8 de novembro de 2010

Viagem à Índia


Dizem que quem vai à Índia deve se despir de estereótipos e de imagens pré-concebidas. Afinal, afirmam, ela é infinitamente mais fascinante e complexa do que tudo que assinalam a seu respeito. Num país onde um bilhão de habitantes, vacas (o animal sagrado dos hindus), lixo e ruelas estreitas dão um cenário de final de guerra civil, plantar os pés em seu chão mexe interiormente com seus visitantes.


Tenho uma amiga que já viajou para lá três vezes nos últimos cinco anos. E iria mais. "Na verdade, se eu pudesse, ficaria por lá", disse-me. É dela a história abaixo e minha, a conclusão.



Como milhares de turistas, Mabel (a chamarei assim) foi à Índia com um grupo de pessoas, desses que se reúnem em torno de um objetivo comum de viagem. Passeios e visitas antecipadamente roteirizados não fazem da viagem menos atrativa. Embora, segundo ela, as incursões desgarradas são as mais reveladoras e as que mais marcam a alma do viajante.


Mas ela não estava sozinha, pelo menos não em presença física no episódio que vivenciou, pois em grupo, dirigia-se a um restaurante no final de um dia estafante e que tinha estado quase que inteiramente quente. Mas, àquela hora, por volta de 21h, fazia frio. Tanto que ela chegou a compará-lo ao do Sul.

Enquanto a Van manobrava defronte ao restaurante, Mabel notou que um homem dormia, encolhido pelo frio, na calçada a cerca de 50 metros da entrada. Quando o carro passou por ele, ninguém pareceu notar, ou se ‘tocar’. Ao descerem todos, ela, sentindo-se inconformada pelo fato de estar bem agasalhada e em breve, também desfrutar das benesses que o dinheiro proporciona com uma culinária especialmente elaborada para a ocasião, sentiu muita pena daquele homem.


Enquanto o grupo entrava no estabelecimento, caminhou até o homem e pousou sobre o seu corpo o agasalho que vestia. Embora o xale fosse um de seus preferidos, não pensou duas vezes, aproveitando a situação para exercer o desapego, tão enfatizado no estudo budista.


Mas, o que ela nem poderia imaginar remotamente provável, foi o que aconteceu alguns segundos depois, quando já tinha ensaiado alguns passos para se afastar. Escutando o som de uma voz, voltou-se e viu que ele estava lhe acenando e a agradecendo pronunciando o seu nome no meio da frase.

“Foi uma sensação indescritível e só isso já valeu pela viagem inteira”, relembra.

O fato fez Mabel refletir sobre as viagens turísticas ditas espiritualizadas, onde a maioria está voltada a buscar novas experiências com Deus, mas apenas para si mesma, sem olhos para enxergá-lo no caminho percorrido.

Deus não está no céu. Não está nos templos. Não pertence a religiões nem a dogmas. Deus está em tudo, em todos e em qualquer lugar. E se manifesta nos mais inesperados momentos.

Por: Rosane Leiria Ávila

3 comentários:

  1. Muito inspirador o seu post. Continue nessa linha de pensamento e ajudará a muitos a verem Deus em tudo! :)

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  2. Linda e inspiradora história!!!
    Estou em busca de viagens que me motivem sempre nesse sentido.

    Parbaéns pelo post!

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