1 de abril de 2010

A Páscoa é renascimento



Pokemons, Hello kity, Barbie, Homem-aranha, Ben10 pairam sobre minha cabeça, enquanto tento encontrar algum presente para adoçar a Páscoa. Os enfeites e motivos são tantos que escondem até o chocolate que está por dentro e fazem esquecer o verdadeiro espírito da Páscoa.  A data está cada vez mais comercial, atiçando desejos e frustrações materialistas.    Essa dissociação é natural num mundo movido pelas aparências, em que o que menos importa é o significado, a essência das coisas.
Mas é importante lembrar que a Páscoa é um evento essencialmente simbólico, representando uma passagem: a saída do povo de Israel da escravidão do Egito. O seu sentido é de libertação. Celebração da vida e da esperança. Coincide também com a chegada do outono (no hemisfério sul). A partir de agora os dias ficarão progressivamente menores, teremos menos luz e calor; enfrentaremos duas estações frias. As árvores perderão suas folhas, parecerão morrer, mas estarão apenas adormecidas, fomentando o florescer que chegará à primavera. A mudança do clima favorece a interiorização: ficaremos mais em casa, nos protegeremos das intempéries e isto provocará várias mudanças de hábitos.
Cada ciclo de vida inspira reflexões e traz a oportunidade de mudanças. Vivemos como se fôssemos livres, mas somos subjugados por modernas formas de escravidão. Multidões estão algemadas nos imperativos da moda; outras escravizadas pelo dinheiro ou iludidas com sucesso e passageira fama. Gente que pensa que vive, enquanto suas poucas horas de folga são devoradas frente à TV, assistindo notícias e cenas de violência, intercaladas por programas de frivolidades. A grande maioria refém do medo, buscando proteção em caros seguros de vida e planos de saúde, refugiando-se no abrigo dos remédios ou das drogas ilícitas. Todas estas e mais outras tantas são formas de aprisionamento.
A liberdade que se precisa conquistar nesses tempos é bem diferente daquela do povo judeu. Ser livre hoje representa nadar contra a forte corrente dos modismos; romper com os imperativos consumistas desse mundo competitivo e materialista.  Ser capaz de optar por uma vida mais simples, priorizando a essência, o significado, os valores, a ética, a justiça, a responsabilidade, a solidariedade.
A Páscoa e Semana Santa significam bem mais do que fazer jejum, comer peixe e distribuir chocolates para amigos e familiares. É uma passagem para uma nova fase e, com isto, a oportunidade de uma nova vida.  É momento de pensar e buscar novos significados para a existência, rompendo com os grilhões das trivialidades, dos automatismos diários, dos interesses superficiais.  Olhar a vida de modo mais profundo, reflexivo, autoconsciente.
Desejo que este final de semana prolongado seja saboreado docemente e que o espírito da Páscoa esteja presente, fecundando pensamentos e atitudes mais amorosas, pacíficas, responsáveis.
Feliz Páscoa, feliz renascimento a todos.

Sílvia Lúcia, psicóloga
Blog: silvialcoliveira.blogspot.com  -  silvialucia.oliveira@gmail.com

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