28 de maio de 2011

A cavalgada das Anitas



POR BRUNO Z. KAIRALLA
- bruno.kairalla@gmail.com
- Fotos: Bruno Kairalla

Foi numa sagrada roda de chimarrão, na casa do tropeiro (local de pequenas reuniões e onde guarda-se os arreios junto às cocheiras), que um grupo de mulheres achou por vaidade que a mulher gaúcha deveria sair do anonimato, garantindo por direito o seu espaço. 

Assim, neste final de semana, a tradicional Cavalgada Feminina chega a sua 5ª edição. Iniciado em 2003, o evento, promovido pelo DTG Tropeiro do Rio Grande, aguarda para este domingo cerca de 30 cavalarianas inscritas.

O movimento começou tímido, quase desacreditado. A primeira edição contou apenas com a participação de um número não superior a oito mulheres. Entretanto, bastou alguns anos para que ele fosse encarado a sério por toda a sua comunidade. 

Na última edição, no ano passado, 29 cavalarianas saíram às ruas do bairro Bolaxa – onde está situado o DTG - percorrendo todo o balneário Cassino. O feito não só será repetido neste ano, como também provocou, ou melhor, impulsionou a criação do Piquete das Anitas – um grupo de montaria, composto por mulheres de várias faixas etárias. 

Nascido dentro do DTG, à iniciativa logo ganhou o apoio do patrão Ricardo da Silva Gonçalves. “Este novo movimento denuncia a força feminina dentro das casas tradicionalistas, pois elas também merecem seu lugar de destaque”, justifica ele.

“O Piquete foi criado com base em dois objetivos: o primeiro, cultuar as tradições, e o segundo agregar as crianças, por isso, além das Anitas de todas as idades, teremos também os Garibaldi piás”, explica Ana Maria de Oliveira Machado, aos 59 anos, uma das sócias do DTG Tropeiro do Rio Grande. O primeiro baile-jantar oficial do Piquete das Anitas está marcado para ocorrer no sábado do dia 11 de junho, na sede do DTG.


O prato da festa já foi eleito: risoto, salada de maionese e sagu de sobremesa. O evento oficial contará com a apresentação de invernadas de outros DTGs e também com a participação do conjunto tradicionalista, Aliança Fandangueira. “Este baile será a nossa oficialização pública do Piquete, em que se fará uma cerimônia para a identificação das Anitas, que receberão um destaque através de um lenço”, detalha dona Ana.

“O meu mundo é aqui há 13 anos”, expõe Ana Maria, que acompanhou boa parte da trajetória do DTG Tropeiro do Rio Grande, criado em 20 outubro de 1994. “É nos DTG que aprendemos o significado de compartilhar o espírito de família”, completa ela, mãe de um casal de filhos, os dois criados no Tropeiro. 


A sócia patrimonial do DTG acrescenta que convive com este espírito de invernadas desde os seus 15 anos e que foi neste centro que teceu os seus grandes laços de amizade. “Nada é mais construtivo do que preservar a cultura e suas tradições”, ensina uma das mais experientes das Anitas, que além da criação do grupo, observa com entusiasmo a realização de uma nova cavalgada.


Entre as cavalarianas deste domingo, está à microempresária Francine Merino da Silva (acima), 35 anos completos ontem, organizadora do evento e ao lado de sua mãe Vera, também uma das idealizadoras da iniciativa. “Minha paixão por cavalos vem desde a infância; meu sonho era ser veterinária, mas a vida tomou outros rumos. A relação com este animal é de afeto e carinho, pois é um ser vivo e merece respeito”, defende a bela representante das tradições gaúchas.  


Sócia do DTG Tropeiro do Rio Grande, Francine discorre sobre esse momento de avanço das conquistas femininas, presentes também por estes espaços que conservam tanto as tradições. No novo grupo Piquete das Anitas, ela será a posteira da invernada cultural. 

Para Francine, indagamos: Qual o papel da mulher hoje nas cavalgadas e no próprio DTG? O que mudou na sua função e compromisso de outros tempos? Segue a resposta:


Digamos que seu papel hoje é de destaque e companheirismo, onde confraternizamos com marido, filhos e amigos”.

Casada há sete anos com Hernandes Guerra Freitas, o Nando do Jipão, Francine também é a mãe do jovem Vinicius Galvão, de 13 anos. Para esta edição da Cavalgada, a microempresária que responde pela marca Só Bombachas, acrescenta que foram criadas camisetas e coletes para deixar de lembrança para as participantes. 

E por falar nos coletes, usados na captação das imagens desta presente reportagem, será com eles – usados por cima de uma camisa branca -, que as cavalarianas serão identificadas no percurso deste domingo. Para as interessadas em participar da iniciativa, o colete está sendo vendido a R$ 30.


A microempresária também conta sobre o que a moda acrescenta hoje aos looks femininos. “A moda oferece bombachas bordadas, vestidos para baile, botas, chapéus e acessórios delicados para abrilhantar a estampa gaúcha e feminina”, pontua.  No domingo, o grupo ainda promove um sorteio de dois pelegos de cores (marrom e cru) e outros três brindes, oferecidos pelo Bolicho das Pilchas, presente na Av Rio Grande, 18.

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