11 de maio de 2011

Guerra dos Sexos


Estudos neurocientíficos, feitos nos EUA, apoiam a separação de meninos e meninas nas classes dos primeiros anos do ensino fundamental

O tema é polêmico: de um lado, a nossa intuição moral de que homens e mulheres são -ou, pelo menos, deveriam ser- iguais e o desejo de reverter alguns milênios de opressão machista. De outro, as evidências científicas apontando que as diferenças biológicas entre machos e fêmeas vão muito além da anatomia.


Embora as áreas em que as diferenças se materializam com mais força já tenham sido razoavelmente mapeadas, as descobertas oriundas disso ainda não geraram princípios pedagógicos ou organizacionais de utilidade prática. Parte da dificuldade está no tabu que ainda cerca o tema, mesmo nos meios acadêmicos.

Larry Summers, demitido da reitoria de Harvard, em 2006, após ter sugerido que o baixo número de mulheres em certos ramos da ciência estaria relacionado às diferenças naturais entre os sexos // Foto by Reuters

Gostemos ou não, hoje sabemos que os níveis de exposição pré-natal a hormônios sexuais afetam a forma como o cérebro de meninos e meninas se organiza - o que não aumenta nem diminue a capacidade de  qualquer um deles, apenas os diferencia, e muito!


Diferenças entre gêneros e cérebros

Nos últimos anos, surgiram vários livros explorando as diferenças entre gêneros e propondo soluções mais ou menos milagrosas para resolver o que identificam como "problema''.

Um bom exemplar é "Why Gender Matters'' ("porque o gênero importa", em tradução livre), do médico Leonard Sax, que faz uma defesa entusiasmada da separação por sexo nas escolas.
Em tradução livre: "Porque o gênero importa"


  Leonard Sax: médico e autor do polêmico "Why Gender Matter"'
 

Sax - um conservador extremista, defensor da palmada pedagógica (só para meninos) e inimigo da iniciação sexual na adolescência -  não hesita ao fazer uso do peso de evidências científicas para sustentar sua tese. O que põe seu livro na prateleira das obras militantes, não na das científicas, mas, ainda assim, traz "insights'' interessantes. Segundo ele, a piora das escolas deve-se ao fato de que a sociedade se tornou cega para as diferenças de gênero. Sem respeitar características próprias de cada sexo, o sistema educacional acaba prejudicando os dois.



 Um exemplo: meninas amadurecem as áreas do cérebro envolvidas na escrita um pouco antes que meninos. Como hoje a alfabetização tem início no jardim de infância (quando a maioria dos garotos ainda não está pronta), eles acabam experimentando insucesso escolar precocemente, o que muitas vezes os marca como maus alunos para o resto da vida.

De modo análogo, o autor sustenta que é possível despertar o interesse das meninas pela matemática, enfatizando suas aplicações práticas em vez de seu caráter abstrato. É possível que Sax tenha razão, embora não com a veemência que pretende.

Uma revisão das escolas que fazem a separação por gênero, realizada em 2005 pela Secretaria de Educação dos EUA, conclui que existe "algum apoio à premissa de que a separação pode ser útil'', especialmente quando se tem em vista resultados acadêmicos de curto prazo. Mas ao contrário do que os entusiastas esperavam, não foram observadas diferenças no que diz respeito a gravidez precoce, performance na faculdade e bullying.

Na foto, publicada no New York Times, uma classe composta exclusivamente por meninas
De toda maneira, o número de escolas públicas nos EUA oferecendo classes separadas por sexo vem crescendo. Elas passaram de 11, em 2002, para 540, em 2009


Por Ju Blasina com informações da FolhaPress

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