25 de julho de 2009

Superando o HIV, driblando a AIDS




Ao longo de sua história, o Mulher Interativa por várias vezes discutiu o tema sobre o vírus HIV e a doença manifestada por ele, a Aids. Assim como os estudos e as pesquisas feitas na área, nossas reportagens também foram evolindo, adquirindo novos focos e conceitos.

A presente reportagem, assinada pelo jornalista Bruno Kairalla, com harmonia em textos e imagens da editora Rosane Leiria Ávila, teve por princípios destacar três pontos:

1º) Apesar do grande número de informações , os preservativos continuam não sendo utilizados pela sociedade. A conclusão é de que falta uma conscientização necessária sobre os riscos nas realções sexuais;

2º) A evolução da medicina e, consequentemente, dos medicamentos, pelos chamados "coquetéis", garantiram uma maior perspectiva de vida aos portadores, que após o choque inicial ao saber que contraíram o vírus, procuram levar uma vida normal, namorando, casando e até mesmo tendo filhos;

3º) Mesmo com o amplo número de informações, explicando a difícil transmissão do vírus pelo contato, nas relações sociais do dia-a-dia, o preconceito aos portadores continua ocorrendo de forma elevada. No entanto, a discriminação é menos "descarada" e mais "silenciosa". O que para os portadores, é igual ou pior as situações de desrespeito que ocorriam no passado.

CADEIRAS VAZIAS


Destinado a comunidade rio-grandina, portadores do HIV/Aids e autoridades regionais em saúde, o evento “Saia Justa de Mulher para Mulher Positiva Unidas pela Vida”, objetivou conscientizar a população, chamando a atenção das presentes autoridades para políticas públicas de prevenção à Aids e apoio aos cidadãos soropositivos.

Apesar de aberto para o público, o evento contou com muitas cadeiras vazias, inclusive por parte dos próprios portadores, que são os principais interessados no assunto.

Há dois anos, a SMS divulgavou um boletim que apontava que em sete anos, foram notificados 1.126 casos de Aids em Rio Grande, incluindo crianças. A notificação é referente as pessoas que já manifestam a doença e não conta aqueles que apenas possuem o vírus do HIV. E mesmo assim, na última quarta-feira, apenas quatro portadoras se faziam presente no evento.


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- Veja abaixo fotos e outros dois depoimentos que não estão presentes nesta atual reportagem, mas que já publicados em outras edições do caderno Mulher e também do Feliz Idade, do Jornal Agora.

MARGARETE MELO


No passado, ela teve uma vida marcada pelo descaso dos pais e violência física e sexual da família. Na adolescência, aprendeu a encarar a própria vida. Fugiu de casa, encontrou refúgio na prostituição e também nas drogas. Com pouco dinheiro, casou, descasou, foi mãe, viveu por estados, como Rio de Janeiro, Paraná, São Paulo e, por fim, chegou ao Rio Grande do Sul.

Na cidade ela está há 17 anos. Também por aqui, atuou como traficante. Um tempo depois sentiu na pele as conseqüências geradas por suas escolhas e percebeu que a vida teria que mudar bruscamente. Há doze anos, conheceu aquele que se tornaria o maior companheiro e amor da sua vida. Mas também descobriu que teria que aprender como seria conviver com o vírus do HIV.

Portadoras do HIV mostram a cara se reunem no evento Saia Justa

Tanto as aventureiras e obscuras experiências, como o próprio vírus e todo o conforto e a segurança fornecidas pelo marido, proporcionaram a trajetória de Margarete Silva de Melo, um amadurecimento que jamais esperaria alcançar. Ela, que foi capa do caderno Mulher, no final de 2007, em reportagem assinada pela jornalista Melina Brum Cezar, pretende aprender ainda mais com a vida.

Assim que descobriu o vírus, Margarete viu que precisava reagir. Ao olhar para tudo o que viveu decidiu lutar para despertar consciência, preservação e também solidariedade naqueles que não compreendem os seus significados. Com o marido, Cláudio Luiz Teixeira Santos, encontrou o marido, a família e o amigo que precisava.

