13 de novembro de 2010

Na mira de Gisele Braga


"O impossível não existe quando eu desejo intensamente alguma coisa. Só o que existem são obstáculos assustadores, mas, só se tiro os olhos do alvo que foquei inicialmente. Assim me supero a cada dia no esporte, na minha vida pessoal e profissional". 

Deste jeito, Gisele Saraiva Braga, define sua atual perspectiva. De volta desde outubro do ano passado a um dos esportes que mais testam o controle de suas emoções, aos 39 anos, a rio-grandina se tornou em junho último uma das integrantes da equipe permanente da Seleção Brasileira de Tiro Esportivo, com chances de sobra para nos representar nas Olimpíadas de 2012, em Londres (Inglaterra).

Em agosto, Gisele sagrou-se campeã da Copa Federativa do Brasil. Mais recentemente, no final de setembro, a rio-grandina ficou com a segunda colocação na Copa Continental das Américas de Tiro Olímpico. Só para mostrar um pouco da força desta atleta, em 2010, a rio-grandina conquistou mais de 20 títulos em sua ainda curta carreira. [Veja os atuais títulos de Gisele em nosso Blog].

Na próxima terça-feira, 16, até o dia 26 de novembro, a atleta participa do Campeonato das Américas de Tiro (CAT), no Rio de Janeiro (RJ), onde será disputada duas vagas olímpicas, uma na categoria feminina e outra na masculina, para as Olimpíadas de 2012, em Londres. Apenas seis brasileiros – três mulheres e três homens – representam a modalidade de Fossa Olímpica e foram convocados para atirar dentro do CAT. Caso a vitória não ocorra nesta vez, Gisele não tem com que se preocupar. No próximo ano terá novas chances de chegar até as Olimpíadas.



Atuando como corretora de imóveis, Gisele trabalha na imobiliária que leva o nome do marido, Orlando Braga Imóveis, com quem é casada há 20 anos. Com esta mesma idade, Gisele também é mãe do jovem Eduardo. Além do tiro, entre as suas atividades de lazer cita: “Adoro pescar, viajar, conhecer pessoas e lugares”. Em viagem desde a última quarta-feira, 10, para se preparar para o CAT, a atleta de tiro esportivo nos concedeu esta entrevista via e-mail e nos conta sobre suas conquistas, expectativas, anseios e os passos de sua trajetória no esporte.

O começo e um retorno
 “Comecei a atirar aqui em Rio Grande, depois de casada e por incentivo do meu marido que também atira. Foi por brincadeira, na modalidade trap americano no ano de 1995 e em 1996 já tinha conquistado vários títulos regionais, gaúchos e nacionais, mas por um problema pessoal desisti do tiro no ano seguinte. Passaram-se vários anos e só em outubro de 2009, quando fui acompanhar meu marido em um campeonato no Uruguai, que resolvi atirar novamente. E com isso ganhei a Copa Federativa do Uruguai e, claro, empolgada, decidi retornar de vez”.  

Fossa Olímpica
Com o retorno ao esporte, Gisele optou por treinar na modalidade Fossa Olímpica. Conforme a papareia, é nesta modalidade que o Brasil possui atletas que representam o país em mundiais, panamericanos e olimpíadas. “Não só aprendi muito, como consegui resultados maravilhosos, além das conquistas, até que veio a convocação para integrar a equipe permanente da Seleção Brasileira de Tiro Esportivo”. A data a atleta não esquece: “No dia 26 de junho de 2010”.



São diversas as modalidades de tiro esportivo, porém, apenas três olímpicas. A especialidade de Gisele é a Fossa Olímpica e Tiro ao Vôo. Nesta última, a atleta é a atual Campeã Brasileira, Bicampeã do Mercosul e Bicampeã Mundial. Gisele revela ainda que os treinamentos oficiais são realizados no Rio de Janeiro junto ao técnico da seleção, mas que agora também já pode treinar em Rio Grande. “Isto porque ficou pronta a nossa pedana de Fossa Olímpica, que nos foi presenteada pelo Presidente da Federação Gaúcha, Carlos Scherener”, conta. Com isso, a atleta papareia desenvolve seus treinamentos duas vezes por semana.

Preparação
“A preparação é simples, mas de suma importância para obter um bom resultado nas provas. Procuro dormir bem, no mínimo 8 horas e tenho uma alimentação leve no dia que antecede a prova, pois geralmente são três dias de concentração total, um de treino oficial e outros dois de provas. Procuro ficar o mais relaxada possível para obter o máximo de concentração que este esporte requer, pois é muito fácil se esgotar mentalmente e fisicamente”, relata a atleta, que para reforçar sua concentração procura pensar que sempre é capaz de um novo desafio. “E assim venho me superando a cada competição que participo, sem pensar nas adversárias, pois no momento do tiro só existe um adversário capaz de tirar um atleta da prova: o prato, então, é só nele que me foco, um por vez”.

