26 de abril de 2011

O CIÚME

Crônica: Gabriel Colombo




Nós desconfiamos dos outros pelo conhecimento que temos de nós mesmos. Se, a quem a gente ama, temos suspeitas que são, ou podem ser, nunca sabe-se, pura dissimulação, falsidade. Aventuras e sensualidade vulgar longe de nós sabes por quê? Apenas pelo fato que conhecemos a nós mesmos. O que os outros fazem, quando dobram a esquina, não podemos botar nossas mãos em fogo. Duvidamos dos outros pelo mesmo motivo que duvidamos de nós.
… [Para te dar a certeza que eu fui teu, e por um tempo, eu fiquei em ti. Esta certeza eu queria te dar. Caso nunca tenhas acreditado. Pena que foi só por um tempo. Ou melhor, que foi por um apenas desse todo tempo giram as órbitas do planeta. Lamento, porque eu estava gostando. E lamento… que algo não me deixava gostar mais. Entendes assim? Eu queria a ti.
Mas também queria as demais. Eu disse, após o primeiro dia, que voltaria. E tu, como se fosse obvio porque me julgas, segundo a ti,  disseste que não voltaria. E me lembro de ti, ah,toda sem graça, me abrindo a porta. Não acreditando que eu havia voltado. Te confesso que  nem eu calculei. Eu não sabia se entrava. Se ficava. E quando saía, para onde eu ia, ou iria? Mas fui ficando. Num lugar com pernas, mas não segui sem com coração. Sei que com duvidas. Me  esquecendo do que eu devia ter te contado desde o inicio. Do que eu deveria ter contado pra mim mesmo sempre que me olhava no espelho antes de sair de casa naquela jaqueta azul marinho na qual tu me adoravas. Eu havia sonhado e resolvido, em terapia ou tomando banho, estarem impedidas, por não sei quanto, todas as formas de envolvimento, de ternura, de laço que tentam nos envolver para acabarmos presos em correntes. E com pulsos algemados. Quem tem culpa? Quem e culpado? Então eu sei que eu te convidei para dançar, cantar errado comigo. Banquei criança.
E desculpe. Não deu. Uma hora tu deves ter percebido. Meu sonhos estavam transbordando. Eu estava guardando vontades. E eu não cabia em mim a ponto de ter que me dividir em mil.
Não existe uma lei que nos garanta que alguém é do outro cem por cento. Assim como é impossível romper a lei física da gravidade e da morte. E do brotar das flores também.
Essa semana eu fui a uma Galeria de Arte aqui em Londres. Ver uma exposição sobre Marilyn Monroe. Até hoje eu não sei se ela foi atriz ou boneca erótica. Mas não importa. O que interessa é que li frases de seus diários originais, os quais ela mantinha. E o que me impressionou, apesar da fama dela de burra, foi a seguinte frase (escrita numa letra tremida), talvez por droga: “ Um dia, apenas mínimos fragmentos de nós irão tocar pequenos fragmentos dos outros.”

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