6 de novembro de 2010


“Disse me disse” é a corrente de maledicência, do boato, do mexerico, da difamação. Até não muito tempo atrás esse era o tipo de coisa feita à boca pequena, ao pé do ouvido, em voz baixa, espalhada pessoa a pessoa, num processo demorado e trabalhoso. Dizia-se: quem conta um conto acrescenta um ponto, pois era assim que a coisa ia crescendo. Havia o risco – ou a chance - de que as palavras se perdessem ao vento, se encontrassem no caminho uma pessoa de bem, que não se prestasse a retransmitir a mensagem, cortando o elo da corrente maldosa.
Para conseguir anonimato e fugir das responsabilidades era necessário lambuzar os dedos no complicado trabalho de recortar e colar letras de jornal, montando artesanalmente a maledicência, que ainda precisava ser entregue sorrateiramente ao destinatário.
Distantes parecem aqueles tempos em que fazer coisa errada dava tanto trabalho, medo e vergonha. Agora se tornou rápido e fácil ferir ou até destruir a moralidade de alguém: basta um toque de teclado e mensagens anônimas são transmitidas a todos os quadrantes. A rapidez da transmissão de informação ampliou muito o poder destrutivo das palavras. É só soltar na rede da internet uma noticia e ela vai sendo reproduzida automaticamente nas listas de contato. A coisa é muito fácil de fazer: demanda quase nenhum trabalho ou esforço, pode ser mal acabada, produzida em série e distribuída instantaneamente. E se quiser tornar a coisa mais real e convincente, é possível usar imagens modificadas digitalmente.



Uma imagem vale mais do que mil palavras – continuam dizendo os ingênuos, que não sabem o quanto os olhos podem iludir o coração e enganar a mente.
Com a internet, a capacidade destrutiva dos fuxicos extrapolou qualquer expectativa: tudo se inventa, comenta, recebe e retransmite sem necessidade de confirmação ou autoria. Fofoca - que era coisa feia, repreensível - se tornou quase natural. A internet é a rede do vale tudo, o território do “disse me disse” capaz de alterar destinos e destruir biografias. Acredite quem quiser e questione quem tiver juízo.
Ninguém precisa ser famoso para ser alvo: qualquer um pode ser atingido por comentários e maledicências, agressões moralmente indefensáveis, golpes baixos que atinjam mortalmente sua honra e dignidade, mas naturalmente são as pessoas com projeção pública os alvos mais fáceis.
É preciso ter muita lucidez, bom senso e vigilância para não cair nos contos entregues em lote diariamente na caixa de correio virtual. Pode ser mais prudente descartar sem ler mensagens que trazem informações maledicentes, afinal melhor correr o risco de perder algum trigo do que cometer o engano de gastar precioso tempo semeando joio.

Por Sílvia Lúcia -
Blog: silvialcoliveira.blogspot.com
silvialucia.oliveira@gmail.com

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