25 de setembro de 2010
Renata Elisa Nunes
24 de setembro de 2010
Comportamento
Pedrinho da RISUL
- Fotos-reportagem: Bruno Kairalla
Depois de Raul de Bem, na Semana Nacional do Trânsito e ainda em comemoração aos 35 anos de circulação ininterrupta do Jornal Agora, o caderno Feliz Idade homenageia uma das mais importantes e ilustres figuras de sua história: Pedro Alberto Jensen, um dos funcionários mais antigos da casa ainda em plena atividade e que participa hoje de uma nova edição da série "Capaz Idade", cuja proposta é reverenciar profissionais que mesmo após os 70 anos são um exemplo para quem começa a escrever ou já atravessa a sua própria trajetória profissional.
Aos 71 anos, Jensen, orgulhosamente rio-grandino, já atuou nas mais diversas funções. Ao lado da família, por exemplo, já pousou em dois diferentes momentos como "garoto propaganda" das campanhas publicitárias do Agora, sendo a última há quase dois anos, em novembro de 2008, para a promoção "Distribuindo Ilusões". Fora isso, ele adiciona em outro ponto da entrevista que em durante as férias de um dos funcionários já atuou até mesmo como segurança da empresa.
Na verdade, sua história dentro do Jornal da Terra começa muito antes dele existir, há 50 anos, lá pelo início da década de 60, quando depois de estudar na escola Bibiano de Almeida e também desistir de seguir carreira militar pelo Regimento de Cavalaria, um dia, ao passar em frente das Organizações Risul decidiu arriscar uma nova profissão ao ser admitido pelo empresário e ainda hoje diretor-presidente da empresa, Germano Toralles Leite.
Criada em 58, a Risul, que no início trabalhava apenas com vendas e consertos de pneus, foi o primeiro emprego de Jensen. Nele, ingressou atuando como borracheiro da empresa.
E se para cada escolha uma renúncia, para Pedro não foi muito fácil. Na mesma época, ele lembra que o Governo do Estado estava oferecendo vagas para interessados em atuar na área da construção civil. O objetivo era erguer o maior número possível de escolas.
Informado de que após a conclusão das obras os funcionários seriam todos dispensados, Jensen decidiu permanecer na Risul. "Quando terminaram as obras, o Estado abriu um concurso para diversas funções dentro do Porto rio-grandino e depois soube que todos os operários que já atuavam foram efetivados sem a necessidade do concurso", recorda.
Entretanto, Pedro traça um contraponto de sua escolha: "Em compensação, se eu não tivesse permanecido na Risul talvez hoje não teria esta família maravilhosa ao lado", diz ele ao olhar de soslaio para sua esposa e seus dois filhos. Pedro refere-se ao período em que na Risul conheceu sua cúmplice, dona Irene Terra Jensen.
"Ela morava próxima a Risul e nós seguidamente nos encontrávamos. Depois descobrimos que os nossos pais tinham crescidos juntos e eram muito amigos", conta ele. O que naquela época, segundo a própria dona Irene, tornou ainda maior a cobrança pelo sucesso da relação.
Pedro e Irene se conheceram em 1961, cumpriram com todo o antigo padrão de namoro, "só podíamos sair acompanhados do meu irmão" – conta Irene, e, em janeiro próximo, completam 48 anos de casados.
O maior fruto desta união é o imponente orgulho que os dois sentem ao falarem dos quatro netos, sendo que a mais velha hoje está com 26 anos e a mais nova com apenas sete.
Também é de se dar crédito a forma bem humorada com que os dois se tratam diariamente, sempre mexendo um com o outro, e ao jeito pelo qual também ainda hoje se despedem quando ele retorna ao trabalho: um beijo na boca!
Pedrinho da Risul
"A coisa que menos pensava na vida era trabalhar como borracheiro", frisa Jensen, ao voltarmos falar sobre sua trajetória na Risul. Na empresa, além dos consertos e reparos em pneus, Pedro, sempre comunicativo, logo foi manejado para a sessão de vendas de pneus, baterias, peças e acessórios, posto em que manteria contato com os clientes e não tardaria a ser reconhecido como o "Pedrinho da Risul".
Além de acompanhar os movimentos e as transformações da empresa, inclusive a troca de sede, Pedro também foi um dos funcionários fundadores das novas apostas dentro do mercado rio-grandino, do empresário Germano Leite (à esq. abaixo) a criação do periódico O Peixeiro, em 62, que com o sucesso logo depois daria vida ao Jornal Agora, em setembro de 75.
Do nascimento dos dois veículos, Pedro participou de todo o processo, da impressão, do ato de intercalar manualmente as páginas, até mesmo a sua distribuição pelos principais pontos da cidade. Distribuído aos domingos, ele lembra que no Cine Glória as pessoas não entravam sem antes pegar um exemplar de O Peixeiro.
"O pessoal ficava na sala de espera e o mais legal disso tudo era entrar na sala de exibição e ver aquele mar de gente com uma folha rosa nas mãos", recorda ele que distribuía o semanário pela rua Carlos Gomes e no Cine Teatro Avenida.
Contudo, após passar por alguns problemas de saúde e com a ajuda de Germano Leite, Pedro abriu a sua própria oficina na Avenida Portugal. Através da sua borracharia, ele conquistou dois grandes sonhos na vida de qualquer cidadão: a primeira casa e também o primeiro carro: "Um fusca 69 [ do ano de 1969] que muito rodou por aí", garante ele, com bom humor.
