POR BRUNO Z. KAIRALLA
- bruno.kairalla@gmail.com
- bruno.kairalla@gmail.com
- twitter.com/bzkairalla
Ao lado de um agressivo exército feminino, a cantora Beyoncé surgiu na última quarta-feira, 18, através do clipe "Run the World (Girls)" - o primeiro single do novo álbum "4", que chega às lojas no dia 28 de junho próximo.
Famosa pelo seu requebrado e por sua voz inigualável, no vídeo, Beyoncé esta à frente de um exército de mulheres de diferentes etnias, que avança em direção a um grupo de soldados homens, protegidos por escudos.
Gravado na Califórnia, sob a direção de Francis Lawrence, o clipe aborda o domínio feminino – “quem comanda o mundo? as garotas", repete a música como mantra – e ganha forma em coreografias que exaltam o poder e a força da sensualidade feminina perante os homens.
Na letra, a mensagem da cantora é clara:
“Se você me odiar, minha persuasão pode construir uma nação. Poder infinito. A gente consegue devorar o amor. Você vai fazer qualquer coisa para mim. (...)
Estou falando em nome das garotas que já dominaram o mundo (...)
Assim como somos espertas o bastante para ganhar milhões, fortes o suficiente para lidar com as crianças e depois voltar aos negócios.
Veja, é melhor não brincar comigo”.
“Se você me odiar, minha persuasão pode construir uma nação. Poder infinito. A gente consegue devorar o amor. Você vai fazer qualquer coisa para mim. (...)
Estou falando em nome das garotas que já dominaram o mundo (...)
Assim como somos espertas o bastante para ganhar milhões, fortes o suficiente para lidar com as crianças e depois voltar aos negócios.
Veja, é melhor não brincar comigo”.
A música, que pela batida deve virar hit e tocar a exaustão nas rádios e em festas nas próximas semanas, figura um contexto histórico nunca antes visto: o ataque direto e declarado a imagem masculina.
Muito se discute do comportamento feminino, de drogas e dos direitos de homossexuais, mas e o homem? Quem ele é, como pensa e o que quer? O conflito entre gerações e o silêncio de informações nunca foram tão distantes.
O que conduz a um campo fértil para grandes erros, como, por exemplo, o cometido em maio último pela Bombril e a sua campanha publicitária AME – Associação das Mulheres Evoluídas, que ao sugerir o “adestramento” do homem em casa, conseguiu a máxima de despertar o repúdio do próprio público-alvo, o feminino.
Além de esquecer que os homens atuais vão ao supermercado e possuem um potencial apreço por marcas, a empresa errou feio ao cometer o pior insulto a convivência humana: o estímulo a discriminação de gêneros, algo que elas tanto lutaram contra no passado.
Eles, claro, reagiram e acionaram o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária. Outros, porém, responderam com o mesmo erro grotesco: revidando contra as mulheres.
Elas, por sua vez, questionaram qual o conceito de evolução a empresa teria adotado ao colocá-las no papel de autoritárias masculinizadas.
- Em uma campanha, a Bombril conseguiu acabar com décadas de discussões sobre a igualdade entre homens e mulheres. Ela trabalha com o revanchismo e apenas atenua a guerra entre os sexos.
- Não é copiando o masculino na sua pior parte - na agressividade, imposição e espírito para a guerra - que vamos chegar a um lugar bom e justo para todos - respondeu a blogueira Martha Dias.
E não foi só no Brasil. Nos EUA, a empresa de roupas David and Goliath pagou um preço alto por,em dezembro de 2003, lançar uma camisa com os dizeres: “Garotos são burros! Joguem pedras neles!”.
Depois de uma campanha e da criação do movimento pelo “masculinismo”, a empresa foi obrigada a se retratar aos consumidores e a retirar o produto do mercado.
Mas, a confusão do papel masculino não é fruto somente dos movimentos feministas, cada vez mais crescentes e apoiados pelas grandes mídias.
Sufocados eles também foram pela própria liberdade sexual entre ambos os sexos, a independência e o sucesso da mulher no mercado e, consequentemente, na vida pessoal.
O que conferiu a elas autonomia e poder de controle nas decisões.
A preocupação agora, portanto, deve ser pela harmonia da diferença dos sexos e não pela indiferença de qualquer um deles. A hora, então, é de se reinventar.
É o homem diante da figura de um novo homem – não menos viril e firme nos seus propósitos, porém, mais frágil e exposto emocionalmente.
Saí à imagem do machão durão, inabalável, inquestionável e único provedor do lar, para nascer, então, o homem mais honesto, sensível e natural consigo, com o seu meio e também com as suas necessidades.
Para o renomado psiquiatra Carlos Aberto Martins de Castro, 69 anos, a competitividade no mercado de trabalho, a capacidade multifuncional e a independência das mulheres, trouxeram aos homens uma fragilidade inesperada e que hoje é diagnosticada dentro dos consultórios médicos.
- Hoje eles apresentam um sentimento maior de angústia, desenvolvendo pânicos e fobias que eles não tinham anteriormente. Neste contexto, eles se tornaram mais ansiosos e até inseguros.
- A impotência sexual diagnosticada hoje nos jovens de 30 anos é exatamente a fragilidade deles em manter um lar, conquistar o seu espaço no acirrado mercado de trabalho e manter o equilíbrio da família, a mulher satisfeita com ele - avalia o médico.
