24 de outubro de 2010
Tudo em ‘pratos limpos’
A antropóloga americana Helen Fisher diz que as mulheres pensam de maneira contextual e holística; enquanto que os homens têm inclinação para adotar um pensamento linear. Para eles, uma abordagem do tipo “tudo ou nada” produz um conjunto limitado de resultados. Já para as mulheres, o pensamento abrange um leque de infinitos resultados.
Por não terem podido se concentrar em um objetivo único, as mulheres desenvolveram a tendência de conviver com a multiplicidade e ambigüidade, opina a antropóloga Mary Bateson, em “Compondo a vida”. Por isso, adquiriram a experiência em encontrar soluções inovadoras para as confusões cotidianas da vida e as prioridades que competem entre si.
Bete, a diarista de minha irmã tem uma visão simplificada a respeito dessa diferença entre os sexos. E separa homens e mulheres listando-os pelas igualdades comportamentais, que incluem defeitos e qualidades. Objetiva, conclui: “É por isso que não adianta trocar de parceiro; são todos no mesmo molde, feitos na mesma forma”.
Exagero conclusivo à parte, ela vai contando que reclama das mesmas coisas que sua irmã, sua amiga e sua vizinha. “É como se os homens fossem clones apresentando os mesmos defeitos e qualidades com pouquíssimas variações”, afirma. Mas, para ser justa, Bete diz suspeitar que eles também tenham a mesma visão de nós.
Ela reclama da mesma atitude do marido que sua tropa feminina igualmente aponta em seus parceiros. Depois de um dia cansativo de trabalho, por exemplo, conta que chega à casa, muitas vezes passando antes no supermercado, e vai logo preparando o jantar enquanto ele assiste tevê. Depois, dá uma geral na casa quase sugando seus chinelos de forma provocadora, mas ele parece não se perturbar e continua assistindo tevê. Separa as roupas pelas cores para colocar na máquina de lavar, bota sabão, liga... O marido continua pregado em frente à tevê.
Lá pelas tantas, ele parece sair de seu torpor televisivo e lhe diz sem dar muita ênfase à afirmação: “Deixa a louça que eu lavo”. Ela responde que sim, toma seu banho e se atira na cama. Mas no dia seguinte, quando abre a porta da cozinha, ou se depara com os pratos sujos na pia e as panelas com sobras de comida – agora estragadas -, em cima do fogão, ou abre a geladeira e as encontra lá, com as tampas em falso e as colheres dentro. “Não há nada mais irritante”, sentencia.
E o pior é que, dada a pouca flexibilidade e disposição de mudança dos homens, Bete sabe que os dias que se seguirão serão ilustrados pelo mesmo quadro familiar. Enquanto os homens traçam uma linha reta do ponto A ao ponto B e simplificam tudo (se as panelas estão sujas e as colheres também, por que separá-las?), as mulheres traçam para a mesma distância, infinitas possibilidades.
E mesmo que homens e mulheres sejam separados em dois grupos que agem de forma semelhante entre si e díspares entre eles, a flexibilidade é uma grande aliada feminina, fazendo com que cada uma se reinvente a cada dia. E dê novas caras e novos sentidos às mesmas coisas.
Rosane Leiria Ávila
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