Perfil
“Não existe um perfil específico, pois conheço pessoas calmas e outras bem agitadas e ambas atiram bem. É o poder da concentração de cada um que vai ser determinante nesta hora. Tem que ter o máximo de concentração, disciplina, visão perfeita e um reflexo muitíssimo rápido, apurado, pois o prato de 11 centímetros de diâmetro é lançado numa velocidade de 100km/h de uma entre as quinze máquinas existentes na Fossa Olímpica e que o atleta não sabe de qual vai sair”.

Questionada sobre o que a difere de suas colegas de dentro da seleção ou mesmo das demais competidoras, Gisele explana: “Existe muita cobrança, precisamos melhorar a cada dia, a cada treino, a cada prova, aí vem a cobrança pessoal também; o que pode ser muito prejudicial, porque quanto mais ansiedade pior ficam os resultados. O que realmente difere um simples atleta do tiro para um campeão do tiro é o lado emocional, tem que se chegar para uma competição sem pensar em nada, sem problemas, focada somente no prato, que vai sair um por um, afinal são 125 pratos que temos que quebrar em 2 dias de competição e um simples prato faz toda a diferença”.

Longe de palpites
“O que deve ser evitado no momento das provas é ouvir palpites, pois tem muitas pessoas que querem ajudar e acabam atrapalhando e tem aquelas que realmente querem atrapalhar, pois estamos falando de um esporte olímpico onde envolve uma vaga, então tem de tudo. O que pode colocar tudo a perder também é o próprio atleta, quando começa a atirar pensando em resultado. Isso é quase a derrota sem ter começado a competição, pois o atleta sai do foco que é quebrar prato, um por vez, para pensar no resultado que ele gostaria de obter”.

Homens
Mulher Interativa: - Como os homens se sentem quando estão diante de uma boa atiradora? Eles se sentem intimidados com o ego ferido? Em algum momento isso representou alguma dificuldade ao teu lado mais feminino?!

Gisele – [risos...] Essa pergunta é muito curiosa e pertinente, pois aconteceu comigo e ainda acontece às vezes. Quando estava começando, tive o apoio de todos e muito incentivo para continuar nesse mundo do tiro, sempre muito pouco divulgado no meio feminino. Mas, depois que comecei a me destacar em provas fazendo resultados parecidos e, por vezes, até melhores veio a inevitável indiferença. Não me tratam mal, mas eu sinto que alguns, não todos, é claro, ficam com seu ego ferido, poxa afinal na cabeça deles um esporte tão masculino, com uma arma calibre 12, com cartuchos de 24 gramas e às vezes 36 gramas, perder para uma mulher... É quase inaceitável para alguns, mas tiro de letra e levo na brincadeira.

Atiradoras
“Observo a vagarosidade do crescimento como em qualquer outro esporte que tenha sido rotulado como masculino, como o futebol feminino, por exemplo, que ainda engatinha perante o vôlei ou o basquete feminino. A situação no tiro é pior ainda. Creio que não existam outras atiradoras rio-grandinas no tiro ao prato e no Estado são muito poucas também. Não conheço muitas brasileiras que estão dispostas a ir para um clube de tiro, colocar um colete, um óculos enorme, fone de ouvidos, boné, montar uma arma calibre 12 e encher os bolsos de cartuchos para atirar em pratos. Porém, fora do Brasil, é muito comum. Quando fui atirar na Europa em maio deste ano, espantei-me com o número de mulheres atirando”.

Olimpíadas de 2012
“O nosso maior inimigo é a ansiedade e a cobrança. Conversei muito com meu técnico sobre isso, pois completei um ano de tiro, e, segundo ele, um atleta para se tornar profissional e pronto na Fossa Olímpica precisa de três anos. Porém, um atleta para ter êxito nunca pode ter pensamentos negativos e também não pode tirar os pés do chão. Sei que vai ser muito difícil, pois não tenho longa experiência e estou engatinhado perto de outras adversárias que tem 10/15 anos de tiro. Mas, foi por pensar que eu era capaz, que venci duas vezes o Campeonato Mundial, sem medo de não ter experiência. Vai ser um grande desafio, mas não coloco como o maior, pois procuro fazer de cada campeonato o mais importante e assim me supero a cada dia”.

Futuro
“Continuar treinando muito, pois temos o panamericano de 2011 em Guadalajara no México, e se eu não conseguir a vaga agora tenho mais quatro chances ano que vem, por isso vou treinar muito. Estou determinada, pois não quero só a vaga para ir: quero ir e ganhar! Este ano de 2010, com minhas vitórias, vou carimbar meu passaporte para Las Vegas (EUA), Pevidém (Portugal), Guadalajara (México) e Lonato (Itália). Essas são apenas algumas das viagens que já estão no meu calendário para 2011”.



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