Foto: Bruno Kairalla
Resistentes na hora de procurar um médico, eles geralmente são conhecidos por reprimir suas emoções ou não exteriorizar seus sentimentos.
E a ciência já comprovou: os homens morrem mais cedo do que as mulheres. A média mundial revela: são sete anos a menos do que elas. E não adianta fazer piadinha não, o assunto é sério.
Para o cardiologista, Rui Peixoto, diante a uma doença, "os homens, usam um dos primeiros e mais primitivos mecanismos de defesa do ego: a negação. Entre as causas do adiamento da consulta médica, em primeiro lugar está o medo. Em seguida, a vergonha é o motivo mais freqüente para adiar a ajuda profissional, pois admitir a doença pode parecer inferioridade".
Carlos Alberto acrescenta: - Os homens continuam achando que procurar um médico é um sinal público de fraqueza, carregando angústia, ansiedade e sofrendo depressão.
Com relação à procura pelo apoio psicológico, o médico é pragmático: - Nos consultórios, a cada 10 mulheres, um ou no máximo dois são homens - enfatiza Castro. - Entretanto, com relação às drogas, os homens procuram mais o amparo - adiciona ele.
O médico afirma ainda que, geralmente, os dois sexos reagem quase que da mesma maneira quando recebem notícias ruins sobre sua saúde. - O que muda é o nível de comprometimento delas após a notícia - aponta ele.
Naturais e flexíveis
Carlos Alberto acredita que os principais benefícios desta mudança de comportamento, é que o homem está se tornando mais natural e flexível em sua essência.
- Ele está deixando de viver dentro de uma capa fictícia e está descobrindo que quanto mais natural for, melhor será para se relacionar com ele e com as pessoas que estão ao seu arredor, demonstrando sentimentos antes desagradáveis e pejorativos, como chorar, admitir que sente dor e que também possui dificuldades de enfrentar desafios - expõe.
Com quase duas décadas de atuação na psiquiatria, Castro considera que o homem ganha em adquirir mais flexibilidade emocional para administrar as necessidades da empresa e da família.
- Os homens modernos não tem medo de usar cor de rosa - brinca ele ao mostrar a cor do aparelho celular, no término da entrevista.
Homem que não chora, morre
Foto: Deyver Dias
- O estresse, os sentimentos reprimidos, contidos, as frustrações, mágoas, as raivas, tudo isso vai se somando dentro desta panela, que, como toda, possui sua válvula de escape.
- Para que "esse ar" saia de forma saudável, teríamos que resolver esses conflitos, aprender a conhecer mais a si mesmo, e assim adquirir a paz interior, bem como a harmonia entre corpo e mente.
- Mas, normalmente, isso não acontece, e no homem é mais frequente por serem racionais demais. Porém, de alguma forma essa pressão tem que sair, por que se isso não acontecer ou se chega à loucura ou a morte.
- Às vezes essa morte é súbita, em outras se desenvolve algum tipo de doença. Defesas imunológicas baixas também acabam levando a morte”, reforça a psicóloga.
Para Sonia, os tempos mudaram, mas a sociedade ainda vive sob os reflexos do machismo do passado.
- Ainda hoje se ouvem essas frases “homem não chora” ou “tal atitude não é coisa de homem”, com frequência de crianças nas escolas, sendo que as consequências desses valores passados são justamente a repressão dos sentimentos.
- O não expor se estou sofrendo por amor, por dor, por perda, etc. Então, a nossa panela de pressão já começa o seu processo de fervura para acionar a válvula de escape mais tarde na fase adulta - observa ela.
A psicóloga ainda responde por que os homens são menos resistentes a dor.
- Ele procura lidar com seus sentimentos racionalmente, tem muita facilidade de racionalizar, dar uma explicação lógica a tudo para que amenize o sofrimento da alma.
Diante da dor física, não conseguem agir dessa forma, então, passam a sentir-se impotente em confronto com a dor, fazendo com que haja uma potencialização da mesma.
E por que para eles é tão difícil viver só, sendo mais dependentes?
- Ainda é comum para eles sair da casa da mãe somente quando vão viver junto com a parceira. Então, a figura da mãe protetora passa a ser substituída pela companheira.
A atenção e a preocupação que lhe é dedicada, as cobranças feitas, tudo isto traz mais segurança. No momento em que estão morando sozinhos sentem-se meio que abandonados, desamados e por isso procuram logo alguém para dividir o espaço.
Entre diferenças
- As mulheres são as que mais somam dívidas quando as prestações chegam até R$ 500. Acima deste valor, os homens são os maiores devedores. A pesquisa foi desenvolvida pelo SPC Brasil.
- Pesquisa O Observador 2011, encomendada pela Cetelem BGN à Ipsos Public, apontou que, na maioria dos casos, a mulher é a chefe de família da Classe C – com renda média familiar de R$ 1.338 e que de 34% em 2005, pulou para 53% em 2010, tornando-se a maior do país, acima das Classes AB (21%) e DE (25%). Para a Classe C, os principais gastos são com o supermercado, o pagamento de crédito e aluguel.
- Lembra a conhecida expressão de mulher mal amada? Pois saiba que os hormônios também afetam a vida dos homens. “A falta de testosterona faz com que eles fiquem deprimidos, mal-humorados, sensíveis e sofram da síndrome da irritação masculina”, aponta o cientista Gerald Lincoln, funcionário da Unidade de Reprodução Humana de Edimburgo, na Escócia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário