15 de maio de 2011

Crônica: A VINGANÇA É UM PRATO


Dizem muitos que a vingança é um prato que se come frio, saboreado ardilosamente. Coisa para ser feita ao longo do tempo, marinada pela mágoa e arrematada pelo ressentimento. Fazem a cobrança tardia de coisas que não permitiram que o tempo apagasse. Vingativos convictos são esses seres capazes de dormirem muitas noites e acordarem com mesma idéia e disposição na cabeça. Esses tipos persistentes, ardilosos, que passam anos a fio bordando e tecendo reações não são numerosos, para nossa grande sorte.
A maior parte do universo dos vingativos é composta das pessoas vingativas que são dadas a reações imediatas, atos menos pensados, pouco elaborados. São os que agem no calor das emoções, com a cabeça quente, ao estilo “bateu levou”, tão em voga em situações cotidianas bem banais. Gente que não parece perdoar nada, que revida qualquer coisa que lhe pareça ter sido ofensiva: não levam desaforo para casa. É para eles uma catarse: explodem, revidam e se despojam de sua ira. Devoram o prato da vingança cru e quente. Quando a cabeça esfria e o coração se acalma conseguem refletir e até se arrepender dos atos cometidos.
Desejos de vingança pessoais fazem parte das falhas humanas e quando, causados por amores feridos ou não correspondidos, são fáceis de entender. Muita gente que procura psicoterapia (ou deveria procurar) sofre desses sentimentos mal resolvidos e só supera seus problemas quando consegue desfazer-se da ladainha da vingança que enreda sua vida ao novelo de situações passadas. Perigosas e bem mais graves são as vinganças que se transformam em atos, e mais graves ainda quando ensejadas de forma coletiva, promovidas por nações.



As ações vingativas não colaboram para a paz. Não é revidando ofensas ou praticando crimes que se constrói um mundo melhor. A barbárie nunca foi companheira do entendimento e da fraternidade. Essas ações que vem de longe (e de cima) parecem distantes, mas reforçam outras formas de agir e pensar, nas quais o revide se torna legítimo. São um péssimo modelo e um mau sinal. Estaremos coletivamente aceitando a violência, a arbitrariedade e a vingança como formas legítimas de justiça? Se assim for, estamos retornando ao tempo da barbárie, do olho por olho, dente por dente; do lavar a honra com sangue e outras coisas do gênero.
Vingança é um prato indigesto e venenoso. Carregado das toxinas da raiva, dos venenos das emoções negativas, não combina bem com a vida e com o caminho do bem, embora continue sendo oferecido em variadas formas no self-service de nossa existência. O mundo estará melhor quando desarmar corações, pensamentos e atitudes; quando for alimentado por uma dieta leve, regada a fraternidade ampla, geral e irrestrita. Por enquanto, continuamos muito longe disto.

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