Novamente acometido por problemas de saúde, seis anos depois sua empresa fechava as portas. Vendeu o negócio, passando a atuar pela primeira vez como motorista da "TV Rio Grande", hoje, RBS TV.
Nesta última função, Pedro além de motorista também atuou na empresa como operador de VT e cinegrafista. Da TV também para uma rápida apresentação num programa na extinta rádio Cultura Rio-grandina. E, "como o bom filho a casa torna", Jensen foi novamente recebido pelas Organizações Risul, onde se aposentou por tempo de serviço no final da década de 90.
No entanto, foram apenas seis meses "curtindo" a aposentadoria. Em casa, para passar o tempo, cozinhava ou fazia melhoramentos em sua estrutura. Mas não era o suficiente para quem sempre tinha o dia repleto de atividades. "Aquilo foi me dando uma angústia muito grande. Precisava fazer alguma coisa, pois não gostava de ficar parado. Não gosto e não quero levar uma vida sedentária", assegura Pedro, ao também deixar claro que não pretende parar tão cedo.
O "motora"
À convite da então editora, Rosane Leiria Ávila, Jensen retornou ao Jornal Agora, desta vez como motorista da empresa e da equipe de reportagem. Na função já atua há quase uma década. Nela passou também a acompanhar diariamente os movimentos frenéticos da cidade.
No trânsito, Pedro salienta que procura sempre respeitar e se adaptar as novas regras. Considera-se um condutor cuidadoso, porém, diz que não tolera barbeiragens. Por conta disso, fala que, como muitos, já passou por várias situações engraçadas no trânsito, como por exemplo, xingar ou chamar a atenção amigos e conhecidos. "Depois a gente ri e cumprimenta", brinca.
"Sem querer ser antipático", Pedro reclama da forma que seus conterrâneos conduzem seus veículos, desconhecendo alguns preceitos básicos, como um dos principais: o andar devagar à direita e mais rápido à esquerda.
Além disso, ele fala que é muito comum os condutores esquecerem de dar o pisca para realizar alguma manobra brusca e que por conta disso o que mais se vê são cortes ou interceptações bruscas no trânsito.
Por fim, define o trânsito rio-grandino como caótico e bastante estressante. "O que acontece é que aqui temos muitos motoristas de fim de semana, que pela pouca prática não estão aptos a andar nem de bicicleta o que dirá atrás de um volante", relaciona.
Despercebida
Sobre a terceira idade, Pedro ressalta que ela entrou despercebida. Embora ele já tenha passado por duas cirurgias, gaba-se por gozar de uma boa saúde e curtir os programas ao lado de sua família.
Ao lado deles gosta de programar viagens, passear e também de praticar em casa serviços de pedreiro e outros manuais como a pintura. Além disso, para fugir da rotina estressante do trânsito, fala que já fez hidroginástica e que hoje só pratica caminhada ou mesmo 'pedaladas'.
Sobre a culinária, reforça que gosta mesmo é do desafio de executar novas receitas, uma atividade que começou quando acompanhava a gravação do programa de culinária de Laura Caruzo. "O programa era gravado às quartas e aos domingos fazia as receitas em casa", completa Pedro.
Do pai portuário, que trabalhava nas oficinas de fundição do Porto, Pedro herdou a paixão por cavalos. "Ele era turfista da região do Taim e sempre teve cavalo de corrida", acrescenta ele, intitulando-se um bom conhecedor de eqüinos.
Agora
Sem perder o foco e a atenção do que se passa na rua, Pedro é um tagarela nato. Tem opinião para tudo. Crítico, está sempre receptivo a uma boa conversa, mas também tem os seus dias de "me deixa quieto". No entanto, esses são mais raros ou não, dependendo da estressante rotina.
É chato com horários, não gosta de esperar horas pela feitura de alguma reportagem, mas não interfere e nem atrapalha. É ciente do quanto a notícia, por mais pé no saco que o tema seja, é importante para a (in)formação da comunidade.
Por ele também já passaram os mais diversos profissionais. Reconhece os melhores de longe. Faz questão de incentivá-los, cumprimentá-los quando se sente diante de um bom trabalho. Como integrante e fundador da família Agora é um dos seus principais leitores e críticos também.
Não é de usar "meias palavras" e sempre que acha que uma matéria não ficou o bicho ou que faltou algo, é um dos primeiros a sinalizar. Pela ampla rede de contatos que estabeleceu em anos de serviço, também é um ótimo indicador de fontes.
O "Pedrinho da Risul", orgulha-se também de ser uma das personalidades mais conhecidas da cidade. "Tem clientes lá do início da Risul que me perguntavam quando iria me candidatar a vereador [risos]. E pensar que tudo começou atrás de um balcão, vendendo pneus, que aos poucos fui angariando a simpatia das pessoas", celebra ele.
Além do carinho dos conhecidos, Pedro conquista também a amizade dos jornalistas que transporta diariamente para as reportagens. Sabe de suas manias, dos anseios. Ao seu lado é impossível não rir, não desabafar no calor da hora. Sabe tudo do que acontece nos bastidores.
Quanto aos 35 anos do Agora, Pedro finaliza: "Vejo esta trajetória com um ar de vitória, pois como funcionário vi este Jornal nascer, participei de sua confecção, acompanhei todo o seu crescimento, vi ele se expandir, se firmar e obter credibilidade na cidade. Eu sempre vou me sentir ligado a sua história, porque ele também faz parte da minha. Sem dúvida, foi uma entrega. Lembro que muitas vezes não tínhamos hora para sair daqui e sinceramente não me arrependo de nada do que vivi aqui dentro".