3 de setembro de 2010

700 metros e muitas reflexões




Para baixo todo santo ajuda. Nem sempre. A demorada operação de resgate dos mineiros presos no Chile, acompanhada pelos holofotes do mundo, demonstra o quanto ocupamos uma terra insondável e nos coloca – ou deveria colocar - em nosso devido lugar. Somos pequenos, frágeis e impotentes diante da Natureza e de suas forças. 
A vaidade humana constrói prédios com mais de 700 metros de altura, pretendendo riscar o céu e impor seu domínio.  As ilusões de poder continuam fascinando a humanidade. O ser humano é capaz de ir a Lua, viajar a velocidade do som (1224 km por hora), mas só consegue avançar poucos metros por dia na perfuração do solo. Longos meses serão necessários para que as máquinas vençam apenas 700 metros, sete quarteirões – menos de um quilômetro do chão que está sob seus pés.
Loucamente, fabricam-se bombas atômicas para exterminar num segundo uma cidade inteira, armazenam-se arsenal capaz de explodir o planeta inteiro, mas não conseguiram produzir a máquina eficiente para perfurar o solo profundo rapidamente. A Terra é insondável, sólida, densa e internamente chega a ser tão quente quanto o Sol. Explorada, bombardeada, não se vinga e nem dá troco: não é este o espírito da mãe natureza.  Ela apenas reage, recompondo sua força e forma.  Nunca, jamais, é sorrateira: como mãe amorosa, quando desrespeitada sempre dá muitos sinais de alerta, antes de drástica reação.
O episódio chileno possibilita muitas reflexões. Pensar sobre a dimensão da Natureza e o quanto precisamos conhecê-la e respeitá-la.  Como os rios, oceanos e montanhas, a mina chilena deu avisos de que iria iniciar um processo de se recompor. Mas, como costuma acontecer, a mãe-natureza não foi ouvida: o desrespeito arrogante persistiu até o desastre se concretizar.
Há um lado positivo para redimir um pouco nossos tão falhos comportamentos humanos. O pequeno grupo de mineiros retido demonstra qualidades ímpares: se mostram unidos, organizados,  resistentes e capazes de lidar o infortúnio com serenidade.  Dão um exemplo do quanto a dureza do trabalho rude pode aprimorar o espírito humano. O serviço penoso que os mantém fisicamente sujos parece ter aprimorado virtudes: solidariedade, capacidade de superar frustrações, resistência a privações.  A pele engrossada e as unhas sujas brutalizaram os corpos, mas em muito podem ter ajudado a aprimorar suas almas.
A humanidade evolui mais fazendo forçados trabalhos do que aboletada em funções abusivamente remuneradas. É mais fácil evoluir na privação do que na abastança.  O efeito provocado pelos excessos de conforto e luxo vem sendo demonstrados em diários maus exemplos dos seguimentos mais poderosos da sociedade. Paradoxos que merecem reflexão e mudança de paradigmas.

Por Sílvia Lúcia
Blog: silvialcoliveira.blogspot.com 
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