-lhes mais uma crônica. Não apenas por estarmos no mês de maio, e eu escrevendo para um caderno chamado Mulher. Nem por ser eu uma, que já foi noiva e aspira ser – num futuro longínquo – também mãe, mas principalmente por acreditar que uma das principais incumbências de um cronista, não é apenas fotografar a realidade sob um olhar poético, mas sim, pegar aquele ângulo especial que, não fosse essa foto ¬¬– em forma de texto – dificilmente seria notado.
Sendo assim, não falarei das noivas, dos anseios e receios que habitam as candidatas a maternidade, nem mesmo daquelas que já o são e fizeram disso uma razão, ou desculpa, para o restante de suas vidas. Poderia, mas não farei. Optei por dedicar esta crônica – redigida em primeira pessoa, com conhecimento de causa e momentos de rima – a algo que todas nós, mulheres, somos ou um dia fomos, muito antes de almejar os títulos de solteiras, casadas, noivas, divorciadas ou mães. Desde o instante em que fomos recebidas, recebemos a difícil tarefa de ser, com o perdão do trocadilho, as filhas da mãe!
Algumas filhas têm mães tradicionais, que impõe disciplina à moda antiga, outras, mães modernas, com quem dividem as roupas e as baladas, e há aquelas que elegem alguém especial com título mãe – o mais alto título que alguém pode receber! Quando dizemos “fulana é como uma mãe para mim”, estamos dizendo que a amamos com todo o coração, que contamos com ela para toda a vida e que sua opinião ou, em alguns casos, aprovação é extremamente relevante para nós! A opinião de uma mãe sobre sua filha pesa muito do que qualquer outra: pode representar o empurrão que faltava ou o balde d’água fria final.
Porém, independente do tipo de mãe que uma filha tenha, a relação estabelecida entre elas é quase sempre complexa: por vezes se mescla a amizade, repleta de cumplicidade, ciúme e confiança, noutras beira o ódio, no cabo-de-guerra entre a liberdade de uma e o protecionismo da outra, mas é, sobretudo uma relação de amor: um amor passional e incondicional, da forma que só uma mulher sabe sentir.
Vivemos ouvindo o quanto é difícil ser mãe, mas todas nós sabemos – mesmo que tenhamos esquecido – que ser filha, não fica atrás! Há muitas expectativas a satisfazer, planos a discutir e rumos a contrariar durante a curta estrada para a vida adulta. Há muitas lágrimas a rolar, outras a enxugar, muito orgulho a engolir e muita crista a baixar ao ouvir um sonoro e bem colocado “eu te avisei”. Há também muitas oportunidades para sorrir, abraçar, falar ou calar... O difícil é aprender a ponderar, a perceber, a se arrepender e se desculpar.
E a gente mal vê o tempo passar... É fácil se atrapalhar! Num dia somos a menina de maria-chiquinhas fazendo algazarra em torno da mãe, noutro, a adolescente birrenta brigando por espaço, dinheiro ou solidão, tecendo arrependimentos para nossas futuras memórias. E de repente lá está aquela mulher no espelho, muito mais parecida com a sua mãe do que gostaria de admitir. Sem tempo para visitas, sem paciência para sermões, sem perceber que, aos olhos da mãe – seja ela quem for, esteja ela onde estiver – será sempre aquela menina de maria-chiquinas...
Será que antes de sermos boas mães, precisamos aprender a ser boas filhas? Ou seria o contrário? Por via das dúvidas, podemos tentar ser boas pessoas, boas mulheres, e deixar que o tempo se encarregue de alastrar os reflexos dessa atitude a qualquer papel que venhamos a desempenhar!
JU BLASINA
Blog: jublasina.blogspot.com
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