18 de junho de 2010

Aos 87 anos, o adeus à Saramago


O escritor português e Prêmio Nobel de Literatura José Saramago morreu nesta sexta-feira, 18 de junho, em sua casa em Lanzarote (Ilhas Canárias) aos 87 anos de idade.

O escritor faleceu às 13 horas locais (8 horas de Brasília), segundo sua esposa e tradutora, Pilar del Rio. Ainda de acordo com ela, Saramago havia passado uma noite tranquila e, depois de tomar café da manhã com a mulher, começou a passar mal e faleceu em pouco tempo.


O autor recebeu o prêmio máximo da Literatura em 1998. Segundo a premiação, Saramago "nos permitiu mais uma vez apreender uma realidade ilusória por meio de parábolas sustentadas pela imaginação, pela compaixão e pela ironia".

Autor de "O Evangelho segundo Jesus Cristo" e "Ensaio sobre a cegueira", Saramago vivia em Lanzarote desde 1993 com a jornalista espanhola. O escritor foi hospitalizado diversas vezes nos últimos anos, principalmente por conta de problemas respiratórios.

A Trajetória


José de Sousa Saramago nasceu numa família de camponeses da Aldeia de Azinhaga, ao sul de Portugal.

Sua origem influenciou o modo de escrever, caracterizado pela liberdade no uso da pontuação.

- Meu estilo começou em 1979, quando eu estava escrevendo Levantado do Chão. O mundo que eu descrevia era o Portugal rural, durante os primeiros dois terços do século passado - um mundo no qual a cultura de contar histórias predominava, e eram passadas de geração a geração, sem que se usasse a palavra escrita", disse o escritor ao jornalista australiano Ben Naparstek, lembrando que, quando se fala, não se usa pontuação.

A entrevista foi incluída no livro Encontros com 40 Grandes Autores.

Estilo premiado


Com um estilo próprio, Saramago conquistou em 1983 o Prêmio Camões, a mais importante distinção dada a um escritor em língua portuguesa - recebida neste ano pelo poeta Ferreira Gullar - e, em 1998, o Prêmio Nobel de Literatura.

Levantado do Chão é um dos livros que mais falam de Saramago.

Ao mostrar a luta do povo contra a opressão dos latifundiários e das autoridades oficiais e clericais, o romance faz ecoar a opção política do escritor, que se dizia socialista até o fim da vida.

Além do Chão


Considerado hoje o seu primeiro grande romance, Levantado do Chão também merece destaque por ter dado notoriedade a Saramago, que por ele recebeu o Prêmio Cidade de Lisboa, em 1980, e o Prêmio Internacional Ennio Flaiano em 1982.

Sua atividade como escritor, no entanto, havia começado muito antes, em 1947, com o livro Terra do Pecado.

Após um hiato de 19 anos, lança, em 1966, Os Poemas Possíveis, seu primeiro livro de poesia.

Três anos depois, se tornaria membro do Partido Comunista Português.


Atuando como crítico literário e jornalista, em 1975, chegaria à direção-adjunta do Diário de Notícias.

Mas, já no ano seguinte, fugindo à opressão do Salazarismo, regime totalitário que dominava Portugal, passaria a viver de literatura. Num primeiro momento, como tradutor. Em seguida, como autor.


Depois de Levantado do Chão, chamaria a atenção com os romances O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986) e O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), cuja inspiração lhe veio de um golpe de vista.

Andando pela rua, o escritor acreditou ter lido, na manchete de um jornal, o que seria o título da obra, e a partir daí nasceu a ideia de contar o Novo Testamento pela visão de Jesus Cristo, e não mais de um de seus apóstolos.

O Ensaio Sobre a Cegueira (1995) é outro destaque de sua obra.

O livro foi adaptado para o cinema pelo brasileiro Fernando Meirelles, em 2008. Casado com Pilar del Rio, Saramago deixa uma filha e dois netos do primeiro casamento.

Algumas das principais obras de Saramago


- Levantado do Chão (1980)
- Memorial do Convento (1982)
- O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984)
- História do Cerco de Lisboa (1989)
- O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991)
- Ensaio sobre a Cegueira (1995)
- As Intermitências da Morte (2005)

Biografia reimpressa


** Por João Marcello Erthal

Lançada no Brasil há três semanas, a biografia de José Saramago escrita pelo português João Marques Lopes tinha, até a manhã de hoje, 11 mil exemplares em estoque.

Em alguns minutos, após a divulgação da morte do escritor, os pedidos de revendedores zeraram o que havia disponível na editora LeYa.

"Já encomendamos a reimpressão de 50 mil exemplares", disse a VEJA.com o diretor editorial do Grupo LeYa, Pascoal Soto, que publica no país o trabalho de Marques Lopes. Leia aqui o primeiro capítulo da obra.

Saramago em 140 caracteres


- "O que as vitórias têm de mau é que não são definitivas. O que as derrotas têm de bom é que também não são definitivas" via @marininha

- "É ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido” via @jessicasombra

- “Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia” via @cacawerneck

- “Por causa e em nome de Deus é que se tem permitido e justificado tudo, principalmente o mais horrendo e cruel” via @tuliovianna

- “Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma” via @cecilia_galvao

- “Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é so um dia mais” @mtdreher

- “Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar” via @crismoskwyn

- “Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos” via @crismoskwyn

- “Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo” via @danits1

Saramago


- "Na morte a cegueira é igual para todos" (Ensaio Sobre a Cegueira)

- "As religiões, todas elas, por mais voltas que lhes dermos, não têm outra justificação para existir que não seja a morte, precisam dela como do pão para a boca” (As Intermitências da Morte)

- “Um escritor é um homem como os outros: sonha” (José Saramago: il bagaglio dello scrittore)

- "Eu, no fundo, não invento nada. Sou apenas alguém que se limita a levantar uma pedra e a pôr à vista o que está por baixo. Não é minha culpa se de vez em quando me saem monstros" (Lusa, 2007)

- "Se começássemos a dizer claramente que a democracia é uma piada, um engano, uma fachada, uma falácia e uma mentira, talvez pudéssemos nos entender melhor" (‘Veja’, 2004)

- "O universo não tem notícia da nossa existência" (‘Público’, 2005)

- “A grande prova de sabedoria é ter presente que mesmo os sentimentos devem saber administrar o tempo.” (‘História do Cerco de Lisboa’

- "Nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe" (‘A Caverna’)

- “A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós” (‘Ano da Morte de Ricardo Reis’)
- "Não se pode trabalhar num esgoto sem cheirar a esgoto" (‘A Noite’)
- "Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa somos nós" (‘Ensaio Sobre a Cegueira’)

- "A vida é assim, faz-se muito de coisas que acabam, Também se faz de coisas que principiam, Nunca são as mesmas" (‘A Caverna’)

- "Se não formos capazes de viver inteiramente como pessoas, ao menos, façamos tudo para não viver inteiramente como animais" (‘Ensaio Sobre a Cegueira’)


>> Na próxima quinta-feira, veja crônica de Fernanda Miki para o caderno Feliz Idade.

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