23 de julho de 2011

Pontos de vista


   

 Tudo ou quase tudo depende do ponto de vista, do ângulo pelo qual se enxerga a situação. É possível encontrar quem pense parecido, mas é quase impossível achar quem seja absolutamente igual. Duas pessoas não conseguem ver do mesmo ângulo, pois dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar, uma das Leis da Física mais conhecidas. Se estiverem lado a lado, enxergarão de modo muito semelhante, porém se estiverem frente a frente – posição comum aos confrontos, verão coisas absolutamente diferentes.


     As percepções são atravessadas pela atenção a certos aspectos, por ênfases escolhidas ao sabor de aspectos subjetivos. Um exemplo indiscutível disso é a percepção de sabor, algo tão difícil de ser descrito que é definido por via das semelhanças, como fazem gourmets, enólogos e baristas. Diante de um sabor novo, se recorre a gostos semelhantes registrados na memória, mas a comparação é arbitrária, provisória e insuficiente.  As diferenças de paladar são das mais evidentes: o que para um adoça, para outro enjoa; o que a um agrada, a outro repugna.
     No campo das palavras, há diferenças que iluminam, esclarecem, acalmam: “como eu nunca tinha pensado nisto?” Surpreende-se aquele que encontra nas palavras do outro um novo caminho para o fluxo de seu próprio pensamento. Que extraordinário é esse novo ponto sobre o qual se consegue apoiar o próprio olhar, redirigindo o fluxo do raciocínio para um caminho mais sensato ou mais inteligente. É essa a forma pela qual funciona e tem efeito uma boa terapia ou um bom terapeuta: estabelecendo novos pontos de vista, ampliando a capacidade de enxergar, construindo pontes mentais que permitem rumos melhores para os pensamentos e para as emoções. Por vezes, uma breve conversa, um encontro casual pode provocar o mágico efeito de melhorar a forma de pensar. Para tal transformação positiva, entretanto, é fundamental que se abaixe a guarda e se permita a mudança mental.

     Discussões e maus entendidos são, via de regra, causados por diferenças de ponto de vista, pela dificuldade de aceitar ou simplesmente suportar outro modo de pensar, de sentir, de reagir. O ângulo pelo qual se toma uma situação tem a capacidade de corrigir, mas também de enviesar as palavras e de distorcer seus sentidos. Dependendo do ponto pelo qual se enxergue, se pode perceber defeito ou virtude. O fiel da balança muda o valor do peso e da medida de quem observa ou avalia.  Por vezes, uma distorção leve, uma suave inclinação é suficiente para aumentar ou diminuir a importância de uma palavra e tem o efeito de vira-la do avesso, invertendo completamente o significado do que foi dito.
     Não é raro encontrar pessoas que usam lente de aumento e lupa para olhar os defeitos alheios, mas tiram os óculos diante dos defeitos próprios ou daqueles a quem amam ou admiram. Olhar com bons ou maus olhos transforma o que se observa, algo bom de ser lembrado diante dos muitos conflitos do cotidiano.

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