2 de julho de 2011

Tic-tac faz o silêncio

Crônica: Gabriel Colombo

É quase noite. Já passou das sete e decidi não me suicidar. 

Para mim, já está bem tarde. Te esperei toda uma semana. E no dia prometido, recebo teu atraso.

Se eu telefono tu não atendes. Se deixo recado, não recebo retorno. 


O que se faz enquanto se espera alguém? Nada, é a primeira ideia. 

A segunda? É sair por aí. Revoltado, esparramado, doido varrido. 


Mas, sabe que nesta espera eu fiz diferente? 

Decidi lacrar as janelas. Olhei para as chaves. Me bateu uma dúvida daquelas; se ficava ou se ia. Recostei-me no meu canto. Ando com medo de corredores escuros. Odeio sala vazia. Pior que fila de banco. 


Fiz uma pausa. Escrevi um poema. Aparei um pouco mais a barba. Tomei outro banho. E bem ridículo, acreditando no clichê, me convenci que “nunca é tarde demais”. 

Seja como for, eu rezo pelo tempo que desapareceremos juntos em algum lugar. 


E tu jogarás ao longe esse meu relógio, que faz um tic-tac mostrando o quanto as horas não passam. 

Podes me levar por terrenos baldios, mas eu gostaria que fosse hoje. Se quiseres me levar de olhos vendados, pensarei para amanhã. Vou considerar tua música ao teu piano. Talvez eu vá... Aflito. Trêmulo. Feliz. 


Acaso eu vá seguir sem ti, me deseja coragem. De tanta inquietude pela tua novidade, fiquei entediado. 

Embaralhando ruídos. Lixando lixa, pintando os pincéis, afiando facas. 

Decidi desarrumar tudo, quebrei duas taças. 

Fui me deitar. Hoje tu não vens, eu sei. 

A paciência é a virtude das virtudes. 

Enquanto eu te invento, tu existes.

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