- “Queria me sentir útil e viva. Não sabia quanto tempo eu tinha de vida. Mas queria recuperar o tempo que perdi. Descobri que tinha potencial para ter uma vida digna”, afirma.

A partir daí comercializou produtos de beleza, fez lanches para vender na Furg e em pouco tempo obteve um trailer. O tempo de reconstrução pessoal foi o necessário para, então, tornar-se a presidente da ONG que fundou em 2004, a Mãos Unidas Pela Vida, que neste ano completa cinco anos.


Amiga de Margarete, Veridiana Cozza Cunha, 28 anos

A entidade busca a conscientização, inclusão social dos portadores de HIV/Aids, alternativas de geração de renda, direitos, resgate da auto-estima, e, claro, a preservação.

Enquanto o tempo passava, Margarete voltou aos estudos e concluiu recentemente o Ensino Médio. Nas últimas eleições municipais, concorreu ao cargo de vereadora. Aos 40 anos, ela foi escolhida nesta semana a nova representante e coordenadora da região sul do ICW Brasil.

Movida pelo espírito de luta para mudar a realidade dos soropositivos na cidade, ninguém pode se atrever a dizer onde ela pode chegar. Para ela, nem o céu é o limite.

NOELI DORNELLES


- “Não tenho motivo para me esconder”, dispara Noeli Dornelles, portadora do HIV, entrevistada em dezembro pelo caderno Feliz Idade. Aos 58 anos, Noeli é uma das Multiplicadoras da Melhor Idade do Programa Municipal de DST/Aids, criado há onze anos pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Além disso, ela é a representante local da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV/Aids (RNP+Brasil/RS), e luta com afinco para desarmar o preconceito da sociedade e dos próprios soropositivos.

- “O que aconteceu comigo poderia facilmente ocorrer na vida de qualquer dona de casa”, avisa ela, soropositiva ciente há nove anos.

Infectada pelo marido, Noeli tinha uma vida normal de dona de casa. A descoberta do HIV ocorreu quando o vírus começou a comprometer as defesas do seu organismo.

- “Fiquei em coma por quatro meses. Os médicos não sabiam o que me afetava tanto. Por ser idosa, não desconfiavam do HIV, até que depois de diversos exames, detectaram o vírus”, lembra. Após o coma, Noeli foi acometida por uma forte paralisia, que ainda hoje compromete seus movimentos. De acordo com ela, dos cerca de 80 quilos, a dona de casa chegou a pesar 32.

- “Não acreditava no que estava acontecendo. Sempre fui uma mulher fiel e que zelava por posturas corretas. Confiava tanto no meu companheiro, que podia colocar a mão no fogo por ele. Assim como fez comigo, que sempre tive amor por ele, quantas mulheres ele não deve ter infectado?”, alerta.


Noeli e Margarete atuam para o fim do preconceito e por garantia de direitos aos portadoreres

Assim como boa parte da sociedade faz, Noeli diz que não dava a mínima atenção para as campanhas sobre Aids, até ela ir parar dentro de casa.

- “Jamais pensei usar preservativo durante uma relação sexual. Para quê? Afinal, meu companheiro sempre foi fiel. Era assim que eu pensava. E sei, que assim como eu, muitas idosas pensam da mesma forma”, adverte.

Noeli divide em dois momentos a sua vida: antes e depois do HIV. Conforme ela, a diferença é que hoje existe uma mulher forte e que se ama mais.

- “Não tenho o que me queixar da vida. Aprendi o que é ter amor próprio. Antes eu tinha uma vida medíocre, em que tudo era indecente. Aquela mesma rotina de sempre, muitas vezes até falando da vida dos outros. Hoje, vejo que ninguém é melhor do que ninguém e que todo telhado é de vidro. Ninguém está imune”, observa ela se referindo a qualquer tipo de preconceito.


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